Já devo ter evocado nesta coluna o advogado da minha terra que guardava para o meio da apresentação das razões da defesa no tribunal do júri — fossem quais fossem o réu e o crime cometido — a frase tremenda: “Nem tudo é nada nem nada é tudo em matéria de principalmente!“. Ninguém na plateia sabia o que aquilo significava, mas todos os espectadores tratavam de controlar-se para não deslustrar a solenidade do julgamento com uma ovação de comício. A inventiva inversão das mesmas palavras, o prosaico advérbio virando um misterioso substantivo realçado pelo ponto de exclamação, o ritmo empolgante do desfile de consoantes e vogais, a voz de cantor de bolero — tudo conspirava para anunciar que ali estava uma sumidade do mundo jurídico. Foi difícil recuperar-me do impacto provocado pela descoberta de que o falatório não tinha pé nem cabeça.
Pronunciada num hospício, a frase bastaria para que o mais otimista dos psiquiatras desse o caso por perdido. Não pode ter cura um paciente capaz de afirmar que nem tudo é nada nem nada é tudo em matéria de principalmente. Pois a famosa criação do meu conterrâneo não é mais enigmática, e parece bem menos amalucada, que a pinçada no pior repertório de Ruy Barbosa pelo ministro Gilmar Mendes na sessão do STF que decretou a suspeição de Sergio Moro no caso do tríplex do Guarujá — e em todas as bandalheiras protagonizadas pelo Amigo da lista da Odebrecht. Ao enunciar seu voto, o ministro Nunes Marques se amparou em sólidos argumentos jurídicos para provar que a maioria dos colegas estava errada. O Maritaca de Diamantino não gostou da audácia do caçula do tribunal. Já tinha votado, mas reapareceu na telinha para demolir o insurgente com uma lição curta e, sobretudo, grossa.
“Como disse Ruy, o bom ladrão salvou-se, mas não haverá salvação para o juiz covarde“, recitou o magistrado que nunca viu de perto alguma velha e boa comarca. Como é que é?, espantaram-se com a citação do Águia de Haia os espectadores da TV Justiça socorridos por mais de 15 neurônios. O que uma coisa tem a ver com outra? O que há em comum entre o calvário de Jesus Cristo, crucificado em companhia de dois gatunos, e a safadeza urdida para livrar da merecidíssima cadeia um corrupto juramentado? O bom ladrão é Lula? Nessa hipótese, o ator não ficaria mais confortável no papel do mau ladrão, que morreu sem admitir os crimes que cometeu e sem quaisquer vestígios de remorso? O juiz covarde seria Sergio Moro, Pôncio Pilatos ou Nunes Marques? Ou Gilmar Mendes, que entre um pontapé na Constituição e um carrinho por trás na moral e nos bons costumes surrupia da população carcerária outro bandido de estimação?
Se tivesse nascido em Taquaritinga, Nunes Marques dificilmente resistiria à tentação de revidar a insolência com a frase do mesmo quilate: “Nem tudo é nada…”. Seria divertido contemplar o desconcerto de Gilmar. Mas, caso o destino me colocasse nas imediações do ministro piauiense, eu lhe entregaria um papel com a reprodução do recado que passei ao apresentador Jorge Escosteguy durante um Roda Viva estrelado por Orestes Quércia, então governador de São Paulo. Aproximava-se o fim do primeiro bloco quando um integrante da bancada começou a acenar freneticamente para Escosteguy. Ele reivindicava a palavra com urgência urgentíssima.
Atendido, o entrevistador caprichou na expressão enfezada e foi à luta: “Peço licença para fazer uma provocação”, avisou o preâmbulo. Tensão no estúdio. E então veio a pergunta: “Como é que o senhor se sente diante do fato de ser considerado o melhor governador do país?”. Considerado pelo autor da pergunta, claro. Enquanto Quércia tentava disfarçar o entusiasmo provocado pelo tipo de provocação com que sonha todo entrevistado, rabisquei a mensagem ao meu amigo Escosteguy: “Certas demonstrações de covardia exigem mais coragem do que qualquer daqueles atos de bravura em combate que rendem condecoração. É o que acaba de mostrar nosso colega”. É isso que Nunes Marques deveria ter dito na réplica a um provocador patológico. Porque é preciso muita coragem para fazer o que Gilmar anda fazendo.
As demonstrações de pusilanimidade que vem colecionando são tantas e tão temerárias que podem acabar por transformá-lo no mais condecorado herói da guerra contra o combate à corrupção. Só alguém sem medo de ser covarde se atreveria a insultar com tamanha desenvoltura a mais eficaz operação anticorrupção da história. “A Lava Jato é a maior mentira da história do Judiciário“, deu agora de recitar o Juiz dos Juízes. Só um pusilânime intimorato se atreveria a comandar a ofensiva destinada a transformar um magistrado exemplarmente honesto num julgador parcial, e promover a perseguido político um caso de polícia que desonrou a Presidência da República.
O gerentão da Segunda Turma do Pretório Excelso enxerga em qualquer votação um jogo em que só é crime perder. Fora esse pecado mortal, vale tudo: cotovelada no queixo, carrinho por trás, joelhaço no fígado — nada merece punição. Foi por isso que o camisa 10 do Timão da Toga, que vai virar decano com a aposentadoria de Marco Aurélio, encerrou a discussão com o ministro Luís Roberto Barroso berrando o mantra de torcida organizada: “Perdeu! Perdeu!“. O que Barroso perdeu foi a chance de desmoralizar o chilique do oponente com a lembrança de uma verdade endossada pelo olhar sem luz de Gilmar Mendes: melhor perder uma causa do que perder para sempre a vergonha.
Grande Augusto. A exceção do seu xará, os outros dez, são sem dúvida, nos meus 40 anos de advocacia, os piores ministros que já passaram pela corte.. A história se encarregará de lhes cravar esse epiteto. Não pelo conhecimento jurídico, mas pela fraqueza moral e cívica, pela falta de caráter, pela hipocrisia, e acima de tudo, pela até então enrustida vocação ditatorial. Serão lembrados como aqueles que não obstante terem jurado cumprir a Constituição, rasgaram-na em favor de ladrões e antipatriotas..
Assim espero.
Brilhante!!!
Grande MESTRE AUGUSTO.
Acredito que a maior parte dos integrantes do STF se julgam SEMI-DEUSES, com a exceção do GILMAR Mendes.
Este não se julga um SEMI-DEUS.
Ele tem certeza absoluta de ser DEUS.
A nossa CONSTITUIÇÃO não se faz necessária neste OLIMPO do STF.
É só um livrinho que custa baratinho na AMAZON.
Gilmar Mendes (vergonha: será que sabe o que isso?), no cargo que exerce, um Poder da República, que deveria ser o fiel da balança, para toda e qualquer injustiça, pode ser tudo, mas “homem”, “homem”….
Augusto parabéns pelo artigo, mas quero parabenizar-te principalmente pelo programa “Direto ao Ponto”, em que são entrevistadas personalidades que têm sido exemplo na vida pública e modelos a serem seguidos, homens ( e mulheres) públicos que devem ser imitados. Isso é muito importante em um país que carece de líderes verdadeiros. Teu discurso e tua prática são coerentes; não sei se tens intenção de fazer isso, de possibilitar que a audiência se identifique com os entrevistados, mas tens feito!
Augusto, Guzzo, Ana Paula e tantos talentos que compõem essa maravilhosa equipe da revista Oeste nos parabenizam semanalmente com suas narrativas, seus pensamentos e discernimento. Ser assinante da revista Oeste é como ter um oásis para me abrigar no meio de tanto deserto de incertezas e nulidades.
Presidente, está autorizado, fecha logo
Nada constrange o camisa 10 do Timão da Toga. Ali é caso perdido, que só será resolvido quando o referido elemento deixar o clube.
Essa frase que ele falou” perdeu perdeu ” é a mais usada pelos gatunos, assaltantes da pior espécia, se é que existe pior nessa classe.
Os ministros estão enlouquecidos pelo imenso poder.
E essa agora???
Olha o exemplo de El Salvador aí, gente!!!
Ontem sinalizações finais foram dadas, até no Rio Grande do Norte.
2a. Feira voltam-se a trabalhar para pagar os salários de muitos bandidos, presos, soltos e infiltrados nas instituições oficiais, na certeza de que “entidades de trabalhadores, os tais sindicatos falidos, não verão atendido pelo STF, o pedido de lockdow nacional. Aquele sugerido pela comunista Kátia Abreu. Porra, como o MT só nos fornece crápulas, em sua maioria?
Pior que o COVID-19, é ter um poder judiciário terrivelmente doente.
Saído das páginas heróicas de Homero (homem probo de Taquaritingua) como um homem de Plutarco o saúdo por mais esta bela peça talhada e burilada por um mestre artesão. Obrigado
Dizer “você compraria um carro do Moro?” foi outra coisa inaceitável
Do Moro eu compraria, MAS do “supreminho”? Eu nem estacionaria meu carro por perto…
Asqueroso, este é o adjetivo que o define. Fisica e moralmente.
Eu, Luzia Helena, afirmo que ele, além de asqueroso é um verme rastejante …
Só ele, AN? E os demais? Mudam apenas o juridiquês. Abraçados, como amigos para sempre.
Esse GM, vulgo “boca de caçapa”, é um cancer para o país.
Por favor, não ofenda o câncer
Esse cara citar o grande Ruy Barbosa
é um escárnio!!!
Sir. Augusto Nunes como sempre espetacular!
Coitado de Rui Barbosa.
Estamos perdidos (pra não dizer coisa pior) com esse STF. Difícil acreditar que possamos ter um futuro melhor neste país.
O sapo beiçola é um canalha da pior espécie.
De alguma forma o “supremo” organiza seus atos em torno de um livrinho que não é a Constituição. Parabens.
Será que vai dar pra compreender essa minha criação? – O Dilmar lulificou que Mouro é o vilão.
P.S.: 1. (“Dilmar” tem qualidades de Dilma que somente ela entente o que seu neurônio solitário produz e Dilmar lembra o nome de um dos ministros do STF que é um covarde)
2. (“lulificar” – mentir)
O que podemos fazer a não ser pedir a intervenção cívico-militar e prender a maioria desses ministros, pois agora está escancarado que querem derrubar o PR, nem que para isso defequem na Constituição e inviabilize o Executivo.
O General Olímpio Mourão Filho deve estar se revirando na sepultura ao ver tanta covardia de seus sucessores.
Temos que fazer nós. As FAs iriam é “manter isso” tudo. São pela “ordem” (não importa o quanto injusta essa pode ser: e isso é a “alma” do militar). Na última vez, não acabaram com o estatismo e o patrimonialismo brasileiro; pelo contrário, levaram ao extremo tais vícios! De “quebra”, deram “motivos” para a esquerda terminar de afundar de vez o país. Quem pode fazer alguma coisa? We the people…
Com o atual e corrupto time de “juizes” do STF – exceção, por enquanto e até agora, a Nunes Marques – fica difícil imaginar o Superior Tribunal Eleitoral implementando o voto impresso em nossas urnas eletrônicas.
Como perder o quê não se tem?)
Escrevi outro dia um artigo (www.montechiari.com.br) no qual tendo definir o que é o político ideal, além de um morto, claro. A verdade é que o esgarçamento da moral não veio de uma hora para outra. Há 20 anos atrás, ou pouco mais, dificilmente um ministro do STF teria a desfaçatez de se intrometer tão fulminantemente nos outros poderes, sob o risco de um pé-no-traseiro enorme, da imprensa, dos pares, da sociedade… Hoje, o sapo do balde já tá cozido…
Sinceramente: depois deste artigo do Professor Augusto, só resta ao Gilmar pedir a aposentadoria
Não assisti ao capítulo à epígrafe, todavia vislumbro baseado nesta sinopse altamente esclarecedora, que o peso do “medalhão”, símbolo máximo do “garantismo” de um futuro confortável (extensivo aos familiares) deverá se destacar no testamento (com incontáveis “adiantamentos de legítima”) do epigrafado. (sorry, é efeito da caipiroska)
Não bastasse o vírus que afeta o mundo, o Brasil sofre de um câncer terminal causado pela atual composição do STF. De longe a pior que vi em meus 68 anos.
Eu, também, Marcos. Do alto dos meus 70 anos …
Grande Augusto Nunes, diante de tudo que temos assistimos dá para acreditar nas urnas eletrônicas em 2022, sem o VOTO IMPRESSO acoplado às urnas eletrônicas, única forma de AUDITAR e se necessário RECONTAR as apurações ou malversações das urnas eletrônicas? Vamos iniciar urgente divulgação ao público do que é o VOTO IMPRESSO, que recentemente o ex presidente do STF dr. Carlos Velloso demonstrou-se revoltado no artigo publicado em 23/02 no Estadão “Urnas eletrônicas, garantia de respeito ao voto do eleitor”, provavelmente por desconhece-lo ou por má fé, produzindo grave FAKE ELEITORAL para condena-lo.
Considero também importante que o bom jornalismo produza URGENTE matéria revelando qual a letalidade ocorrida com os pacientes internados por COVID nos hospitais privados, incluindo a PREVENT SENIOR, defenestrada por Mandetta, e nos hospitais públicos e de campanha que receberam vultosos recursos do Governo Federal para atendimento à COVID.
Ouvi entrevista do dr. Paulo Chap Chap dir. geral do Sírio Libanês, em Março na BandNews, que demonstrou como conseguiu a baixa letalidade de 4% para os internados em geral, e de 12% para os casos graves em UTI com ventilação mecânica, que surpreendeu até entidades internacionais. Ora, se outros hospitais privados conseguiram aproximada baixa letalidade, por que não comparar à atingida pelos hospitais públicos, especialmente no Estado de São Paulo que esta entre os Estados com maior letalidade, sabendo que em SP encontramos o maior centro de referência médica e hospitalar da América Latina? O dr. Paulo Chap Chap disse que para essa performance contratou mais de 700 profissionais da saúde, abriu mais de 100 leitos e nesse período internou mais de 3500 pacientes. Recomendo ouvir essa entrevista.
Augusto, poderíamos concluir com tão importante matéria quem mais são “genocidas” em nosso pais, para levar a senadores sérios e honrados que possam introduzir nessa CPI ELEITORAL DA PANDEMIA do RANDOLFE?
Esta atual composição do STF é uma das maiores desgraças que já ocorreu ao Brasil.
Desculpa, William, mas isso se deve à forma como os chamados “ministros” do STF são indicados. Para início de conversa, não deveriam ser indicados mas ELEITOS para a posição pelo voto do conjunto de juízes de carreira. E só deveriam ser eleitos JUÍZES de carreira com pelo menos cinco anos no cargo. E mais: o mandato no STF deverias ser limitado a cinco anos, sem possibilidade de retorno. Findos os cinco anos voltariam para o cargo anterior que ocupava no Judiciário. Nada de mandato vitalício.Os senadores e deputados são os responsáveis pela situação atual, portanto cabe a êles resolverem a questão. Não o fazem por interesses inconfessáveis.
Acompanho o relator.
Pleno acordo. E digo mais, para passar da primeira para a segunda instância (desembargadores) precisariam um bom tempo como juízes de primeira que entram na magistratura por concurso público. E assim sucessivamente, para ser nomeado ministro de STJ, teriam que ter passado um tempo mínimo na segunda instância. E assim até ocupar um cargo no STF. A experiência, a conduta ilibada deveriam contar ponto para essa escala de ascenção. Com a proibição de que tenham qualquer ligação pessoal com escritórios de advocacia. E em tendo, ser afastado dos casos onde esses escritórios tenham interesse.
PERDOE-ME, JOSE, MAS OS MANDATOS NAO SAO “VITALICIOS”, PERDURAM ATE A IDADE MAXIMA DE 75 ANOS…
VITALICIOS SAO OS MANDATOS DOS JUIZES DA SUPREMA CORTE NORTE AMERICANA QUE ENCERRAM COM A MORTE DO MAGISTRADO…
O QUE EU ENTENDO E QUE ESTE NAIPE DE JUIZES DEVERIA SER SUBMETIDO A UMA SERIE DE REGRAS PARA SEREM GALGADOS A MAIS ALTA CORTE.
NAO DEVERIAM SER INDICADOS POR ALGUEM.
Falou pouco e disse tudo. Brilhante concisão.
Texto magistral.
Vergonha? É algo que Gilmar não tem mesmo, Sr. Augusto. Já passou da hora de as Forças Armadas intervirem nessa ilha de ineficiência.
Augusto Nunes. Sempre brilhante em seus argumentos , parabéns, pena que tem poucos iguais a vc 🇧🇷