A médica e o monstro

Arlete Pacheco 04 jun 2021 às 15:11

A DOUTORA NISE YAMAGUCHI, DURANTE O DESENROLAR DO CIRCO DE QUINTA CATEGORIA, DENOMINADO ERRONEAMENTE DE CPI DEMONSTROU, À SACIEDADE, A SABEDORIA DE UM VELHO DITO POPULAR, SEGUNDO O QUAL “EDUCAÇÃO VEM DO BERÇO”! COM VOZ PAUSADA E SUAVE RESPONDEU ÀS BOBAGENS QUE ERAM VOMITADAS POR CERTOS PASPALHÕES, QUE SE ATRIBUEM UMA IMPORTÂNCIA QUE NÃO TÊM E UM RESPEITO QUE NÃO MERECEM!!! CONFESSO QUE NÃO TENHO ESSA FINESSE! EM SEU LUGAR TERIA ME RETIRADO, NÃO SEM ANTES DIZER, MESMO QUE FOSSE AOS BERROS, TUDO QUE ESTAVA PENSANDO A RESPEITO DELES, ASSUMINDO AS CONSEQUÊNCIAS DOS MEUS ATOS!

Eleandro Machado 04 jun 2021 às 12:06

O aplauso à barbárie

Humberto Costa foi alcunhado como “Drácula” na lista de propinas do Departamento de Corrupção da Odebrecht.
Justiça seja feita: o senador, ex-ministro da Saúde da Era PT, não merece carregar essa honraria sozinho.
Omar Aziz, Renan Calheiros e Otto Alencar têm, sim, lugar na mesma galeria vampírica.
Todos são discípulos de Vlad Tepes, o Conde Drácula.
Ocorre que, ao contrário do mitológico personagem de Bram Stoker – afinal, um ícone ficcional antigo – nossos senatores romanus não vagam pelo universo alvissareiro da arte.
Antes fosse esse o caso. Infelizmente, não é.
Embora tão antigos quanto o mestre, mas, ao contrário dele, Aziz, Calheiros e Alencar continuam em atuação.
Firmes e fortes, encastelados na fria Transilvânia da corrupção pesada nacional, operam de forma sistêmica, orgânica, impune.
E há anos. Anos de meu Deus…
Quando apanhados, conseguem se safar via recursos, entrega do tema aos tribunais políticos de Brasília. Contratação de caríssimas bancas advocatícias é uma recorrência comum. Manobras e chantagens, extorsões e safadezas, também.
Tudo isso por meio daquilo a que o povo – o verdadeiro – não tem acesso. E tudo, claro, pago com parte do próprio dinheiro roubado do erário.
Digamos que se trate de um negócio que não tem como ir à falência.
Ocorre que, na outra face dessa imundice, o povo. Dona Maria, por exemplo: faxineira de segunda à sexta, desesperada, suplica por atendimento médico ao neto, motoqueiro, fratura exposta, acidentado desde ontem à noite, sangrando insistentemente pelas narinas, o rapaz de 22 anos, jogado, ali, no corredor imundo de um hospital público de uma periferia qualquer. Sujo, urrando de dor. O filhinho, em casa, com fome. O celular sem bateria e sem crédito.
É o momento em que todas as roubalheiras de Aziz, Calheiros e Alencar se tornam, digamos, materiais. É na falta do esparadrapo, no atraso do médico traumatologista, na brutalidade do enfermeiro, na truculência do segurança, na sujeira do corredor, no pneu furado da maca, que se encontram os resultados concretos das mãos sujas de sangue de nossos Vlads Tepes.
Acaso, todavia, as esposas, as filhas e as netas de nossos vampiros queiram fazer plásticas nos pequenos lábios vaginais, elas e também as amantes deles, terão, à disposição, o Sírio Libanês, o Albert Einstein, a Rede D’Or. Tudo – rigorosamente tudo – custeado pela imensa carga tributária paga pela dona Maria, a avó do motoqueiro acidentado.
E, nesses centros de excelência médica, não haverá falta de esparadrapo, o médico traumatologista e sua equipe estarão a postos meia hora antes, o enfermeiro será delicado, os seguranças guardarão a entrada, restringindo os acessos, o corredor, decorado com motivos que remetem à pureza, estará impecável e é evidente que o pneu da maca não estará furado.
Eis, vale frisar, o resultado prático das mãos sujas de sangue de nossos Vlads Tepes.
Vampiros que, agora, desesperada, a Imprensa Velha Moribunda, a IVM (Globo, Estadão, Folha de São Paulo, Veja, IstoÉ e congêneres de menor importância) alicia para o serviço da “vampiragem”.
É sempre assim: os “puros” não põem suas mãos no sangue. Contratam os sujos.
E os sujos cercam mulheres. E as agridem. E as humilham. Pisoteiam.
Nise Yamaguchi é apenas a vítima mais recente. Não foi a primeira. Não será a última.
E, então, os vassalos da Imprensa Velha Moribunda, a IVM, extasiados com a excelência de resultados de dor e de sangue, com o espetáculo de tortura, com o Tribunal de Exceção, se colocam de pé e, agradecidos a seus operativos dráculas, os aplaudem:
Fernanda Montenegro, pisoteando em livros, aplaude.
Caetano Veloso aplaude.
Lázaro Ramos e Taís Araújo aplaudem.
Daniela Mercury aplaude.
Gilberto Gil aplaude.
Chico Buarque aplaude.
Wagner Moura aplaude.
Maria Bethânia aplaude.
Anitta aplaude.
Xuxa aplaude.
Luciano Huck aplaude.
A barbárie aplaudida.
A barbárie aplaudida por aquilo que se pretende arte.