Duzentas mil crianças na Inglaterra não foram à escola na última semana de junho. Isso significa uma em cada dez crianças em casa, fora da sala de aula. Sete mil escolas fecharam por completo, e todos os alunos foram mandados para casa. No entanto, quase nenhuma dessas crianças está doente. E apenas uma pequena parcela delas — 9 mil — de fato testou positivo para covid-19. São crianças totalmente saudáveis que foram mandadas para casa apenas porque talvez tenham entrado em contato com alguém, provavelmente outra criança, que testou positivo. Turmas inteiras, anos inteiros e até escolas inteiras contam com “bolhas”, e, se o teste de uma única criança tiver dado positivo para covid-19, o grupo inteiro deverá ficar em isolamento por dez dias.
No momento que a vida está, aos poucos, começando a voltar ao normal para muitos adultos, as crianças continuam sendo feitas reféns das regras absurdas e excessivas sobre a covid-19. Que tantas crianças estejam em prisão domiciliar, é inadmissível. Que isso venha logo após elas terem tido 15 meses de escolarização prejudicada — e 15 meses de vida arruinados — pelo lockdown, é simplesmente escandaloso. Quando o ministro do gabinete do governo britânico Michael Gove foi “rastreado” pelo aplicativo Teste and Trace (teste e rastreio) do NHS, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, depois de uma viagem a Portugal, ele foi parar em um esquema piloto em que testes regulares substituíram a necessidade de isolamento. Aqueles que tiveram a sorte de conseguir tirar férias fora do país podem pagar pelo programa Test to Release (teste para ser liberado) depois de cinco dias de quarentena. Mas não as crianças. Estudantes sem nenhum vestígio do vírus precisam cumprir uma pena completa de dez dias. E, para um número cada vez maior deles, isso aconteceu mais de uma vez.
O dano causado pelo isolamento forçado não pode ser menosprezado. Os pais precisam se afastar do trabalho, o que, para alguns, significa não ser pagos por quase uma quinzena. Obviamente, todos os pais sabem que vão faltar ao trabalho quando os filhos ficam doentes. Mas não por dez dias de uma vez quando a criança não tem absolutamente nada. Enquanto isso, professores terão planejado aulas e atividades que não vão mais funcionar se as crianças não estiverem em sala de aula.
Estamos brincando de roleta-russa com a vida das crianças
Acima de tudo, o isolamento é desastroso para as crianças. Elas perdem na formação. O primeiro lockdown nos ensinou que o Zoom não é um substituto para a sala de aula. As crianças ficaram para trás no aprendizado — e aquelas que vêm de famílias mais pobres sofrem mais do que todas. Agora deveríamos estar ajudando as crianças a recuperar o tempo perdido. Mas, como um relatório publicado pelo Center for Social Justice deixa claro, “as crianças não conseguem recuperar o que foi perdido se elas não estiverem lá”. Não menos importante, as crianças que são forçadas a se isolar não podem ver os amigos. Elas perdem eventos esportivos, excursões escolares, shows, festas de fim de ano, atividades extracurriculares e brincadeiras. Todas essas coisas que compõem uma infância normal e feliz estão sendo negadas a milhares de jovens.
Defensores querem mais apoio profissional de saúde mental para as crianças, mas um primeiro passo (e muito mais barato) seria deixar a vida das crianças voltar ao normal. Apesar de mais de quatro em cada cinco adultos já terem recebido a primeira dose da vacina contra covid-19, e mais de 60%, as duas doses, as crianças ainda enfrentam enormes barreiras à normalidade.
Espera-se que estudantes do ensino secundário britânico façam testes de covid-19 pelo menos duas vezes por semana, um procedimento invasivo realizado em seu próprio quarto. A precisão dos exames usados pelos adolescentes também foi posta em xeque. A BMJ, empresa responsável pela publicação de textos e artigos médicos, relata que metade de todos os resultados positivos pode ser falsa, o que significa que “metade das crianças, dos professores, das famílias e de suas bolhas que tiveram de se isolar nesta semana o fez desnecessariamente”. Crianças doentes não deveriam estar na escola, mas sabemos que a covid-19 representa um risco insignificante para os mais jovens. No momento atual, quase todo adulto com que uma criança entra em contato terá sido vacinado. E daí se o teste de covid-19 das crianças der positivo? É improvável que elas fiquem doentes, e os adultos vulneráveis para quem elas possam ter passado o vírus agora estão protegidos. Precisamos parar com esse regime louco de testagem.
Estamos brincando de roleta-russa com a vida das crianças. Isolar grupos de estudantes inteiros por causa de um exame positivo significa que as crianças não sabem mais o que vai acontecer de um dia para outro. Está animado com o evento esportivo da semana que vem? Não se empolgue demais. Alguém do mesmo ano que você pode testar positivo na mesma manhã, e o evento pode ser cancelado. Está gostando das aulas de história? Não se acostume. Dê uma olhada nos e-mails na noite anterior, talvez você fique em casa pelo resto da semana.
No decorrer desta pandemia, o risco que as crianças representam para as pessoas vulneráveis foi exagerado repetidas vezes. Precauções foram implantadas não para proteger as crianças, que nunca foram seriamente ameaçadas pela covid-19, mas para tranquilizar adultos preocupados e líderes dos sindicatos de professores que não se importaram em brincar de política com as oportunidades da vida das crianças. As crianças sacrificaram tanta coisa.
A nomeação de Sajid Javid como o novo secretário de Saúde britânico, depois da saída de Matt Hancock, nos dá a oportunidade de mudar de rumo. Então, por favor, Sajid Javid, pare de testar e isolar as crianças. Precisamos acabar com as bolhas das escolas e tirar as máscaras dos corredores escolares e das salas de aula. Com tantas pessoas vacinadas e protegidas agora, nossas crianças merecem uma chance de normalidade. O Dia da Libertação, quando ele finalmente chegar, precisa significar libertação para as crianças também.
Leia também “A tirania dos passaportes de vacina”
Joanna Williams é colunista da Spiked e diretora da Cieo, onde publicou recentemente How Woke Conquered the World.
Ótimo artigo e imagem impactante, perfeita.
Excelente texto. Parabéns.
Sensacional! Perfeito!
Nunca pensei que um dia veria crianças serem sacrificadas em prol dos velhos.
Ótimo artigo, Joanna.
Eu me pergunto muito se será possível correr atrás de todo esse tempo perdido, pois sabemos que a educação é a peça chave para o desenvolvimento de um país.
Infelizmente, o que vejo, é um grande retrocesso e muito oportunismo.
Uma pena!