Por 600 dias, a imprensa brasileira divulgou os números da covid-19 no Brasil e no mundo olhando mais atentamente para o lado negativo. Os milhares de seres humanos que venceram a doença foram relegados a segundo plano. Mereceram destaque os milhões de contaminados. Em vez de lembrar que crianças, jovens e adultos saudáveis se recuperavam sem maiores danos, o jornalismo cinzento manteve o foco nos idosos, pessoas com comorbidades e casos excepcionais. A cada 100 mil, 400 mil, 600 mil brasileiros mortos em consequência da pandemia, as cifras eram exibidas em manchetes com letras garrafais ou anunciadas com voz especialmente soturna nos telejornais.
“Quanto mais alto o número, maior a alegria nas redações, secreta ou sem disfarce”, lembra J.R. Guzzo. “’Yesssss!’, exultava-se intimamente, a cada vez que os números produzidos pelo ‘consórcio’ batiam recordes — diários, mensais, quinzenais, nos dias ímpares, nos dias de chuva, nas vésperas de feriados, nos dias santos e por aí afora. Era sinal, então, que a covid continuava a toda.” A exaltação das cifras perturbadoras foi diminuindo na mesma proporção em que despencava a quantidade de mortes e contaminações diárias, hoje escondidas num canto de página.
As praias e os estádios lotados, os bares e restaurantes com capacidade máxima e a retomada de atividades culturais avisam que a vida voltou — quase completamente — ao normal. E Oeste faz questão de estampar a boa notícia na capa. A reportagem de Paula Leal e Fábio Matos mostra que a segunda onda da covid-19 chegou ao fim no Brasil. É claro que, como tem ocorrido na Europa, uma terceira pode chegar. Mas agora o que merece destaque é o momento extremamente animador. O coronavírus veio para ficar, mas em níveis toleráveis. É preferível conviver com o inimigo a insistir em métodos tão radicais quanto ineficazes. O lockdown, por exemplo.
Enquanto a pandemia melhora, outros problemas vão de mal a pior, como a qualidade das declarações de ministros do Supremo Tribunal Federal. Em Lisboa, Dias Toffoli confessou outro pontapé na Constituição: “Nós já temos um semipresidencialismo com controle de Poder Moderador, que hoje é exercido pelo Supremo Tribunal Federal. Basta verificar todo esse período da pandemia”. Como lembra Silvio Navarro, o Poder Moderador, exercido pelo imperador, só existiu entre 1824 e 1889, quando a Proclamação da República decidiu que haveria somente três Poderes, iguais e independentes. Segundo Toffoli, o atual Supremo não tem ministros. Tem herdeiros de Dom Pedro II.
Boa leitura.
Branca Nunes
Diretora de Redação
Em 12/11 pp o repórter Dagomir publicou matéria comentando sobre o novo prefeito de Nova York e dizendo que ele é do Partido Republicano. Está errado. Vários assinantes reclamaram e pediram uma errata. Nada aconteceu. Prevaleceu a soberba.
Parece que as palavras em Nosso Pacto são só palavras. É uma pena.
Os togados bateram a carteira dos militares e tomaram a responsabilidade da moderação de conflitos, usurpando mais uma vez a constituição surrada e maltratada do Brasil.
Os sinistros números festejado nas redações eram instantaneamente atualizados nas plaquinhas que Renan e Randolfe exibiam como argumento tão definitivo quanto um julgamento de Nurenberg. E vibravam. E excitavam as simones, elimines, leilas e, claro contaratos, otos e humbertos. Os médicos e cientistas que não foram chamados e mesmo no caso da Dra. Maira e Dra. Nise, se tempo dispusesse poderiam buscar naquelas plaquinhas fúnebres os números de mortos provocados pela própria CPI, ao negar e criminalizar o tratamento precoce.
Que enorme prazer ler essa revista! Parabéns!!!
Me lembrei quando João Doria, antes de 7 de setembro de 2020(ano passado), feriado prolongado, gritava em suas aparições diárias assustando os paulistas dizendo “no feriado prolongado milhares de paulistanos encontrarão a morte se descerem para a baixada santista”. A ptoniza(vidente) Doria errou porque as praias ficaram cheias e a covid começou a diminuir em São Paulo. Isso deixou o clarividente Doris um negrividente. Esse cara é piada.
Prezada Branca,
Só faço uma ressalva: durante o período em que a constituição de 1822 estava em vigor, até o tal fatídico “Dia da Infâmia”, concretizado pelo golpe militar de 1989, o quarto poder, ou também assim chamado de “Poder Moderador”, era um dispositivo constitucional que servia exatamente para trazer a harmonia entre os três Poderes – diga-se, já naquela época, iguais e independentes. Dizer que os supremos ministros são “herdeiros” de Dom Pedro II, mesmo que ironicamente, entendo, na minha humilde opinião, denigre a imagem do último imperador do Brasil; talvez aquele que tenha sido o maior brasileiro que já existiu até hoje. Vamos usar o português claro: os supremos ministros não passam de advogados medíocres que falam asneiras diariamente e são levados a sério por tantos outros medíocres, ou dissimulados.
Oeste se diferencia dos demais “veículos de comunicação” pelos textos em português impecável, pelas informações precisas e imparciais, pelos colunistas que escrevem com ideias próprias e porque é isenta do medo de ser feliz. Parabéns a todos.