Diretores de escola enfrentam muitos desafios. Como manter as escolas funcionando normalmente quando existe cada vez mais pressão para reintroduzir máscaras e distanciamento social. Como ajudar as crianças a recuperar o ritmo de aprendizado depois da interrupção causada pelo lockdown e pelo fechamento das escolas. Como equilibrar as contas depois de dez anos de cortes no orçamento. Mas Samantha Price, diretora da exclusiva Benenden School, em Kent, na Inglaterra, e presidente da Associação de Colégios para Meninas, está incomodada com algo totalmente diferente. Sua maior preocupação é que as crianças estejam sendo menosprezadas como woke — defensoras das pautas identitárias.
Price afirma que alguns pais estão “profundamente incomodados” com questões como identidade de gênero. Mas, em vez de se solidarizar com as preocupações dos pais, ela teme que esses pais possam questionar seus filhos. Eles podem não reagir bem, por exemplo, se suas filhas voltarem da escola para casa declarando que sua identidade de gênero está indefinida. Acima de tudo, Price quer que os coordenadores de escola desafiem qualquer um que menospreze a geração mais jovem como woke.
Samantha Price argumenta que, em vez de criticar as crianças e os jovens, os adultos precisam acompanhar a programação woke. Para ajudar, diz ela, “as escolas devem organizar conversas com os pais sobre inclusão, diversidade e gênero para que eles possam compreender a ‘linguagem’ da nova geração”. Mas essa não é a questão. Os críticos dos valores woke — sobre gênero, raça ou sexualidade — não precisam de ajuda para entender o vocabulário. O fato é que eles discordam fundamentalmente das ideias.
Price e outros educadores veem essa juventude como “salvadora” de uma geração mais velha e politicamente retrógrada. Mas argumentar que os adultos precisam calar a boca e aprender com suas crias woke é um insulto aos pais. Supõe-se que os pais sejam indiferentes aos problemas da sociedade e não saibam o que é melhor para seus próprios filhos. Pior ainda, o mantra “aprendam com as crianças” questiona o significado da vida adulta e prejudica a relação entre pais e filhos. E, apesar de os comentários poderem soar preocupados com a infância na superfície, colocar as opiniões delas acima de qualquer crítica é condescendente. Se formos levar a próxima geração a sério, não podemos ter medo de sujeitar suas crenças à crítica e à contestação.
As escolas estão oferecendo formações cada vez mais explicitamente políticas em uma vasta gama de questões
Além disso, a ideia de que estamos em meio a uma guerra intergeracional entre jovens descolados e adultos egoístas de direita está totalmente errada. Visões políticas não se encaixam perfeitamente em prateleiras de idade. Nem todos os adolescentes são woke, enquanto muitos adultos claramente o são. E as crianças raramente se alinham com essas questões por conta própria. Em se tratando de questões de identidade de gênero, as crianças captam ideias divulgadas pela mídia, por celebridades, por influenciadores e por pais e professores.
As próprias escolas muitas vezes podem ser uma fonte dessas crenças. As escolas estão oferecendo formações cada vez mais explicitamente políticas em uma vasta gama de questões. Algumas usam recursos educacionais desenvolvidos por grupos de ativistas, como o Stonewall, para ensinar as crianças sobre questões trans. Outras chegam a permitir que as crianças mudem de gênero contra a vontade dos pais. É por isso que Price está errada em sua afirmação principal: as crianças não são rotineiramente desafiadas por adotar valores woke. Ao contrário, elas costumam ser elogiadas e celebradas quando repetem essas opiniões para os adultos.
As preocupações de Samantha Price sobre as crianças serem chamadas de woke são reveladoras. “Acredito que, se forem consistentemente menosprezadas dessa forma, o que vai acontecer é que elas vão desistir”, diz ela. Em outras palavras, Price teme que as crianças possam abandonar os posicionamentos políticos que ela mesma defende. E, se de fato desistirem, “provavelmente não veremos o nível de progresso na sociedade — da sustentabilidade por meio da igualdade — que acho que temos a oportunidade de ver e defender agora se a nossa geração lidar com isso de forma efetiva”. As crianças se tornaram pouco mais que uma espécie de exército cenográfico útil para adultos woke ignorarem a democracia e promoverem suas próprias pautas. E agora esse exército cenográfico precisa ser protegido das críticas a todo custo.
Crianças fantoches
É conveniente para Price criticar uma “geração mais velha” que optou por “fechar sua mente para ideias novas”. Falar sobre uma batalha geracional mascara os interesses de classe que estão no cerne de boa parte do pensamento woke. Esses valores servem bem à elite. Eles permitem que seus membros se considerem moralmente superiores e justifiquem seu próprio status elevado. E dão às elites permissão para intervir em praticamente todos os aspectos da vida das outras pessoas, seja com conselhos para a criação dos filhos seja por meio de sessões de treinamento sobre diversidade. Então não chega a surpreender que o apelo para proteger as crianças woke venha da diretora de um colégio que cobra até 40 mil libras anuais — mais do que muitas pessoas ganham por ano no Reino Unido. Crianças privilegiadas estão sendo formadas nos valores que melhor servem à sua classe.
A beleza do woke para seus principais defensores, como Samantha Price, é permitir que eles promovam sua agenda política enquanto negam qualquer envolvimento com um projeto político. O woke, diz Price, “no fim das contas se resume a algo bastante simples: ser gentil”. Ainda que, como vimos no tratamento dispensado a figuras como a escritora J. K. Rowling ou a filósofa Kathleen Stock, esses ativistas possam rapidamente abrir mão da gentileza se ela entrar em conflito com seus objetivos.
Longe de serem objeto de zombaria, com muita frequência crianças ativistas são exaltadas como corajosas e radicais. Ativistas adultos estão explorando essas crianças transformando-as em fantoches de seus próprios posicionamentos políticos — e pedindo que elas sejam protegidas sempre que esses posicionamentos são criticados.
As crianças merecem mais do que serem tratadas como porta-vozes da ideologia woke.
Joanna Williams é colunista da Spiked e diretora da Cieo
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A filosofia “woke”ou ideologia identitária, alcançou muitos docentes durante a era petista em formações continuadas pelo país inteiro na últimas décadas. Muitos destes docentes estão entusiasmados para levar essa filosofia adiante porque ela supostamente apregoa a liberdade, a inclusão e a igualdade, mas não passa de um autoritarismo da subjetividade sobre a vida humana racional e biológica. Apenas algumas escolas confessionais e talvez as escolas militares não trabalhem com a imposição da filosofia identitária no seu aspecto totalitário.
Como o mundo está cheio de pessoas idiotas, imbecis. Ainda bem que não tenho filhos.
Situações – e pessoas- como estas, além de flertarem com caminhos demoníacos, são de uma falta de inteligência insuperável.
UÉ!! Tive meu comentário retirado/censurado?! Essa revista é mais do mesmo… cancelando assinatura! vocês são WOKE! FATO!
Pois é! Meu filho está chegando na idade escolar e eu enfrento essa dificuldade de encontrar uma escola que lhe dê educação acadêmica sem essa militância “do bem”!
Não precisa ir longe, basta buscar conhecimento com honestidade. Toda criança vai percebendo isso. As leis da natureza não tem retórica
Como fugir destas escolas? Esse ativismo tem aparecido disfarçado de bondade, empatia. Percorri muitas escolas com meu filho, mas o trabalho de cortar esses ideais é árduo e continuo.