Uma comissão internacional com 56 especialistas em obesidade apresentou, nesta terça-feira, 14, novas diretrizes para o diagnóstico e o tratamento da doença. As recomendações foram publicadas na revista científica The Lancet. O documento questiona o protagonismo do Índice de Massa Corporal (IMC) e propõe medições mais precisas, como percentual de gordura e circunferência abdominal.
A revisão também introduz as categorias de obesidade “clínica” e “pré-clínica”, estabelecendo prioridades de tratamento. A doeça acomete dois a cada cinco brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde.
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Além do IMC, o diagnóstico deve incluir medições como relação cintura-quadril e métodos como densitometria óssea (Dexa). A comissão recomenda estratégias individualizadas, levando em conta os contextos regionais.
O problema do IMC
O IMC, amplamente utilizado desde os anos 1970, é criticado por não refletir diretamente a distribuição de gordura ou condições de saúde individuais. Segundo os pesquisadores, a métrica deve ser restrita a estudos populacionais ou triagens iniciais.
Atualmente, o sobrepeso é definido por IMC acima de 25 e a obesidade, por valores superiores a 30. O novo modelo incorpora 18 critérios clínicos para adultos e 13 para crianças, visando a identificar sinais de agravamento da saúde devido ao excesso de peso.
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Para calcular o IMC, basta dividir o peso pela altura ao quadrado. Os resultados são os seguintes:
- abaixo do normal: menor ou igual a 18,5 kg/m²;
- normal: de 18,6 a 24,9 kg/m²;
- sobrepeso: de 25 a 29,9 kg/m²;
- obesidade grau 1: 30 a 34,9 kg/m²;
- obesidade grau 2: 35 a 39,9 kg/m²; e
- obesidade grau 3: maior ou igual a 40 kg/m².
Nova categorização de obesidade prioriza casos graves
Os especialistas defendem que a obesidade clínica, marcada por riscos elevados, seja tratada com urgência, enquanto a pré-clínica receba estratégias de prevenção. O relatório reforça que considerar a obesidade apenas como fator de risco compromete políticas públicas eficazes.
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Entre os critérios de gravidade para adultos estão apneia do sono, hipertensão, insuficiência cardíaca, esteatose hepática e dificuldades nas atividades diárias. Para crianças, fatores como alterações metabólicas, problemas respiratórios e deformidades ósseas são destaque.
A publicação, apoiada por 75 entidades médicas, reúne especialistas de áreas como endocrinologia, cirurgia e nutrição, além de pacientes com obesidade.
Os novos critérios
Adultos:
- Sinais de aumento da pressão intracraniana, como perda de visão e/ou dores de cabeça recorrentes;
- Apneia/hipopneia durante o sono;
- Falta de ar e/ou chiado;
- Insuficiência cardíaca;
- Fibrilação atrial crônica;
- Hipertensão arterial pulmonar;
- Fadiga crônica;
- Trombose venosa profunda recorrente e/ou doença tromboembólica pulmonar;
- Aumento da pressão arterial;
- Altos níveis de triglicerídeos e baixos níveis de colesterol HDL;
- Esteatose hepática não alcoólica;
- Microalbuminúria com redução da TFG (taxa de filtração glomerular);
- Incontinência urinária recorrente/crônica;
- Ausência de ovulação, alteração do ciclo menstrual e síndrome dos ovários policísticos;
- Hipogonadismo masculino;
- Dor crônica e intensa no joelho ou quadril associada à rigidez articular e redução da amplitude de movimento articular;
- Linfedema nos membros inferiores causando dor crônica e/ou redução da amplitude de movimento; e
- Limitações das atividades do dia a dia.
Crianças e adolescentes:
- Perda de visão e/ou dores de cabeça recorrentes;
- Apneias/hipopneias durante o sono devido ao aumento da resistência das vias aéreas superiores;
- Falta de ar e/ou chiado;
- Aumento da pressão arterial;
- Conjunto de hiperglicemia/intolerância à glicose com perfil lipídico anormal (níveis elevados de triglicerídeos ou colesterol LDL alto ou colesterol HDL baixo);
- Aumento das enzimas hepáticas devido à doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica microalbuminúria tenal;
- Incontinência urinária recorrente/crônica;
- Síndrome dos ovários policísticos;
- Dor recorrente/crônica ou tropeçar/cair devido a pé plano ou mau alinhamento das pernas;
- Dor recorrente/crônica ou limitação de mobilidade devido adistúrbio assimétrico da tíbia que causa deformidade;
- Dor aguda e/ou recorrente/crônica, ou limitação de mobilidade, ou tropeçar/cair devido a epífise capital femoral escorregada; e
- Limitações das atividades do dia a dia.