Em 2014, um som apelidado de “biotwang” foi ouvido pela primeira vez, vindo da Fossa das Marianas — o local mais profundo dos oceanos, próximo das Filipinas. O som é descrito como um grunhido, seguido de um eco agudo, e dura entre dois e três segundos. Os cientistas não haviam identificado nada parecido até então.
Em 2016, pesquisadores da Oregon State University, nos Estados Unidos, cogitaram que esse som poderia ser um novo tipo de canto de baleia. Agora, dez anos depois, cientistas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica reanalisaram os sons, combinando dados de pesquisa visual e acústica, e atestaram que os sons são produzidos por baleias-de-bryde.
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Identificar a origem de sons no oceano é uma tarefa desafiadora, pois exige que o animal seja flagrado enquanto o ruído é captado. Segundo a oceanógrafa Ann Allen, da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA), isso leva “tempo, esforço e uma boa dose de sorte”. Foi o que aconteceu com a equipe liderada pela pesquisadora.
Enquanto estudava baleias nas Ilhas Marianas, o grupo viu exemplares da rara espécie baleia-de-Bryde em dez ocasiões diferentes. Em nove delas, o “biotwang” foi ouvido. “Uma vez, é coincidência. Duas vezes é casualidade. Nove vezes, é definitivamente uma baleia-de-Bryde”, afirma Allen.
Som da Fossa das Marianas foi analisada por IA
Identificada a fonte do barulho, a equipe passou a revisar o acervo de áudio de captadores de som subaquáticos, coletados ao longo dos últimos dez anos, para descobrir onde esse som já havia sido ouvido. No entanto, o banco de sons contém mais de 200 mil horas dessas gravações, tornando a tarefa humanamente impossível.
É neste momento que o time de pesquisadores firmou uma parceria com a gigante da tecnologia Google. A empresa forneceu ferramentas de inteligência artificial para treinar algoritmos capazes de identificar o “biotwang” em meio às centenas de milhares de gravações.
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“Usamos uma combinação de métodos de anotação manual e de aprendizado de máquina para encontrar o som em nossos extensos conjuntos de dados históricos de monitoramento acústico coletados no Pacífico Norte, Central e Ocidental”, explica o estudo, publicado na revista Frontiers in Marine Science.
Os pesquisadores tentam agora entender o motivo para as baleias de Bryde emitirem os sons chamados de Biotwangs. “É possível que eles usem o biotwang como uma chamada de contato, uma espécie de ‘Marco Polo’ do oceano”, disse Allen. “Mas precisamos de mais informações antes de podermos dizer com certeza.”
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