Empresa canadense utilizou ferramenta de inteligência artificial para alertar sobre existência do vírus
Criada por Kamran Khan, professor de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Toronto, no Canadá, a empresa BlueDot foi pioneira na identificação do coronavírus.
Os primeiros registros se deram em 31 de dezembro de 2019 e relatavam pacientes que teriam contraído uma misteriosa pneumonia em um mercado local de venda de animais na cidade de Wuhan, na China.
A revelação da empresa canadense foi feita uma semana antes de a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertar sobre a emergência do novo vírus, em janeiro, de acordo com a Rádio França Internacional.
“Essa foi nossa primeira pista de que alguma coisa estava acontecendo. Não sabíamos, naquele momento, que isso se transformaria em uma epidemia internacional, apenas que havia uma relação entre o mercado e as infecções”, explicou Kamran Khan.
O algoritmo de inteligência artificial criado pela empresa é capaz de analisar centenas de milhares de documentos disponíveis na rede, em 65 idiomas, 24 horas por dia. A ferramenta busca detectar sinais sobre diferentes doenças em tempo real e os analisa fazendo previsões.
Para prever a propagação do coronavírus, o algoritmo cruzou dados públicos disponíveis on-line vindos direto de Wuhan com os de companhias aéreas e celulares conectados ao redor do mundo. Os smartphones forneceram dados de deslocamento de seus usuários, sem identificá-los, por meio da localização.
Com isso, o sistema analisou os itinerários e destinos e identificou os locais onde potencialmente se registrariam os primeiros casos do coronavírus no exterior, como Tóquio, Hong Kong, Taipei e Bangcoc.
Segundo o professor canadense, fez-se a coleta de informações de satélites em tempo real, importante não somente para a covid-19 mas também para outros tipos de doença.
Além disso, a epidemia do vírus zika em 2016 foi usada como exemplo para diferenciar as questões climáticas e antecipar onde teria potencial e maior impacto.
Quando um viajante ia para uma área do mundo onde o clima não era apropriado para a reprodução do mosquito transmissor — a temperatura era muito alta ou baixa, por exemplo —, esse fator poderia influenciar na propagação da doença.
Kamran Khan conta que, há 17 anos, quando começou sua carreira em um hospital de Toronto, viveu de perto a epidemia de sars (sigla em inglês para síndrome respiratória aguda grave), que deixou mais de 800 mortos:
“Aprendemos que a internet, por si só, pode ser um importante meio de coleta de informações sobre doenças e infecções que estão surgindo no mundo”.