Em 2010, os professores Amnon Shashua e Ziv Aviram, da Universidade de Jerusalém, decidiram adaptar para o uso humano o conceito de tecnologia empregada em carros autônomos, desenvolvido por eles na Mobileye. A ideia partia de uma premissa clara: “se isso é possível para os automóveis, é muito mais para seres humanos.”
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Com esse objetivo, surgiu a OrCam Technologies, uma startup criada em Jerusalém, Israel. Em 2013, a empresa lançou o OrCam MyEye, um dispositivo que captura imagens do ambiente e as transforma em áudio em tempo real, o que possibilita uma solução tecnológica para pessoas com deficiência visual. Há ainda o OrCam Read, mais específico para leituras, que traz as imagens com precisão e detalhes, para um público mais amplo.
A empresa recebeu em seus primeiros anos um investimento de US$ 22 milhões, dos quais US$ 6 milhões vieram da Intel Capital, braço de investimentos do grupo Intel. Em 2014, a Intel, que também apoiava o Google Glass, aportou mais US$ 15 milhões na OrCam. A Intel adquiriu a Mobileye, fundada em 1999, por US$ 15,3 bilhões em 2017.
No mesmo ano, depois de levantar US$ 41 milhões em nova rodada de capital, a OrCam foi avaliada em US$ 600 milhões, consolidando sua posição como uma das mais promissoras no setor de tecnologias assistivas (inclusiva) e se aproximando do status de unicórnio (startup que vale R$ 1 bilhão).
Atualmente, a OrCam está presente em 60 países. No Brasil, a tecnologia é representada por Doron Sadka, israelense, natural de Jerusalém, que imigrou para o país ainda criança.
“Meus parceiros e eu detectamos o enorme potencial que esse dispositivo poderia ter nas vidas das pessoas”, afirmou a Oeste Sadka, CEO da Mais Autonomia Tecnologia Assistivas.
“Trazer essa tecnologia para o Brasil e disponibilizá-la para os brasileiros com deficiência visual para que eles construam rotinas cada vez mais independentes se tornou nosso propósito.”
Sadka afirma que o produto não tem contraindicação e que “é uma tecnologia segura para seus usuários”. O OrCam MyEye combina hardware compacto, que inclui um processador e um software que transforma informações visuais em áudio. O equipamento, pesando apenas 22,5 g, é acoplado à armação de óculos e pode reconhecer textos em português, inglês e espanhol, além de interpretar dados visuais de livros, jornais, cardápios, documentos e embalagens.
O funcionamento não requer conexão com a internet, e a leitura, ajustável entre 100 e 250 palavras por minuto, pode ser personalizada com voz masculina ou feminina.
O dispositivo também utiliza, desde sua criação, algoritmos de inteligência artificial para identificar cores, objetos e rostos, armazenando até 150 perfis faciais. Quando uma face reconhecida é detectada, o aparelho informa ao usuário, mesmo a longas distâncias ou em meio a multidões.
Bolsas na Inglaterra
No Brasil, o OrCam MyEye tem sido incorporado em redes públicas, entre elas a do Paraná. Pode também ser adquirido no site da empresa, por R$ 14,9 mil a unidade. Segundo Sadka, programas estaduais e municipais levaram o dispositivo para mais de 1,3 mil cidades. “Cerca de 80% das atividades diárias estão conectadas à leitura”, ressalta Sadka, enfatizando o papel do dispositivo no acesso à informação
No Mato Grosso, alunos cegos foram beneficiados com o equipamento, permitindo que participassem em igualdade de condições em seleções importantes. Em uma prova envolvendo 130 mil estudantes, 100 conquistaram bolsas de estudos na Inglaterra.
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Entre eles está Lavínia Real, 15 anos, cega de nascença, que, desde o início do intercâmbio, há mais de seis meses, segue utilizando o OrCam MyEye durante seu intercâmbio em Londres.
“A tecnologia, bem empregada, é um aliado de qualquer pessoa que busca crescer e atingir seus objetivos”, conclui Sadka. “Hoje, muitas pessoas cegas podem contar com o dispositivo para acessar conteúdos que antes não estavam disponíveis – desde estudar para ingressar na universidade até ampliar pesquisas de mestrado ou doutorado.”
Parabéns. Grande avanço. Isso sim é inclusão.