Desenvolvido na USP e batizado em homenagem à cientista Marie Curie, ferramenta lê várias imagens ao mesmo tempo

Um grupo de pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e do Supera Parque de Inovação e Tecnologia, no mesmo município do interior paulista, criou um aplicativo que faz o diagnóstico de covid-19 a partir de uma radiografia dos pulmões.
O aplicativo também pode ser usado para fazer a triagem de pacientes com suspeita da doença, pois permite a análise simultânea de várias imagens.
Para criar a ferramenta, foram analisadas 3,5 mil imagens, das quais 2 mil de pacientes com a covid-19; outras 500 de pacientes com tuberculose; e mil de pessoas sem nenhuma doença. Elas foram obtidas de repositórios do Brasil, China, Estados Unidos e Itália.
O nome do aplicativo, Marie, é uma homenagem a Marie Curie, cientista nascida em Varsóvia, na Polônia, que foi a primeira mulher a ganhar um Nobel e a única pessoa até hoje a ganhá-lo duas vezes, um de Física (1903) e o outro de Química (1911).
“Foram identificadas 42 características específicas da covid-19″, explica a pesquisadora Paula dos Santos. “Percebemos que essas características também têm níveis, dependendo do estágio da doença: mais leves, moderados e graves. Agora estamos fazendo estudos mais aprofundados, usando outros algoritmos, para estudar essa evolução nas imagens.”
Outro fator que chamou a atenção dos pesquisadores foi a confirmação do aumento na densidade do pulmão, que fica com “o aspecto de branco jateado, chamado na medicina de ‘vidro fosco'”. Essa é uma característica muito forte dos pacientes com a covid-19, como já relatado em vários artigos científicos.
“Na covid-19 o ‘vidro fosco’ tem apresentado uma forma diferente até em relação a outras patologias que desenvolvem essa característica, por isso o aplicativo consegue agrupar”, comenta Paula.
Mesmo com detalhes ainda a ser ajustados, a pesquisadora afirma que o aplicativo Marie apresenta uma assertividade de 93% a 98% no diagnóstico de pacientes com a covid-19.
“Percebemos que a assertividade cai quando o paciente está na fase inicial da doença, mas, em pacientes com grau mais avançado, a assertividade chega a 98%. Então o que precisamos é aprofundar o estudo dos casos leves”.
Outra vantagem do aplicativo Marie, segundo a professora Geraldine Góes Bosco, é o fato de o médico poder enviar pelo celular várias imagens para triagem e diagnóstico, ou somente uma imagem.
“Isso pode auxiliar o profissional onde quer que ele esteja, pois o aplicativo consegue analisar e processar várias imagens ao mesmo tempo e dar a resposta em poucos minutos”, conclui Geraldine.