A agricultura digital veio para transformar a maneira de produzir alimentos no campo. Hoje em dia, é possível ver drones monitorando lavouras e máquinas de última geração que, inclusive, não precisam de operadores para conduzi-las no momento do plantio ou da colheita. Todo controle pode ser feito de maneira remota. Essa evolução tecnológica tem um objetivo: diminuir custos e aumentar o rendimento das propriedades.
Com esse propósito, recentemente o Brasil ganhou uma fazenda totalmente conectada. O projeto piloto foi implantado no município de Água Boa, em Mato Grosso, e teve como precursor a Case IH, uma das líderes mundiais em equipamentos agrícolas. A área conta com 3 mil hectares para produção de grãos e recebeu máquinas autônomas, que são acompanhadas remotamente por uma central de controle.
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“Nossa intenção é mostrar como a conectividade rural aumenta a produtividade no campo, mesmo em uma região que já apresenta alto rendimento safra após safra”, destaca Rodrigo Alandia, gerente de marketing da empresa para a América Latina. O executivo conversou com Oeste sobre a automação dos serviços no campo e as oportunidades de trabalho no agronegócio com a expansão da tecnologia.
1 — O que a agricultura digital representa para o agronegócio?
É o presente, mas em uma fase de expansão para, no futuro próximo, ser adotada por um número maior de produtores. Estamos em uma fase de crescimento, uma fase de expansão da tecnologia, da agricultura digital. A ideia é que ano a ano isso cresça exponencialmente, e a fazenda conectada, sem dúvida, vai ser fundamental para mostrar três pilares-base: eficiência agrícola e operacional, sustentabilidade e viabilidade financeira. Outro ponto muito importante a reforçar sobre a agricultura digital é que ela tem como suporte as ferramentas da agricultura de precisão, que há anos têm ganhado mercado.
2 — Quais são as principais evoluções percebidas da agricultura de precisão para a digital?
A diferença básica está na utilização de máquinas e portais conectados digitalmente, que permitem fazer uma vinculação.
Na agricultura de precisão há uma gestão baseada na observação. Já, em especial, na agricultura digital, quando falamos de máquinas conectadas é um ponto fundamental, porque estamos falando em um conjunto de soluções. Caso seja necessário trocar algum componente, por exemplo, o diagnóstico do problema é feito remotamente pelo mecânico. Então, ele pode se dirigir para o conserto com a peça correta, sem necessidade de fazer um diagnóstico presencial.
3 — Como o senhor avalia o uso da inteligência artificial nesses sistemas?
É muito importante ressaltar o uso da inteligência artificial, como acontece, por exemplo, com a colheitadeira de grãos Axial-Flow 9250 Automation, a máquina aprende constantemente e se autorregula. A mesma coisa acontece em softwares e ferramentas de serviços conectados. Praticamente, o operador da máquina, que antes tinha de se preocupar com os parâmetros de regulagem do instrumento — o que humanamente era impossível deixar tudo de forma ótima e em tempo correto —, só tem de se preocupar se o tanque de grãos está cheio e descarregar. Depois, o resto é a máquina que faz tudo automaticamente.
4 — A transformação do modo de trabalho no campo, com mais tecnologia, também está mudando o mercado de trabalho no agro?
Quando falamos em veículos autônomos, automatização, inteligência artificial e demais, surge a pergunta: o que vem pela frente? O comentário geral de pessoas que talvez não estejam ligadas ao setor é que isso tirará o emprego de um operador, mas, pelo contrário, vamos colocar profissionais dentro do meio agro muito mais capacitados. Vamos colocar pessoas que precisam cuidar dessas tecnologias. E é importante lembrar que já há mais abertura quando falamos da agricultura digital. Então, a inovação vai aumentar constantemente a necessidade de mão de obra qualificada.
5 — O avanço da conectividade no Brasil está acontecendo em um bom ritmo para manter a posição do país entre os maiores produtores de alimentos?
Sim, sem dúvida. E a ConectarAgro [associação que visa a promover tecnologias em áreas rurais] foi fundamental para isso acontecer. A iniciativa está funcionando muito bem e, pelas metas que tem a se cumprir em termos de expansão, sem dúvida, vai deixar o Brasil no topo dos países conectados ruralmente. Basicamente, quando fazemos uma comparação é sempre com os Estados Unidos. É um país que tem uma área conectada maior obviamente, porém estamos trilhando um caminho para chegar a esses patamares.