Com o fim do ano agrícola em 31 de agosto, o Brasil lidera, pelo segundo ano seguido, o ranking de exportação de milho, deixando para trás os Estados Unidos, país que ocupou o posto por quase 60 anos, quase sem interrupções.
De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, na safra de 2023, os EUA representarão cerca de 23% das exportações globais de milho, muito abaixo dos quase 32% do Brasil. A expectativa é que os produtores brasileiros mantenham a liderança na safra de 2024, que começa em 1º de setembro, informa a Bloomberg.
Desde o governo Kennedy (1961 a 1963), os EUA só perderam a posição de líderes mundiais de exportadores de milho em 2013, em decorrência de uma seca devastadora. Agora, em 2023, é a primeira vez que os EUA ficam pelo segundo ano seguido fora da liderança. “E pode ser que nunca a recuperem”, diz a plataforma.
Em seu auge, os EUA exportavam 78% de sua produção anual de trigo, 54% de sua soja e 45% de seu milho. Em 2024, essas cifras deverão cair para 40%, 43% e 14%, respectivamente.
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A plataforma, especializada em negócios e finanças, afirma que a mudança no cenário das exportações de milho não é inesperada. Há anos, o governo dos EUA tem incentivado o uso de milho cultivado domesticamente para etanol. Cerca de 40% do milho dos EUA é destinado a abastecer moinhos domésticos que produzem etanol para uso como combustível de transporte.
“No caso do milho e da soja, o que estamos vendo é que estamos usando muito mais dentro do país”, disse à Bloomberg Gregg Doud, ex-chefe de negociação agrícola dos Estados Unidos no Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTr, na sigla em inglês). “Isso não é algo ruim. O que realmente está acontecendo aqui é que estamos produzindo etanol, alimentando o gado com isso, produzindo diesel renovável e estamos mais independentes energeticamente em termos de combustíveis.”
Economista líder da associação de produtores de milho, Krista Swanson disse que uma grande safra no Brasil e uma escassez nos EUA, junto com uma moeda brasileira fraca, deram à indústria de exportação de milho brasileira a vantagem nesta temporada.
Outros fatores acentuam vantagem do milho do Brasil
Segundo a Bloomberg, a indústria de milho dos EUA tem de vencer desafios no mercado global. Os EUA têm custos trabalhistas e de transporte mais altos, especialmente em razão da seca que atinge a região do Rio Mississippi e obstrui a principal artéria comercial para as safras do meio-oeste.
“Enquanto isso, o Brasil tem atualizado seus portos e infraestrutura, fechando lacunas logísticas anteriores”, diz a plataforma. Além disso, o clima mais quente permite duas safras de milho por ano, o que confere uma vantagem competitiva sobre os Estados Unidos.
“Mesmo que o setor de milho dos Estados Unidos recupere a posição de principal exportador por um ano ou dois a curto prazo, dadas todas as suas dificuldades no mercado global em comparação com o Brasil, é improvável que recapture a coroa a longo prazo”, reforça a Bloomberg.
As relações comerciais entre Brasil e China
O site também ressalta que as relações comerciais entre Brasil e China são favoráveis e cita o acordo entre os dois países assinado em 2022, quando o país asiático manifestou claro interesse em reduzir sua dependência dos Estados Unidos e substituir suprimentos da Ucrânia interrompidos pela invasão russa.
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Mesmo que a China continue sendo o principal comprador de milho e soja dos EUA, o site afirma que milhões de toneladas de produtos agrícolas brasileiros vão para o país asiático. Em julho, a China foi o principal destino das exportações de milho do Brasil, com 902 mil toneladas, em comparação com zero no mesmo período do ano anterior.
O Brasil “não é um aliado próximo dos EUA, então Pequim se sente confiante de que poderia continuar negociando com o Brasil, mesmo se a relação com os EUA piorasse repentinamente”, disse à Bloomberg Even Pay, analista agrícola da Trivium China, uma consultoria de pesquisa de políticas.
EUA também perderam para o Brasil a liderança em exportação de soja
Desde 2013, o Brasil ocupa o posto de líder mundial de exportação de soja, lugar que sempre foi dos norte-americanos. Em 2014, os EUA deixaram de ser líderes em exportação de trigo. O posto passou primeiro para a União Europeia e depois para a Rússia.
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Entre os fatores por trás dessa mudança estão os crescentes custos do país e a falta de terras disponíveis, os efeitos persistentes da guerra comercial do ex-presidente Donald Trump com a China e o dólar americano forte, enumera a Bloomberg.
Atualmente, os Estados Unidos representam cerca de um terço das exportações globais de soja, bastante distantes do Brasil. No trigo, agora está em quinto lugar, com uma parcela de mercado global de um único dígito.