Para combater a ameaça de extinção enfrentada pelos bois pantaneiros, capazes de se adaptar e resistir às condições específicas do Pantanal, a ONG Onçafari e a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) uniram forças em um projeto de pesquisa genética.
Esses bovinos, que se distinguem por sua habilidade de se alimentar em áreas inundadas, comendo tanto gramíneas quanto folhas de árvores e arbustos, viram sua população declinar de forma alarmante: de 3 milhões para apenas 500 indivíduos nos últimos 50 anos.
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O declínio se deve, em parte, a características físicas desfavoráveis, como pernas curtas e chifres longos, que complicam seu transporte e manejo. Isso leva os criadores a preferirem outras raças, como o Nelore. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Iniciado em 2013 e liderado por Marcus Vinicius Morais de Oliveira, da UEMS, o projeto busca catalogar e proteger os bois pantaneiros remanescentes. Responsável pelo Núcleo de Conservação de Bovinos Pantaneiros na universidade, Morais de Oliveira coletou material genético para preservar a espécie, apesar dos desafios financeiros comuns à pesquisa científica no Brasil.
Avanços significativos na conservação
A colaboração com a Onçafari, uma ONG focada na conservação da fauna de vários biomas brasileiros e no ecoturismo sustentável, impulsionou o projeto. Com apoio financeiro privado, a iniciativa conseguiu produzir 450 embriões de boi pantaneiro por meio de fertilização in vitro.
Esses embriões foram implantados em novilhas Nelore, que serviram como substitutas, levando a 125 gestações. Desde o dia 4 de abril, nasceram 29 bezerros, com um peso médio acima do usual para a raça.
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O projeto não só busca aumentar o número de pantaneiros puros, com o suporte de vacas pantaneiras que se reproduzem naturalmente — com trinta nascimentos desde 2023 —, mas também pretende criar lotes de bezerros mestiços. O objetivo é formar um rebanho de 500 bois pantaneiros nos próximos sete anos, momento em que o uso de Nelore como substitutas não será mais necessário.
Impacto ecológico e potencial econômico
Os bois pantaneiros são essenciais para o ecossistema do Pantanal, porque contribuem na prevenção de incêndios e na alimentação das araras azuis, ao processarem os frutos da palmeira acuri. Eles também são capazes de se defender de onças, o que pode reduzir o conflito entre pecuaristas e predadores.
Mario Haberfeld, fundador da Onçafari, vê a conservação dos bois pantaneiros como um elemento chave na proteção das onças pintadas e no potencial para o ecoturismo. A Reserva São Francisco do Perigara, adquirida pela ONG em 2021, é o centro do projeto. Essa iniciativa poderá, no futuro, abrigar uma pousada e fazer dos bois pantaneiros uma das atrações principais.
Expectativas futuras para a carne pantaneira
Embora a qualidade da carne não seja o foco principal no momento, Oliveira antecipa que essa característica ganhará valor assim que a população de pantaneiros se estabilizar. Isso destaca o alto grau de marmoreio da carne como um atributo distinto.