(*) Por Ricardo Felício
Às 22h04 do dia 22 de setembro marca o início da primavera no hemisfério Sul. Este é um dia particular, pois temos um tempo semelhante de duração entre o período diurno e o noturno. Trata-se de um evento astronômico que envolve uma geometria entre o eixo de rotação da Terra, inclinado em 23°27’, e uma linha imaginária, dentro do plano da órbita, entre o centro da Terra e o centro do Sol. Quando este ângulo se torna perpendicular (ou seja: atinge 90°), ocorre o do equinócio. Tal evento ocorre duas vezes por ano na órbita terrestre.
Do ponto de vista estritamente astronômico, o Sol cruza a linha do Equador em seu movimento aparente. Isto significa que ambos os hemisférios estão recebendo a mesma carga de radiação solar teórica (se não tivéssemos nuvens), mas a partir do próximo dia, as coisas começam a mudar. No nosso caso, como o movimento aparente do Sol passa a seguir o seu caminho para o Sul, teremos um aumento do número de horas do período diurno, até culminar no dia da entrada do verão (solstício), cujo número de horas do período diurno é máximo. O fenômeno dilatado do tempo tem um efeito maior conforme se avança mais para as latitudes Sul, com os extremos ocorrendo a partir da linha do Círculo Polar Antártico.
O padrão descrito envolve os conceitos astronômicos da mecânica celeste, exatamente como se fosse um relógio. Contudo, não é assim na atmosfera. Ela não funciona desta forma.
A primeira camada da atmosfera, a Troposfera, é aquecida de baixo para cima pela radiação solar. Como vimos, o número de horas do período diurno começa a aumentar e isto significa que mais energia estará disponível, com ângulos mais favoráveis para de incidência da radiação na superfície.
Como esta nova carga de energia vai aumentando lentamente, haverá ainda uma inércia da Troposfera (a camada mais baixa da atmosfera) em ativar os processos de transferência de calor característicos da estação sazonal da Primavera do hemisfério Sul. Isto significa que há um período de transição entre as estações sazonais que pode se alongar ou se reduzir, não coincidindo exatamente com o momento astronômico.
Aí que entra a Climatologia para nos indicar as variações encontradas em cada ano e classificá-las. Desta forma, não se admire se ainda no final de outubro, um sistema frontal surgir e derrubar as temperaturas nos Estados do Sul do Brasil, alcançando ainda São Paulo e Mato Grosso do Sul. Estas ocasiões são perfeitamente plausíveis.
Em 2012, por exemplo, tivemos um dezembro bastante atingido por sistemas frontais ligeiros que marcaram aquela transição entre Primavera e Verão. De certo, a situação meteorológica do dia de hoje já mostrou o que argumentamos, pois os Estados do Sul e Sudeste apresentaram temperaturas baixas, nevoeiro e até garoa no interior do estado de São Paulo.
(*) Mestre em meteorologia e professor-doutor de Climatologia
O Brasil carece de mais conhecimento da Natureza por parte dos cidadãos.
Tal fato nos traria, com certeza, maiores e melhores possibilidades de entender o que acontece e interagir de maneira mais proativa, até mesmo nos libertando das ações de inescrupulosos daqui e do exterior.