No início de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a covid-19 como uma nova doença, pois é causada por um vírus novo (na época), o Sars-Cov-2, com características clínicas e fisiopatológicas específicas, decorrentes de alterações no sistema de coagulação e inflamação de vários tecidos e órgãos, principalmente os pulmões.
A variante Ômicron apresenta inúmeras diferenças (“mutações”) em seu genoma em relação às variantes mais virulentas de Sars-CoV-2. O quadro clínico dos pacientes acometidos por esta variante, especialmente entre os indivíduos previamente vacinados, é muito similar ao da gripe comum, que acomete principalmente as vias aéreas superiores (dificilmente ataca os pulmões), e, portanto, difere sobremaneira da covid-19 descrita pela OMS.
As mutações são eventos genético-moleculares espontâneos e, infelizmente, não temos como fazer previsões de que daqui para a frente as novas variantes do coronavírus serão cada vez menos agressivas aos seres humanos. Seria como prever como seriam os novos seres vivos no futuro. O que é impossível! Ou seja, fazer previsões futuras são meras especulações.
Na África do Sul, a Ômicron contaminou a maioria da população sem levar a um acréscimo significativo na incidência de mortes. Por lá, os casos estão caindo vertiginosamente a cada dia. Tudo isso ocorreu em pouco mais de dois meses, desde a identificação dessa nova variante.
A situação da pandemia no Brasil
No Brasil, no momento, estamos sendo acometidos pela variante Ômicron e simultaneamente por outros vírus respiratórios que causam a gripe. Nos últimos dias, o movimento nos prontos-socorros no Brasil aumentou bastante por conta disso. Felizmente, a grande maioria dos casos é de síndrome respiratória leve, sem necessidade de internação. Mas, como sempre ocorreu, as síndromes gripais associadas a esses outros vírus podem, da mesma forma, levar à necessidade de internação e até mesmo ao óbito, principalmente nos vulneráveis, como idosos, pessoas com doenças pulmonares crônicas e imunossuprimidos.
A boa notícia, até agora, é que, embora o número de casos de covid diagnosticados tenha aumentado, os números de casos graves e de mortes estão estáveis ou até mesmo diminuindo. Apesar de já circular no Brasil desde dezembro, a variante Ômicron fez sua primeira vítima no último dia 6 — um paciente idoso, previamente vacinado e com sérios problemas pulmonares crônicos. Talvez, se esse mesmo paciente tivesse sido acometido pelo vírus influenza, o desfecho poderia ter sido o mesmo.
O que estamos presenciando agora é uma pandemia de testes positivos para vírus Sars-CoV-2 em pessoas assintomáticas (não doentes!).
Como em qualquer estudo epidemiológico sério, seria importante definir previamente o que é chamado de “caso”, diferenciando os testes positivos entre sintomáticos e assintomáticos, ou seja, quem são os “doentes” e os “não doentes”. Epidemiologicamente falando, essa falta de definição inflaciona o número de “casos novos” e, consequentemente, a taxa de incidência da doença.
O custo financeiro-social de diagnosticar e isolar pessoas assintomáticas está sendo desproporcionalmente elevado, tendo em vista a benignidade da doença. Temos observado voos comerciais sendo cancelados e pessoas voltando a se isolar. É o retorno do lockdown. Faz lembrar a narração de A Guerra dos Mundos, realizada em 1938, por Orson Welles. É necessário dar um basta a isso!
A população está assustada. É totalmente compreensível, pois as “feridas emocionais” causadas pela pandemia da “verdadeira” covid-19 ainda estão abertas. Com esse cenário descrito acima, devemos pensar de forma mais racional e menos emocional (ou mesmo menos política) sobre a real necessidade de testar pessoas assintomáticas. Será que vale a pena fazer testes e mais testes em todas as pessoas? Será que pessoas assintomáticas que já tomaram a vacina precisam ser testadas?
A verdadeira pandemia da covid-19 parece estar passando e deixou vários legados, entre eles:
• redução da morbiletalidade, com a contribuição da vacinação da população realizada com sucesso no Brasil até final de 2021 — embora outras questões ainda precisem ser esclarecidas, como, por exemplo, quantas doses de reforço serão necessárias, quais faixas etárias deverão ser incluídas no Programa Nacional de Imunizações, entre outras;
• as vacinas atualmente disponíveis não evitam a contaminação nem a transmissão de novas variantes;
• para evitar complicações e óbitos, além do custo econômico e social, os indivíduos suscetíveis e vulneráveis devem continuar tomando as vacinas de rotina contra vírus respiratórios (Sars, influenza, etc.);
• para evitar o contágio de outras pessoas e a disseminação de doenças respiratórias, os indivíduos sintomáticos, acometidos por qualquer síndrome respiratória, devem usar máscaras efetivas (N95), devem evitar o contato com pessoas vulneráveis e devem manter certo grau de isolamento, dentro do possível.
É correto continuar classificando essa “nova” doença como covid-19? Não seria melhor classificá-la como covid-21?
A mudança de nomenclatura dessa nova doença atual, além de necessária, certamente teria um impacto psicossocial enorme na população.
Que a covid-21 seja, enfim, uma “gripezinha”!
José Luiz B. Bevilacqua é médico, cirurgião oncológico e mastologista, doutor em Cirurgia pela Faculdade de Medicina da USP
Além de ter conseguido discorrer com riqueza de dados e argumentos sobre o atual estágio da Covid 19, o autor tem a coragem necessária para propor uma inovação fundamental: – redefinir a epidemia como Covid 21!
Perfeita colocação. Covid 19 n existe mais, vacinas n estão atualizadas p esta ultima variante. Porque forçar vacinação de crianças então.
Excelente artigo. Essas ideias traduzem fielmente a minha experiência pessoal. Espero que as autoridades sanitárias nacionais e mundiais tenha a oportunidade de discuti-las.
Concordo, acabei de ter a Covid sei lá o que e o quadro foi bem leve, focado basicamente, nas vias aéreas superiores, muito diferente da Covid que matou meu primo e sócio em 15, em Maio de 20! É uma outra doença…..que precisa ser rebatizada.