A cidade de São Raimundo Nonato, no Piauí, historicamente pacata, vive um cenário de insegurança pública sem precedentes. É o que relata uma reportagem do portal piauiense TV Blocão, que viralizou nas redes sociais na última segunda-feira, 10.
A publicação revela que o batalhão da Polícia Militar da cidade foi desativado e substituído por um endereço residencial. “Pode ter polícia numa casa, assim?”, indaga o repórter José Ribas Doran Neto. Em novembro de 2022, a PM do Piauí classificou a sede como “temporária“. No entanto, dois anos e quatro meses depois, o batalhão permanece no mesmo local.
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O novo batalhão opera com apenas dez policiais e cinco viaturas para atender toda a cidade, que possui 38,9 mil habitantes. Pode não parecer muito, mas a área rural do município é extensa: 2,4 mil km².
A situação da Polícia Civil é ainda mais crítica. Durante a reportagem, foi constatado que a delegacia estava fechada e deserta. “Estou batendo com força, não tem ninguém aqui”, relata o jornalista, acompanhado do ativista teresinense Lytson Brendow.
As instalações abandonadas pelo Estado se tornaram territórios sem lei. O antigo batalhão da PM está completamente deteriorado, tomado pelo lixo e por pichações de facções. “Se duvidar, é capaz de ter drogado usando aqui”, relata o repórter. Dentro do prédio, o cenário é de abandono: “Estão defecando aqui dentro, está podre.”
Carros apreendidos pela polícia são deixados na rua, muitos deles violados e utilizados como abrigo para moradores de rua e usuários de drogas. “Aberto também esse daqui, inclusive deve ter morador de rua usando, está com a porta amarrada”, descreve o repórter, ao evidenciar a fragilidade da segurança.
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A reportagem de Oeste tentou contato com a Polícia Civil e Polícia Militar do Estado do Piauí, mas não obteve resposta. O espaço está aberto para futuros posicionamentos das instituições.
Crime organizado no Piauí
A inércia do Estado comprova que não existe vácuo de poder. O crime organizado enxergou no sul do Piauí um terreno propício para prosperar, e assim o fez. O Primeiro Comando da Capital (PCC) se consolidou como a principal liderança criminosa na região, considerada estratégica para a logística do tráfico de drogas.
A rota do tráfico, que liga o litoral do Piauí à Bahia e a Estados como São Paulo, tem São Raimundo Nonato como um ponto-chave de passagem das drogas. Nos últimos seis meses, 50 assassinatos foram registrados na área, um número alarmante para regiões tradicionalmente tranquilas.

O Piauí é governado pela esquerda desde 2003, quando tomou posse o petista Wellington Dias. Reeleito em 2006, ele permaneceu como governador até 2010, quando renunciou ao cargo para disputar o Senado. Seu vice, Wilson Martins, assumiu o governo e foi eleito pelo PSB para o mandato seguinte, onde ficou até 2014.
Em 2015, Wellington Dias retornou ao governo depois de vencer as eleições de 2014 e foi reeleito em 2018. Ele permaneceu no cargo até abril de 2022, quando deixou o posto novamente para concorrer ao Senado, e foi substituído por sua vice, Regina Sousa. Em 2022, o petista Rafael Fonteles foi eleito governador e manteve o domínio do partido no Estado.
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