O goleiro Cássio, de 36 anos, encerrou nesta sexta-feira, 17, seu ciclo de 12 anos no Corinthians. Ele e a diretoria do clube chegaram a um acordo para encerrar a bem-sucedida trajetória do jogador no clube.
Depois de 12 anos como o “guardião” do time alvinegro, ele acertou com o Cruzeiro. Deixa o Corinthians como o maior goleiro e um dos maiores jogadores da história da instituição. O portal do clube, em homenagem a ele, colocou no alto da página uma imagem do goleiro com os dizeres “obrigado, Cássio.”
A torcida havia se acostumado com o estilo único de Cássio: tranquilo sem, no entanto, deixar de jogar com vibração. Preocupado em se livrar do estigma de ser o presidente que permitiu a saída do ídolo, Augusto Melo disse que a decisão foi tomada em respeito “à vontade dele”.
“A gente apoia, deseja o melhor.”, afirmou o presidente do clube. “Preferíamos que não fosse assim”, disse. Ele prometeu dar mais detalhes sobre o acordo em uma coletiva de imprensa, que provavelmente ocorrerá no sábado 18 e terá a presença do goleiro.
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Cássio ainda tinha mais sete meses de contrato com o Corinthians. Os últimos acontecimentos, entre abril e maio, o levaram a tomar a decisão. Depois de uma série de derrotas do clube, ele se sentiu muito pressionado e acabou indo para o banco de reservas.
O Gigante, como ficou conhecido depois da histórica defesa de chute de Diego Souza, do Vasco, na Libertadores de 2012, demonstrou insatisfação com a situação. Sentiu-se exposto e fez questão de negociar sua liberação imediata. Ele já poderia assinar um pré-acordo com outro clube a partir de julho. O contrato com o Cruzeiro tem duração de três anos.
Cássio nem aceitou propostas de renovação feitas pela diretoria e decidiu deixar o clube em que se consagrou e que o levou à seleção brasileira. Fez parte do grupo que disputou a Copa do Mundo de 2018.
Logo na primeira temporada pelo Corinthians, em 2012, Cássio se tornou ídolo. Iniciou como reserva, no final de 2011, vindo do PSV, da Holanda, numa contratação vista na época como uma aposta pessoal do então presidente Andrés Sanchez.
No Brasil, ele era conhecido por sua breve passagem pelo Grêmio, clube que o revelou.
Assumiu a titularidade no Corinthians depois de Julio Cesar ter falhado no jogo em que o Corinthians perdeu por 3 a 2 da Ponte Preta e foi eliminado nas quartas de final do Campeonato Paulista.
O momento era decisivo. E Cássio “agarrou” a oportunidade. E muitos outros chutes em jogos decisivos, com atuações memoráveis. Uma delas foi nas quartas de final da Libertadores, quando ele desviou com o dedo o chute rasteiro de Diego Souza, que arrancou livre desde o meio-campo e tentou desviar do goleiro.
Nas oito partidas em que jogou naquela Libertadores, sofreu apenas dois gols, um contra o Santos nas semifinais (empate por 1 a 1) e outro contra o Boca Juniors na final, o que foi determinante para o Corinthians conquistar seu primeiro título na competição.
Outra partida marcante foi na final do Mundial Interclubes, contra o Chelsea, ao fazer algumas intervenções milagrosas, como no chute do nigeriano Victor Moses, quando ele se esticou de maneira impressionante e, também com a ponta dos dedos, desviou a bola que tinha destino certo.
Com a vitória por 1 a 0, gol de outro heroi, Paolo Guerrero, o Corinthians conquistou o bicampeonato mundial, no Japão.
Conquistas e desafios do maior goleiro do Corinthians
Cássio seguiu conquistando títulos, como o do Campeonato Paulista de 2013 e os do Campeonato Brasileiro de 2015 e 2017. Tornou-se o segundo jogador que mais vezes vestiu a camisa do Corinthians, com 712 partidas, atrás apenas do lateral-esquerdo Wladimir.
No total, venceu quatro Campeonatos Paulistas (2013, 2017, 2018 e 2019), dois Campeonatos Brasileiros (2015 e 2017) e uma Recopa Sul-Americana (2013), além dos títulos inéditos de 2012.
Ele já havia passado por momentos difíceis, como em 2016, quando foi afastado da titularidade pela primeira vez. Na ocasião, foi substituído por Wálter, mas retomou posteriormente a posição, depois de, como agora, ter pedido para deixar o clube.
O desempenho irregular naquele momento foi atribuído à morte da avó dele, Maria Luiza, em Veranópolis (RS), lembrou a Folha de S. Paulo. O técnico Tite o manteve na reserva até o fim da temporada. Mas ele permaneceu, depois de conversar com o então presidente Andrés Sanchez.
Andrés, conta a Folha, teve uma conversa franca com Cássio no CT do Parque Ecológico, como descrito no livro Cássio — A trajetória do maior goleiro da história do Corinthians, de Celso Unzelte, publicado em 2019. “Preciso de você aqui”, disse Andrés. “No ano que vem, se você quiser ir embora, eu te libero. Mas agora eu preciso.”
“Aí eu pipoquei, né?”, admitiu Cássio. Ele inicialmente se revoltou com a situação e procurou culpados, mas começou a reconhecer sua responsabilidade depois de ser alertado por Janara Sackl, sua atual esposa.
Oito anos depois, a situação se repetiu. Mas dessa vez a pressão de sua família foi um dos fatores que o levaram a decidir deixar o Corinthians. Eles desejavam mudar de ambiente, especialmente pelo desgaste de Cássio como “escudo” do elenco.
Como um dos jogadores mais experientes e o mais antigo no clube, ele frequentemente era o representante do time em momentos de crise, uma condição que começou se tornar um fardo.
A decisão veio depois dele perder a titularidade para Carlos Miguel, há quase um mês. Depois da derrota por 1 a 0 para o Argentinos Juniors pela Copa Sul-Americana, ele fez um desabafo. “Se sou o culpado, melhor sair.”
O goleiro passou a ser visto com uma expressão fechada, a partir do jogo contra o Fluminense, quando ficou na reserva. Mesmo assim, apoiou os companheiros na vitória por 3 a 0 e foi exaltado pela torcida. Cássio, porém, já decidira que deixaria o clube. Naquele momento, os aplausos foram tardios.
Vai para um dos maiores times do mundo.
Seja bem vindo.
Não só desportiva exemplar, como também pessoa do bem.
Meus votos de pleno sucesso e uma palavra: gratidão.
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