Na cena de um crime, a ciência forense conta com um aliado inusitado: os insetos. No Laboratório de Entomologia Integrativa do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pesquisadores estudam como esses organismos podem fornecer pistas para investigações criminais.
Segundo os cientistas, os seres produzem provas capazes de construir uma linha do tempo que determina até a causa da morte de uma vítima. “Se você está investigando um homicídio, saber a data da morte é fator crucial para iniciar as investigações”, explica o perito criminal Rodrigo César Farias em entrevista ao canal da Unicamp no YouTube.
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Os primeiros insetos a chegar em um corpo em decomposição são as moscas varejeiras. Elas depositam ovos que se transformam em larvas e, posteriormente, em adultos. O ciclo de vida desses insetos funciona como um “marcador do tempo” que auxilia na reconstituição da cronologia do crime.
No laboratório da Unicamp, os cientistas recriam as condições ambientais para monitorar o desenvolvimento das larvas e garantir precisão nos laudos forenses. “Os insetos não têm controle metabólico de temperatura como os humanos, então é muito importante entender o efeito da temperatura no desenvolvimento”, afirma a docente Patrícia Thyssen.
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Além de indicar o tempo de morte, os insetos podem carregar vestígios de substâncias químicas e biológicas relevantes para a investigação. Pesquisadores da Unicamp já identificaram nas moscas varejeiras vestígios de DNA humano, drogas, veneno e até pólvora, o que sugere possíveis dinâmicas que levaram à morte da vítima.
A entomologia forense também auxilia na determinação da movimentação do corpo. Caso um cadáver seja encontrado com insetos que não são comuns da região onde foi descoberto, há um forte indício de que ele foi transportado de outro local.
Apesar da relevância desse campo de estudo, o Instituto de Criminalística e as unidades da Polícia Científica do Estado de São Paulo ainda não possuem laboratórios próprios de entomologia forense. Por isso, insetos coletados em locais de crime são frequentemente enviados para a Unicamp para identificação e análise.
Atualmente, os pesquisadores da Unicamp se dedicam a ampliar o escopo de suas investigações e criar um banco de dados para acelerar a identificação de vestígios periciais. A universidade tem estabelecido parcerias com instituições da Argentina, Chile, Colômbia e Peru para fortalecer a pesquisa na América do Sul.
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