Três unidades foram abertas para auxiliar os cidadãos, porém, utilizando estruturas já existentes e gastando o mínimo de recursos do pagador de imposto
Maior cidade da Baixada Santista, Santos foi o segundo município mais afetado pela covid-19 no Estado de São Paulo, com mais de 13 mil infectados e 420 mortos. Mesmo diante deste cenário, a prefeitura da cidade fez uma opção incomum para enfrentar a doença.
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Ao invés de construir hospitais de campanha dentro de vistosas tendas, parecidas com as que puderam ser vistas no Estádio do Pacaembu em São Paulo ou no Maracanã, no Rio de Janeiro, os santistas adaptaram estruturas já existentes para atender aos doentes.
A Afip Medicina Diagnóstica, instituição que presta serviços ao município na realização de exames laboratoriais e de imagem, foi transformada para receber 26 leitos de enfermaria e um laboratório completo, no bairro da Encruzilhada. A Afip – Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa – é uma instituição privada, sem fins lucrativos e filantrópica, e se tornou um dos hospitais de campanha definidos pelo Plano de Contingência Hospitalar criado para o enfrentamento ao coronavírus na cidade.
Outra estrutura foi montada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Leste e conta com 46 vagas, 26 de enfermaria e 20 de unidade de terapia intensiva.
E, por fim, o Plano de Contingência Hospitalar santista encampou as reformas do Hospital Vitória, pertencente à United Health Group (UHG — dona do grupo Amil no Brasil). Por problemas estruturais, o hospital particular foi desativado em novembro do ano passado. A UHG cedeu o prédio à prefeitura e, após uma obra de R$ 1,8 milhão bancada pelo município, voltou a funcionar para o atendimento dos pacientes com covid-19.
O hospital conta com 130 leitos e foram gastos mais R$ 3,1 milhões em equipamentos, totalizando R$ 4,9 milhões em investimentos na estrutura hospitalar, financiados integralmente pela prefeitura.
“O Hospital Vitória tinha uma hotelaria de luxo, então, onde havia um quarto premium com cama de acompanhante, hoje temos três camas”, conta o secretário municipal de Saúde de Santos, Fábio Ferraz. “O que nós fizemos na estruturação: basicamente passar a tubulação de gás”.
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O secretário lembra que para montar apenas o esqueleto em forma de tenda nos estádios de futebol, o custo ficaria em torno de R$ 15 milhões. “E não há como contestar: é muito melhor você ter a estrutura dentro de um prédio que foi feito para isso do que colocar os equipamentos e pacientes em um lugar semiaberto, por melhor que seja a tenda”.
Toda a reforma demorou menos de um mês para ficar pronta e atualmente cerca de 300 pessoas trabalham no local, sendo 280 profissionais de saúde.
O Vitória conta com 22 leitos de UTI e hoje está com 59% de ocupação. Até o momento, 133 pacientes já foram atendidos no hospital.
“Recebemos 30 respiradores do governo do Estado e compramos alguns também por R$ 65 mil, um valor que achamos justo, por estarmos vivendo uma pandemia”, justifica Ferraz.
A cidade de Santos atualmente conta com 140 leitos de UTI para covid-19 na rede municipal. No momento, o sistema de saúde municipal utiliza menos de 60% deles. Com a situação estável, a cidade litorânea está na fase amarela do Plano São Paulo. Com isso, comércio de rua, shopping centers, bares, restaurantes e salões de beleza podem permanecer abertos.
“Mas temos um governo bastante conservador, vamos devagar”, admite o secretário. “Pelo menos 20% da população de Santos são idosos. As pessoas se aposentam e vêm morar aqui. Não podemos ser descuidados”.
E quando a pandemia acabar, o que acontecerá com os investimentos realizados no Hospital Vitória?
“Todos os equipamentos ficarão para a rede pública de saúde”, garante Fábio Ferraz. De acordo com o secretário, a única dúvida que ainda resta é sobre o prédio em si. Segundo Ferraz, há a possibilidade dele ser devolvido à UHG, mas também já há conversas para que o município compre de vez o hospital.
Em Sete Lagoas MG foi feito algo semelhante. Inicialmente o prefeito queria fazer um hospital de campanha, mas a comunidade definiu por investimentos permanentes nos hospitais existentes. Novos leitos de UTI e enfermaria foram criados e de forma permanente. A ocupação de UTIs encontra-se em 29% e existe a previsão de mais 10 UTIs para esta semana.
O enfrentamento à COVID 19, em Santos, foi exemplar, digno de registro, graças a um governo responsavel, criterioso e competente.