Na quarta-feira 27 de janeiro de 2021, o governo do Estado de São Paulo confirmou o que milhares de estudantes esperavam ansiosos por ouvir há meses: a reabertura das escolas estava autorizada para acontecer em 1º de fevereiro. No dia seguinte, a decisão foi suspensa pelo Tribunal de Justiça, mas acabou derrubada na sexta-feira 29. As escolas particulares voltaram no dia programado, com a promessa de retomada das aulas presenciais na rede estadual em 8 de fevereiro e, na municipal, uma semana depois.
Nesta sexta-feira, 5, professores da rede estadual decidiram entrar em greve a partir de segunda-feira contra a reabertura. A medida foi aprovada por 91,7% dos que votaram na assembleia virtual promovida pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação afirmou que “tomará as medidas judiciais cabíveis” e informou que faltas não justificadas pelos profissionais serão descontadas. “A Seduc-SP lamenta que o sindicato se paute por uma agenda político-partidária completamente desvinculada do compromisso com o aprendizado dos alunos.”
Embora o sindicato tenha divulgado 147 supostos casos de infecção por covid-19 registrados até o momento em escolas com algum tipo de atividade presencial, o governo garante que nenhuma ocorrência de transmissão ocorreu nas escolas estaduais que reabriram para atividades extracurriculares no ano passado. Nesta semana, ficou provado que algumas contaminações verificadas numa escola em Campinas haviam acontecido durante um encontro de professores promovido, sem os devidos protocolos de segurança, antes da volta às aulas.
Quarentena escolar
Como detalhou a reportagem de capa da 45ª edição da Revista Oeste, em 13 de março do ano passado as escolas públicas e privadas do Estado de São Paulo receberam a notícia de que, na semana seguinte, teriam de fechar as portas por tempo indeterminado. “Não sei se vai durar uma semana, duas semanas, 30 dias ou mais”, disse na época Rossieli Soares, secretário estadual de Educação, numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. “Vamos avaliar dia a dia, até que as autoridades de Saúde digam que as aulas poderão ser retomadas.” Assim teve início aquela que se tornaria a quarentena escolar mais longa do planeta.
Um levantamento realizado pela Unesco e divulgado em 24 de janeiro mostrou que, enquanto a maioria dos países fechou suas escolas por pouco mais de 20 semanas, no Brasil, as crianças e adolescentes ficaram longe das salas de aula pelo dobro do tempo: 40 semanas. Nesse recorde, o país só se equipara à Argentina, Chile, Moçambique e Etiópia. De acordo com o estudo, aproximadamente 800 milhões de estudantes no mundo foram afetados e as instituições de ensino passaram, em média, dois terços do ano letivo fechadas.
No Brasil, quase 50 milhões de estudantes ficaram entregues à própria sorte — particularmente os 80% matriculados em escolas públicas. Destes, cerca de 25% não têm acesso à internet. Uma pesquisa do Ibope realizada em agosto mostrou que, em domicílios com renda per capita de até meio salário mínimo, um quarto dos estudantes não teve sequer acesso à educação remota. No mês de outubro, conforme a Pnad Covid19 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 6 milhões de alunos de 6 a 29 anos, da educação básica ao ensino superior, não tiveram acesso a atividades escolares. Na educação básica, “inexistência de aulas” e “dificuldade com o acesso remoto” foram as principais causas da evasão escolar. No ano da pandemia, cerca de 4 milhões de jovens abandonaram os estudos, segundo uma pesquisa encomendada pelo banco digital C6 Bank.
Alfabetizar as crianças com aulas remotas é um dos maiores desafios. “Pessoalmente, consigo fazer com que elas sintam o som das letras; à distância, não dá”, lamentou a professora Rizomar Maria de Menezes, numa reportagem publicada na Folha de S.Paulo. “Nenhuma criança do primeiro ano conseguiu se alfabetizar. Normalmente, no final dessa série, a maioria estaria lendo e escrevendo um pouco.” Para Alexandre Schneider, ex-secretário municipal de Educação de São Paulo, as crianças não estão apenas paradas. “Muitas vão andar para trás e, para recuperar, levarão dois, três anos”, constatou na mesma reportagem. “É dramático do ponto de vista pedagógico.”
Um estudo coordenado pelo médico Fabio Jung, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e publicado em setembro de 2020, mostrou que o fechamento das escolas também ameaça a saúde psiquiátrica de crianças e adolescentes, compromete a segurança alimentar e os torna mais expostos a abusos e maus-tratos, a drogas e violência. Cerca de 30% das crianças em confinamento podem passar a sofrer de transtorno do estresse pós-traumático.
“É importante entender que a escola vai muito além da aprendizagem”, lembrou Cláudia Costin, na reportagem “A educação pode ser a maior vítima da epidemia de medo”, publicada em Oeste. “A escola é o espaço de socialização, de vivências, além de oferecer uma rede de proteção social à infância.”
Provas irrefutáveis
Pelo menos desde julho de 2020, o mundo sabe que a volta às aulas não compromete a saúde dos alunos nem acelera a transmissão do vírus. Muito menos suscetíveis à covid-19, crianças representam apenas 2% dos casos confirmados da doença e menos de 1% dos óbitos. Além disso, abaixo dos 11 anos, elas transmitem muito pouco e, quando contaminadas, são assintomáticas ou apresentam sintomas leves. O coronavírus é 4,5 vezes menos agressivo que a gripe (influenza) na faixa etária até 14 anos, por exemplo.
Um estudo realizado pela fundação suíça Insights for Education com dados de 191 países e publicado em outubro concluiu que quase todas as nações que estavam sem aulas presenciais na primeira onda da pandemia eram países pobres e que teriam um prejuízo incalculável pelo déficit educacional. A maioria dos que enfrentavam a segunda onda, entretanto, permanecia com as escolas abertas. “Esse é o caso, por exemplo, do Japão, que durante o período do estudo passou por duas ondas de infecção, com o pico da segunda sendo notavelmente mais alto que o primeiro”, mostrou uma reportagem da Gazeta do Povo. “O ápice das contaminações até então havia ocorrido em agosto, durante as férias de verão. Mas o sistema de ensino retornou normalmente às aulas mesmo com os casos ainda bastante altos.”
O economista Luís Artur Nogueira classificou a quarentena escolar como “um crime contra as crianças”. “Neste um ano de pandemia, o número de mortos e contaminados pelo coronavírus aumentou, diminuiu e voltou a crescer mesmo com as escolas fechadas”, observou. “Ou seja, elas não tiveram absolutamente nenhuma influência.” Rossieli Soares, ao lembrar que algumas escolas reabriram para atividades extracurriculares em outubro de 2020, garantiu: “Não registramos uma única contaminação dentro das escolas, nem entre alunos nem entre alunos e professores”.
Irrefutáveis, os argumentos a favor das aulas presenciais englobam constatações científicas que mostram que o afastamento do ambiente escolar prejudica, além do rendimento acadêmico, o desenvolvimento das capacidades sociais, o vínculo aluno-professor e a saúde mental. “Não deveríamos de forma alguma estar discutindo se devemos ou não voltar”, disse Rossieli. “Mas como fazemos para voltar o mais rápido possível.”
Como provou a ameaça de greve dos professores paulistas, não é o coronavírus que põe em perigo o futuro dos estudantes. É o possível confisco do direito à educação, assegurado pelo artigo 205 da Constituição.
Com greve, ou sem greve, pouco importa. A Educação no Brasil é isso aí mesmo. Professores não ensinam, porque não sabem, e alunos não aprendem porque são burros, e não têm nenhum interesse.
Essa é uma tragédia de consequências incalculáveis. Perdas de aprendizado, socialização, etc.
Suspende os salários que voltam logo ao trabalho. Já ficaram de férias por muito tempo e estão mal acostumados. Não são todos que querem isto, mas os que querem esta greve, pode procurar que são os petistas de carteirinha.