Abril veio do latim aprilis, de étimo radicado no grego e no etrusco, para honrar Afrodite, a deusa do amor, depois substituída por Vênus, em conformidade com o nome de seis meses do ano, que começava em março e era então de dez meses no antigo calendário romano, presididos por deuses ou deusas: Jano (janeiro), Febre (fevereiro), Marte (março), Vênus (abril), Maia (maio), Juno (junho).
O nome desta última era composto: Juno Moneta, isto é, Juno Avisa, porque a deusa teria avisado os romanos, por meio do alarido dos gansos a ela consagrados, do ataque dos gauleses ao capitólio no Século IV a. C. Vieram do nome da divindade as palavras moeda e monetário e outras de domínio conexo, como monetização e moedeiro. O escritor francês André Gide, Prêmio Nobel de Literatura, fundador da prestigiosa Editora Gallimard, homossexual assumido, publicou Os Moedeiros Falsos (Lês faux-monnayeurs) em 1925, do qual há boas traduções para o português, uma delas de Celina porto-o Carrero.
Originalmente, a palavra ephemerís, de onde veio efeméride, designou no grego uma tabela para registrar a posição dos astros no céu. Depois deu nome a um caderno, no qual eram marcados os fatos importantes ocorridos naquele dia e compromissos como o de pagar as contas, que não podiam ficar para as calendas, origem da palavra calendário, porque, diferentemente dos romanos, os gregos não tinham calendas. Irônicos, os romanos diziam de um ato que nunca ia se realizar que tinha ficado para as calendas gregas, inexistentes.
Abril tem efemérides marcantes, a começar pelo descobrimento do Brasil no dia 22, em 1500. Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, foi enforcado e esquartejado no Rio, no dia 21, em 1792. Sem contar que no ano de 2022, de acordo com as festas litúrgicas móveis, a Páscoa será no dia 17 de abril.
Se você gosta de consultar almanaques e calendários, vai gostar de saber também de outras curiosidades de abril. Temos o dia do Índio, do Ferroviário, do Engraxate, o dia mundial do Sorriso e o dia da Sogra — esses dois no mesmo dia, não vale fazer sorriso amarelo, a cor padrão para a alegria sem graça —, o dia nacional da Mulher e esta preciosidade semântica: dia 23 é o Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral, combinados com o Dia Nacional do Choro. Involuntariamente apropriada a designação.
Vocês acharam pouco? Ainda temos esses dias de homenagens de utilidade controversa: Dia do Humorista: 1º de abril. Dia do Diplomata, Dia do Contabilista, Dia do Médico-legista, Dia do Corretor e Dia do Desbravador, entre outros. Há outras comemorações: temos o Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil (dia 2) e o Dia Nacional do Livro Infantil, celebrado no dia 18, escolhido por ser a data de nascimento, em Taubaté (SP), de Monteiro Lobato, o maior autor infantojuvenil brasileiro, que recusou pertencer à Academia Brasileira de Letras, autor de sucessos como Reinações de Narizinho e O Sítio do Picapau Amarelo, cujo titular não escapou ao Acordo Ortográfico e encheu-se de hífens. Hoje seria pica-pau-amarelo. Infelizmente não são tão conhecidas outras obras do autor como O Presidente Negro e O Escândalo do Petróleo.
Outras efemérides nos fazem pensar mais. O poeta John Milton, já pobre, porque neto de avô católico que deserdara o pai ao descobrir seu protestantismo; e cego, em consequência de seus anos de presidiário por motivos políticos, vendeu o copyright de sua obra-prima, O Paraíso Perdido, por dez libras, no dia 27 de abril de 1667.
Quanto a primeiro de abril ser o Dia da Mentira, o folclore, de procedência francesa, remonta ao rei Carlos IX, ao determinar em 01/04/1564 que o ano começasse no dia primeiro de janeiro. Até então, muitos países tinham outros calendários, pois foi somente a partir do gregoriano, assim chamado em homenagem a quem o instituiu, o papa Gregório XIII, que tal denominação começou aos poucos a imperar pelo mundo afora. Como quem realmente mandava era sua mãe, Catarina de Médicis, que o instigou à matança da noite de São Bartolomeu — ocorrida a 24 de agosto de 1572, quando cerca de 3 mil protestantes foram assassinados em Paris por uma turba de católicos enfurecidos — a denominação não pegou e nasceu aí o costume de mentir no dia primeiro de abril, pois a ordem do rei não foi seguida.
O escritor Bernardo Guimarães era contumaz pregador de mentiras de abril. E certa vez chamou o médico para atender o filho que havia tomado veneno. O doutor pensou tratar-se de mais uma mentira, e o moço morreu. O autor de O Seminarista e A Escrava Isaura caiu numa depressão da qual nunca mais se recuperou.
Não é mais ministrada nas escolas a disciplina Conhecimentos Gerais, que não pode ser confundida com a cultura de almanaque, modo solerte de criticar o lero-lero de certos homens públicos que adoram exibir seus parcos saberes.
É uma pena que os apedeutas sejam identificados como portadores de cultura de almanaque, palavra vinda do árabe almanakh, designando primitivamente o lugar onde os nômades mandavam ajoelhar os camelos, as indispensáveis paradas das caravanas, e por ter sido esta a razão para a palavra designar também os signos do zodíaco, a casa dos animais vistos na forma como o olho humano agrupava os corpos celestes.
Nas paradas, enquanto homens e animais descansavam, os primeiros tratavam de trocar notícias, informações, em geral sobre o tempo, os caminhos, as safras, atos extraordinários de personagens famosos ou apenas curiosidades.
Os almanaques têm mantido a estrutura original daquelas antigas narrativas, como se pode constatar no Almanach Perdurável, do século XIV, e no Almanach Perpetuum, organizado em Leiria, Portugal, pelo astrônomo e historiador judeu Abraham Ben Samuel Zacuto. Sua obra foi consultada por célebres navegadores, entre os quais Cristóvão Colombo e Vasco da Gama, esquecidos na topografia mundial. Tendo omitido Colombo, o alemão Martin Waldseemüller assim justificou a escolha nos apontamentos que explicavam os mapas do Velho Mundo e do Novo Mundo: “Europa, África e Ásia têm nomes de mulheres, então que esta outra parte seja América, em honra de quem a descobriu”. Mas, como, se quem a descobriu foi Colombo?
Bem, mas esta é uma questão que fica para outubro.
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Deonísio da Silva é autor de De Onde Vêm as Palavras e do romance Stefan Zweig Deve Morrer, entre outros 35 livros. Está publicado também em outros países. No Brasil e em Portugal pelo Grupo Editorial Almedina: www.almedina.com.br
E a mentira dos conservadores, conservam só a ganância, o preconceito, o roubo, a corrupção, a sonegação, a usurpação e as mentiras.
José Roberto Lima… vc sempre olhando no espelho para apontar o dedo!
Lula mentiu: Eu não sei se era dia 1°. de Abril más ele prometeu distribuir as riquesas do Brasil aos pobres e distribuiu aos milionários do Brasil, toda a América do Sul, Cuba, Africa, e Caribe, e enganou todos os Brasileiros, e não levou água ao Nordeste.
Os escritores deveriam perpetuar-se não apenas através de seus textos, seus livros, mas também na vida dos simples mortais. Assim, quando os humanos todos tivessem evoluído e ninguém ficasse sem leitura, poderiam continuar usufruindo da capacidade dessas mentes privilegiadas e dedicadas ao estudo, à pesquisa do seu tempo presente. É devaneio? Concordo que seja. Mas esses escritores têm, também, o poder de nos conduzirem aos sonhos.
Delícia de texto, Professor Deonísio.
O mentiroso mó do Brasil , Luis Inácio Lula Mentiroso e Ladrão da Silva, falar mais o quê ? Nós brasileiros de bem não merecemos conviver com com esse cabra que é uma vergonha para os nordestinos , para o Brasil e o mundo !