De trás do balcão de sua loja, Herta Breslauer viu a mulher entrando aos gritos e indo em sua direção. Trêmula, ela filmava e ouvia insultos como “assassina de crianças” e, por fim, “maldita sionista”, já com a mulher sendo levada para fora por um homem.
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Enquanto urrava, ela ia derrubando objetos das prateleiras. Cada quebra despedaçava um pouco a alma de Herta, conforme contou a Oeste, sua advogada, Lilia Frankenthal.
“Ela está extremamente abalada, extremamente abalada”, disse a advogada. “Esse tipo de crime é repugnante, ele dói na alma, ele acaba com sonhos, ele mexe na própria existência da vítima. Então ela continua muito abalada, e a gente vai tentar que ela se recupere o mais rápido possível, o que não é muito fácil.”
O ataque antissemita, cometido pela chilena Ana Maria Leiva Blanco, ocorreu na última sexta-feira 2 em Arraial d’Ajuda, na Bahia.
O vídeo que circula nas redes sociais mostrou a mulher avançando contra a lojista aos gritos. Ela se referia às ações de Israel contra o grupo terrorista Hamas na Faixa da Gaza, no Oriente Médio, depois dos ataques ao território israelense em 7 de outubro.
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Lilia afirmou que o fato da agressora ter proferido termos antissionistas também a enquadra nos crimes de racismo e de injúria racial.
“Hoje em dia já está mais do que caracterizado que antisionismo é antissemitismo, então não descaracteriza nada, é racismo puro”, afirmou a jurista. “Isso já está em lei.”
Ana Maria, em entrevista para a Rede Globo, pediu desculpas pelos seus atos, mas a advogada de Herta deu a entender que vai até o fim na ação jurídica contra ela.
“Está sendo enquadrada no crime de injúria racial, crime de dano qualificado, crime de tentativa de lesão corporal e crime de ameaça.”
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O objetivo de Lilia, diz ela, é utilizar esse episódio para mostrar que “o crime de racismo é o crime mais repugnante que há”.
“Não se pode normalizar isso, então que ela tenha uma punição exemplar”, acrescentou a advogada. “Antissemitismo é crime inafiançável e imprescritível, não tem nem o que falar, não se pode normalizar isso. Se você trocar o ‘sionista’ para qualquer outra minoria, você vai ver que a pessoa já estaria com certeza sendo punida com o rigor da lei, que é o que nós estamos tentando.”
Acusada não pode sair de Arraial d’Ajuda
De acordo com Lilia, Herta e a mulher em questão não tinham relação pessoal.
“Os filhos se conheciam, porque Arraial d’Ajuda é muito pequena, elas não tinham relação nenhuma, elas tiveram uma ou duas conversas sobre a Guerra de Israel há meses”, relata a representante da vítima.
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“Então não tinha nenhuma justificativa, nenhuma relação entre elas. Ela simplesmente entrou na loja, que viu que minha cliente estava sozinha, perguntando se ela estava feliz, minha cliente não entendeu e ela já desferiu um tapa na cara dela, e minha cliente começou a filmar e aí ela foi tirada da loja à força e quebrou metade da loja.”
O inquérito policial já teve início. Foram deferidas as medidas cautelares (pedidos de antecipação de decisões). Herta, conforme diz a advogada, está sob medida protetiva, com Ana Maria não podendo chegar perto dela sob nenhum aspecto, nem mandar mensagem ou tentar algum tipo de comunicação. A acusada também não pode sair de Arraial d’Ajuda.
“O delegado vai relatar, ela vai ser indiciada e vai começar um processo”, conta Lilia. “Fora isso, ainda tem os danos cíveis, danos morais e todo o resto.”