O clima de caça às fake news que se instaurou no país e se acentuou neste período pré-eleitoral causa medo de censura e outras medidas — como a prisão — aos integrantes do Canal Hipócritas. O grupo de três humoristas foi criado em 2014 em Itajaí (SC) e já alcançou cerca de 2 milhões de seguidores em suas redes sociais e na plataforma própria, fazendo vídeos que desafiam o politicamente correto.
Em entrevista a Oeste, Augusto Pires Pacheco, um dos integrantes do canal, disse que já perdeu a conta de quantos vídeos foram retirados do ar pelo YouTube ou por determinação da Justiça. Embora tenham ganhado a maioria dos processos, ele considera a situação delicada. “Está difícil, porque a pessoa que tem a caneta na mão tem o poder de julgar como bem entende, e não pelo que está na lei”, avaliou. Pacheco adiantou que os vídeos relativos à eleição serão de críticas ao candidato petista.
Leia a entrevista.
1. Como é fazer humor nesses tempos de imposição do ‘politicamente correto’ e de cancelamento de reputações?
Cada dia mais difícil, porque hoje qualquer coisa pode ser considerada ofensiva, racismo, homofobia, como a gente viu o que aconteceu com o Léo Lins [demitido do SBT após fazer uma piada sobre uma criança com hidrocefalia]. Posso não achar engraçada, mas acho que não deveria ter sido retirado do SBT. Cada um pode fazer piada com o que quiser e eu mesmo — pessoa que está ouvindo — coloco limite nessa piada. Hoje os principais obstáculos vêm do establishment. As plataformas como YouTube e Facebook regram o que você pode ou não pode postar e também elas conduzem o andamento da divulgação do seu canal. Isso não é realmente orgânico como todo mundo acha que é. Eles que liberam ou não liberam [o alcance da postagem]. Hoje o principal vilão do crescimento do humor, de um modo geral, são as plataformas. E tem também a parte da Justiça, alguns juízes e o Ministério Público estão julgando como querem e não como devem, não como está na lei. Não estão defendendo a liberdade de expressão, a liberdade das pessoas. Cada dia mais, eles têm tirado essa liberdade nossa.
2. Há grupos ou minorias que estão na linha de frente dos que se consideram mais ofendidos?
Hoje em dia todo mundo está ‘puxando a sardinha para o seu lado’. Vemos vários casos, e um até engraçado é sobre um vídeo em que falamos sobre defensivos agrícolas e recebemos um pedido do Ministério Público, uma recomendação, porque o pessoal disse que estaríamos cometendo um crime, pois não chamamos o defensivo agrícola de agrotóxico. Tem que chamar de agrotóxico. É minoria dos agrotóxicos. Hoje existem várias minorias que se sentem ofendidas, entram com processo para retirar o vídeo do ar, e são sobre coisas absurdas como essa; já nos acusaram de apropriação cultural, de xenofobia, porque eu, que sou catarinense, não posso usar o sotaque nordestino. Já não sei mais contar quantos vídeos nossos foram alvo de protesto, não faço mais ideia. Só de processos do prefeito da cidade a gente já deve ter mais de 15. A censura existe de forma muito pesada, mas estamos ganhando grande parte dos processos.
3. Como será a atuação de vocês durante as eleições deste ano?
Não temos uma atuação direta sobre as eleições, não estamos preparando nada específico. Vamos continuar o mesmo trabalho, mostrando as hipocrisias no geral, principalmente desvendando o lado da esquerda para que o povo realmente ‘caia na real’, para mostrar o que realmente o Lula e o PT fizeram, o que o Lula quer fazer se ele ganhar. Estamos até com a ideia de fazer um vídeo dizendo que o Lula não mentiu, porque, na verdade, ele não mente: ele diz que vai regular a imprensa, que vai perseguir, que vai reverter as privatizações. Ele fala tudo isso, só não vê quem não quer ver; então, a gente vai fazer o vídeo para mostrar que ele fala a verdade.
“Tememos muito o que pode acontecer se a esquerda voltar. Temos de defender a nossa liberdade”
4. Neste clima de caça às fake news eleitorais, vocês temem alguma ação mais pesada por parte dos órgãos judiciais?
Temos muito medo mesmo. Costumamos dizer que nós não somos corajosos, somos ignorantes. Fazemos as coisas sem saber o que vai acontecer, porque somos apenas cidadãos comuns que querem mostrar nosso pensamento. Não existe uma conversa com pessoas, ou trama no ‘gabinete do ódio’ para lançar fake news. Nós falamos do que nós três — eu, o Paulo [Vitor Souza] e o Bismarck [Fabio Fugazza] — pensamos. A gente teme porque eles acham que tudo é uma grande coisa organizada, como se as pessoas não pudessem pensar isso; a gente teme que o nosso canal saia do ar, que possam acontecer prisões. Mas sabemos que este ano é muito importante para o nosso país. Tememos muito o que pode acontecer se a esquerda voltar. Temos de defender a nossa liberdade. Não somos bolsonaristas, não. Luto pela liberdade para mim, para minha filha, pela minha esposa, para minha família, para meus amigos. Por isso o Bolsonaro é o melhor candidato dentro daquilo que penso hoje. Nós somos cristãos, e o cristianismo nos faz conservadores, pessoas de direita.
5. Se vocês não tivessem esse posicionamento, você acha teriam as mesmas dificuldades?
Com certeza, não. Se a gente fizesse humor para um outro lado, considerando os números que a gente tem hoje, o tamanho que nós somos, possivelmente já teríamos um espaço na televisão, em rádio, plataformas e outros meios de ganho. Hoje nós não temos nem condições direito de nos manter. Se fosse de esquerda teria investidores, publicidade, televisão, rádio. Mas, como não defendemos o lado de lá, não defendemos Jesus Cristo gay, não defendemos o aborto, a liberação de drogas, mas trilhamos um caminho muito diferente, não temos nada disso. Mas também não teríamos nenhuma perseguição, com certeza.
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NÓS VAMOS VENCER!!!!
Continuem firmes e verdadeiros. Nós vamos vencer. Amém