Na paróquia Nossa Senhora do Caravaggio, no município de Canoas, Rio Grande do Sul, cidadãos e voluntários compartilharam com a equipe de reportagem de Oeste algumas das experiências vividas nas enchentes. O diálogo ocorreu na última segunda-feira, 13.
O motorista de aplicativo Thiago Couto, de 33 anos, contou que ele, sua mulher e seus filhos — uma menina de 8 anos e um bebê de 3 — foram salvos por uma equipe de voluntários. Eles moravam no bairro Mathias Velho. A casa foi completamente tomada pela enchente.
“Lá na Mathias, foi tudo muito rápido”, relatou Thiago. “Morávamos no segundo piso. A água tomou todo o primeiro piso e já estava subindo para nossa casa. Tanto que, para sair de lá, só fui para a janela e coloquei o pé no barco.”
Os pedidos de ajuda começaram durante o período da tarde. Contudo, a família só foi resgatada de noite. Os filhos de Thiago foram salvos primeiro, enquanto ele e a mulher saíram da casa por volta de meia-noite.
Na paróquia, a família do motorista de aplicativo busca comida e produtos de limpeza. Eles estão abrigados na casa da mãe de Thiago, no bairro Niterói. O homem afirmou que eles só deixarão a residência caso haja uma ordem de evacuação. “Se mandarem evacuar o bairro, não temos o que fazer, mas por enquanto preferimos ficar com minha mãe e deixar o espaço nos abrigos para quem precisa”.
“Não vimos o governo em Canoas”
Geraldo Farias, consultor financeiro de 39 anos, estava de férias em São Paulo quando a catástrofe começou. Ele comprou uma passagem para Florianópolis, em Santa Catarina, e seguiu para o Rio Grande do Sul com uma equipe de voluntários.
Eles tinham o objetivo de realizar resgates no bairro Mathias Velho e ficaram hospedados em uma escola da região. Chegando lá, não havia mais pessoas que necessitavam de salvamentos. Então, começaram a fazer o salvamento de animais com o auxílio de caiaques e permaneceram à disposição para outras demandas.
No dia da entrevista, Geraldo disse que os caiaques seriam levados para Porto Alegre porque, em El Dorado, um grupo de moradores se recusava a sair das áreas alagadas por medo de perder suas casas — que não têm escrituras. Voluntários estariam enviando mantimentos para esses moradores e buscando maneiras de resgatá-los.
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Ele também mencionou que, durante seu trabalho voluntário, raramente viu ações do governo. Os agentes que ajudavam a população eram funcionários públicos que estavam de folga ou de férias. Ao conversar com esses servidores, percebeu que eles queriam ajudar mais, mas não podiam por causa de questões hierárquicas.
Para o consultor, mesmo com o estado de calamidade pública, o “espírito gaúcho” é o que está ajudando as pessoas a enfrentarem as dificuldades. “Cheguei aqui esperando ver as pessoas desoladas, mas todas estão com um espírito elevado”, relatou. “O povo gaúcho é muito forte. Aqui, existem pessoas que perderam tudo e continuam ajudando os outros. É algo muito bonito de se ver.”
O impacto das enchentes em Canoas
Canoas foi uma das cidades gaúchas mais afetadas pelas enchentes. A prefeitura estima que 70 mil casas estão submersas, enquanto 153 mil pessoas foram evacuadas. De acordo com o Censo de 2020, o município tem 348.208 habitantes.