No dia em que Pelé saiu de casa, aos 15 anos, a mãe dele, Celeste Arantes do Nascimento, conhecida como Dona Celeste, ficou contrariada. Não queria que seu filho se aventurasse pelo mundo com aquela idade. Queria tê-lo ao seu lado, pelo menos por mais alguns anos, em vez de vê-lo se arriscar por esse universo ingrato do futebol. Ele foi para o Santos e construiu a mais célebre trajetória do futebol. Agora, um ano e meio depois da morte dele, foi a vez de Dona Celeste: a mãe de Pelé morreu nesta sexta-feira, 21, aos 101 anos na cidade de Santos.
Quem confirmou a notícia foi o neto Edinho em uma postagem nas redes sociais. A causa da morte não foi divulgada. Ela ocorreu no dia em que a maior conquista de seu filho, o tricampeonato pela seleção no México, completou 54 anos.
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Desde sua saída de Bauru, para onde foi porque seu pai, Dondinho, se tornou jogador do Bauru Atlético Clube, Pelé procurou fazer jus ao fato de ter contrariado sua mãe. Reverenciava-a em inúmeras entrevistas. O próprio empenho e capricho com que se embrenhou no futebol também tinham o objetivo de convencer a mãe de que tudo valera a pena.
No dia em que ela completou 100 anos, em 20 de novembro de 2022, Pelé resumiu, em um post no Instagram, a importância dela para a sua vida e sua carreira.
“Hoje, celebramos 100 anos de vida da Dona Celeste”, observou o maior futebolista da história. “Desde criancinha, ela me ensinou o valor do amor e da paz. Eu tenho muito mais de uma centena de motivos para agradecer por ser o seu filho. Compartilho essas fotos com vocês, com muita emoção por celebrar este dia. Obrigado por todos os dias ao seu lado, mãe.”
O Santos Futebol Clube expressou seu pesar pela morte de Dona Celeste, mãe do Rei do Futebol. “Foram 101 anos de uma história de vida inspiradora”, declarou o clube. “Descanse em paz, Rainha. O carinho, a admiração e a gratidão da nação santista são para sempre.”
Felicidade ao ver a glória do filho
Natural de Três Corações (MG), Celeste teve uma infância difícil ao lado do irmão Jorge. Ela conheceu Dondinho (que morreu em 1996) ainda jovem e com ele construiu uma longa história de vida.
A mãe dela morreu no parto do décimo filho, quando Celeste ainda era criança. Foi criada pela irmã mais velha, rigorosa.
Ela contou certa vez que sua maior travessura, nos tempos de menina, era tocar a campainha da casa dos vizinhos e sair correndo. Era fã de matinês no cinema em sua cidade e de conversar com as amigas, entre elas Maria de Lourdes, a futura madrinha de Pelé.
Dona Celeste e Dondinho tiveram três filhos: Pelé, Jair (Zoca, que morreu em 2020) e Maria Lúcia. Nos útlimos anos de vida, passou acamada em uma pensão em Santos, devido a uma doença neurodegenerativa. Recebeu os cuidados de Maria Lúcia.
Discreta, não escondia a felicidade em ver Pelé alçar o mais alto patamar da glória. Mas mantinha a simplicidade, enquanto o filho viajava pelo mundo, parava guerras e encantava multidões. Nunca aceitou, segundo a família, viver em meio ao luxo. Contentava-se em ver a distância as conquistas dele, como se fossem também um pouco dela.
“Oh, meu filho, você me deu tanta coisa, tanta coisa”, disse ela a Pelé, em uma entrevista.
Pelé morreu em 29 de dezembro de 2022, aos 82 anos. A filha Maria Lúcia, porém, afirmou que Dona Celeste não se deu conta da morte dele. Em entrevista à ESPN, aos 78 anos, Maria Lúcia contou que falava com Celeste sobre o irmão.
“Nós conversamos, mas ela não sabe”, disse a filha. “Ela está bem, mas está no mundinho dela. Ela não está sabendo. Ou sabe. Às vezes, eu falo: ‘Celestica, o Dico [apelido de Pelé] tá assim’. Ela abre o olho, e eu falo: ‘Vamos rezar por ele’. Mas ela não está consciente”.
O Santos decretou luto de três dias, para homenagear a mãe daquele que deu fama mundial ao próprio clube. Uma espécie de “mãe do futebol brasileiro.” Disso, ela sempre soube.
RiP guerreira!