Fundada em 2016, a produtora de vídeos Brasil Paralelo já produziu cerca de 50 documentários sobre diversos temas como história do Brasil, pandemia, engrenagem do Supremo Tribunal Federal e crise na Argentina. A empresa não capta recursos públicos e todas as produções são totalmente financiadas com capital próprio. “Não aceitamos editais, fundos estatais, incentivos e bancos públicos, nada. Cem por cento do nosso financiamento vem dos nossos membros assinantes”, explica Lucas Ferrugem, um dos sócios da Brasil Paralelo.
Ferrugem é também o responsável pela direção do mais novo documentário da produtora, lançado em 14 de junho. Com a proposta de apresentar um olhar diferente sobre a cobertura do meio ambiente no Brasil, Cortina de Fumaça se debruça sobre a questão do ambientalismo, a atuação das ONGs no setor e o potencial do agronegócio brasileiro. “Se conservadores (ou outros grupos políticos) não querem deixar o exercício dessa pauta exclusivamente para a esquerda, devem apresentar sua visão a respeito do tema”, defende Ferrugem, em entrevista a Oeste.
O documentário conta com o depoimento de personalidades como o agrônomo Alysson Paulinelli, indicado ao Prêmio Nobel da Paz, e o relator do Código Florestal Brasileiro, Aldo Rebelo, e a participação de outros ex-ministros de governos anteriores, de diferentes espectros ideológicos. “Essa era uma missão importante que visava a demonstrar que a abordagem da pauta não era uma abordagem partidária, mas uma urgência social”, diz o diretor.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
O que levou a Brasil Paralelo a produzir um filme sobre o ambientalismo?
É uma pauta que sempre tivemos vontade de abordar e talvez seja a bandeira política mais importante do século 21, ainda é cedo para dizer. No último ano, o tema ganhou fôlego no Brasil por meio das polêmicas com a [ativista sueca] Greta Thunberg, queimadas na Amazônia, entre outros. Parecia um bom momento para trazer mais informações para o debate público.
Durante a pesquisa sobre o tema, o que mais surpreendeu?
Sempre achei que o Brasil fosse um gigante do agronegócio pelo clima e pelo tamanho da área plantável. Em parte, isso é verdade, mas durante a pesquisa para o documentário descobrimos que a produção brasileira depende da tecnologia e do conhecimento tanto quanto do bom clima e do bom território. Os trabalhos desenvolvidos pela Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] e pelo agrônomo Alysson Paulinelli trouxeram conhecimento e tecnologia para o Brasil, permitindo um crescimento de mais de 500% no volume da produção, além de ganho de produtividade.
O homem da cidade muitas vezes visualiza o agronegócio como economia primária, algo sem valor agregado e feito por pessoas de baixo conhecimento. Não é verdade. É um processo de complexidade alta e muitos diferenciais são exigidos para o Brasil ser o maior exportador agropecuário líquido do mundo.
Quais foram as maiores dificuldades na produção desse filme?
Conseguir bons entrevistados de diferentes espectros ideológicos. Essa era uma missão importante que visava a demonstrar que a abordagem da pauta não era uma abordagem partidária, mas uma urgência social. Conseguimos ex-ministros dos governos Dilma, Geisel, Lula e Temer. Também conversamos com o cofundador do partido Novo, com o autor do Código Florestal brasileiro, com lideranças indígenas, com presidentes de ONGs, empresários e jornalistas. Acredito que foi um trabalho de pluralidade que buscou encontrar os pontos em comum entre personagens que normalmente são antagônicos no cenário político.
Que referências foram usadas na produção de Cortina de Fumaça?
Apocalypto, Uncharted, Narcos, Sicario, Guy Ritchie… Enfim, citar referências pode soar um pouco maluco. Mas é assim mesmo, um conjunto de referências emocionais e visuais, com muitas coisas que vamos misturando e, ao colocar o conteúdo em cima, nasce o filme que vai ao ar.
Quem ganha e quem perde com as narrativas que hoje são veiculadas pela imprensa tradicional a respeito do meio ambiente brasileiro, tanto no âmbito nacional quanto internacional?
Quem ganha com isso é quem vive desse sistema, seja por depender dos votos ou por depender do dinheiro que vem disso. São as ONGs que têm o seu financiamento totalmente atrelado às supostas medidas de proteção do meio ambiente, políticos que vivem dessas bandeiras, produtores europeus e/ou norte-americanos que precisam de medidas protecionistas para os seus produtos.
Agora, quem perde é um número muito maior de pessoas. Não são apenas os fazendeiros, os homens do campo, os indígenas. São também todos os brasileiros que não desfrutam do desenvolvimento econômico que isso poderia trazer para o país. Estamos falando do aumento da qualidade de vida para todos. E esse impacto não se traduz apenas no Brasil. Consumidores europeus recebem um produto cada vez mais caro e de pior qualidade em razão dessas falsas bandeiras.
“Se todas as ONGs formassem uma nação, elas já seriam a quinta maior economia do mundo. É muita grana envolvida”
Um dos temas centrais de Cortina de Fumaça é a questão do trabalho das ONGs no Brasil. Um depoimento que chama muita atenção é o do ex-diretor do Greenpeace Patrick Moore, que se tornou um crítico do movimento que ajudou a fundar. Pode-se dizer que várias ONGs vivem hoje apenas da “causa” para receber financiamento?
Sem dúvida. O orçamento anual do Greenpeace gira em torno de R$ 1 bilhão. Tudo vem de doações de pessoas que acreditam que eles estão salvando o meio ambiente. Existem mais de 30 mil ONGs ligadas ao ambientalismo no mundo e, segundo estudo elaborado pela Universidade John Hopkins, se todas as ONGs formassem uma nação, elas já seriam a quinta maior economia do mundo. É muita grana envolvida.
O filme aborda também a questão das previsões ambientais catastróficas que nunca se tornam realidade e acabam por cair em descrença. Como isso interfere na visão que as pessoas têm sobre a relação do ser humano com o meio ambiente?
É uma visão separatista artificial. Aqui estamos nós e lá está o meio ambiente. Duas coisas separadas, em que a parte humana é cruel e vai lá destruir a parte virgem e inocente. Seja qual for a sua cosmovisão, essa interpretação não fica de pé. Não somos parasitas da natureza, fazemos parte dela.
Por que Ricardo Salles, então ministro do Meio Ambiente, não participou do filme?
Ele foi convidado, mas, durante a produção do filme, Salles acabou imerso em diversas polêmicas midiáticas. Creio que isso dificultou sua vida e por isso não conseguiu agenda para participar.
Leia também a entrevista com o agrônomo Alysson Paulinelli, publicada na Edição 59 da Revista Oeste
Outro tema abordado pelo documentário é a questão do infanticídio indígena e de práticas culturais ainda hoje exercidas por algumas tribos. Com tantas questões envolvendo o assunto, por que a escolha desse enfoque?
Porque nos lembra que é um drama humano, e não meramente econômico. Um sempre acaba no outro. A manutenção do infanticídio é a prova máxima de quanto esse desejo megalomaníaco de querer administrar uma cultura e um povo pode destruir vidas.
Na obra Filosofia Verde — Como Pensar Seriamente o Planeta, o filósofo inglês Roger Scruton defendia a ideia de que a preocupação com o meio ambiente era uma causa conservadora. Por que o tema virou agenda de esquerda?
É natural que uma agenda popular seja impulsionada por organismos políticos que querem ser legitimados com poder e dinheiro para agir em nome da causa, mas não acho que tenha virado uma agenda exclusivamente de esquerda, e é exatamente por isso que ela é uma pauta tão popular. Se conservadores (ou outros grupos políticos) não querem deixar o exercício dessa pauta exclusivamente para a esquerda, devem apresentar sua visão a respeito do tema. A ausência ou a passividade sobre determinado assunto acaba dando a impressão de que ele é de um grupo político específico.
“O sequestro da bandeira ambiental”, artigo publicado na Edição 63 da Revista Oeste
O BRASIL PARALELO PRECISA FAZER UM FILME SOBRE A LINHA DO TEMPO NAS REDES SOCIAIS.
Documentário corajoso!
Hoje estou a fim de contar segredo como no meu face sobre o segredo de cura dos jogadores de futebol que nenhum jornalista procurou saber. Agora tenho que contar que exatamente seis anos atrás (e não é muito), eu e a minha esposa fomos uma palestra numa dessas universidades criadas para ganhar dinheiro e promover cursinhos técnicos. Convidaram o editor de um jornal que estava lançando um caderno rural. Antes da palestra estávamos conversando no saguão e a tal de reitora estava espantada, por que convidar alguém para falar de agricultura e pecuária? Ela iria se ficar escabelada logo no início quando foi passado um vídeo com duas moças partindo para um rodeio levando suas S-10 com dois cavalos de raça. No decorrer da matéria entrevistam as duas: elas, na época, com mestrado, em veterinária e outra em nutrição animal. Foi mostrado elas na fazenda criando porcos, cavalos, ovelhas e gado bovino de corte e leiteiro. Elas participavam da lida desde as 5 horas da manhã. Ao final de semana se empiriquitavam e saiam para suas baladas. Além disto, também dirigiam potentes colheitadeiras e tratores. A reitora quase teve um treco e exclamou lá pelas tantas: Mas isto é nos Estados Unidos, só pode ser…. Era aqui no RS. Depois alguém de uma emissora viu e passou no programa dominical rural. Sem falar em jovens com menos de 25 anos de idade que saíram de atividades de salário-mínimo no comércio e foram para o campo manipular drones e máquinas de 2 bi. Ainda tem gente que acha que a roça da enxada e foice está presente. Até existe num sertão nordestino algumas pessoas que necessitam de apoio, mas o agronegócio impulsionou a economia, a tecnologia, o ambiente social… ah, a ecologia (termo antigo) ganhou espaço importante entre produtores rurais de todos os níveis. Passar shampoo no pelo dos cavalos já causou chiliques numa senhora que assistia e com um poodle no colo…
Vou assistir ao documentário hoje!