Aldo Rebelo*
A pretexto de criticar o trabalho da unidade Embrapa Territorial, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e de seu pesquisador Evaristo de Miranda e equipe, um grupo de acadêmicos brasileiros publicou em uma revista holandesa o artigo “O Risco de Falsas Controvérsias para as Políticas Ambientais brasileiras”.
O Brasil descrito pelos autores do artigo é um predador das florestas e da biodiversidade nacionais, embora os acadêmicos não se deem ao trabalho de explicar as razões pelas quais o Brasil acolhe 30% da biodiversidade do mundo apenas na Amazônia e conserva a maior floresta tropical úmida do planeta.
Sem apontar objetivamente um erro sequer nos trabalhos da Embrapa ou um único estudo contraditório produzido em suas academias, a certa altura da exposição a fúria do artigo se volta contra o Novo Código Florestal Brasileiro do qual fui relator na Comissão Especial constituída na Câmara dos Deputados para debater, analisar e proferir parecer sobre a matéria. Segundo o arrazoado dos articulistas, o Novo Código Florestal teria fragilizado o arcabouço institucional encarregado de proteger o meio ambiente de nosso país.
A questão é que, contrariando os argumentos desses detratores acadêmicos do Código, o Observatório do Código Florestal, uma espécie de ONG das ONGs e que reúne desde WWF, SOS Mata Atlântica, ISA, The Nature Conservancy, IPAM, Imaflora, entre outras, proferiu opinião em sentido oposto durante a Conferência do Clima de Paris, em 2015, em análise na qual apontou o Código Florestal como fiador das metas propostas pelo Brasil na reunião.
Na ocasião, a diretora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Andreia Azevedo, integrante do Observatório declarou que “o Código Florestal é o principal instrumento legal que permitirá ao País atingir sua meta de redução dos gases de efeito estufa.”
Em 2018, em encontro realizado em Belém, a diretora da ONG com sede na Holanda Solidarid, Maria de Lourdes Espinoza, classificou o Código Florestal Brasileiro como a legislação ambiental mais rígida entre todos os países produtores de soja.
As acusações, anacronismos e falsas controvérsias dos articulistas espalham desinformação e refletem seu profundo desconhecimento da agropecuária e do mundo rural brasileiro. Provavelmente não houve na história do Brasil lei mais discutida, submetida a escrutínio mais rigoroso, com a realização de mais de 200 audiências públicas e reservadas, com agricultores, ambientalistas, cientistas, pesquisadores, gestores ambientais, magistrados, membros do Ministério Público e interessados em geral. A votação da primeira versão do Código Florestal na Câmara dos Deputados colheu 410 votos favoráveis de parlamentares de todo o espectro partidário e ideológico e apenas 63 votos contrários.
É de se perguntar se os que subscrevem o texto com reparos ao Código leram as fundamentações que apresentei ou se deram ao trabalho de consultar as atas das audiências públicas, já que não se disporiam a percorrer o roteiro de visitas que alcançaram todo o território nacional, todos os biomas de fronteira a fronteira da Pátria.
Os detratores do Código na revista holandesa estão desafiados a apresentar outra legislação, de qualquer outro país do mundo, que seja mais restritiva ao uso da propriedade do que a legislação brasileira. É evidente que se não o fizeram na catilinária publicada é porque não encontraram nenhum caso no mundo que pudessem apontar.
Ao apresentar o Brasil como vilão do meio ambiente os roteiristas do faroeste do clima estavam obrigados a indicar os mocinhos protetores da natureza e da floresta nos países ricos. Poderão fazê-lo em audiência que, ao que parece, o Senado promete realizar sobre o assunto, à qual terei a imensa curiosidade de ouvir os autores do texto e com eles debater.
O Brasil cometeu e comete uma lista interminável de pecados na sua relação com a natureza. Da mesma maneira que é também verdade que não somos os pecadores cercados de querubins protetores do clima, carregados de virtudes e munidos da autoridade internacional para castigar o pecado alheio. Que todos os pecadores se apresentem diante do mesmo confessionário e recebam o castigo proporcional aos seus erros.
O Novo Código Florestal Brasileiro pacificou o país, deu ao meio ambiente garantias sem comparação com nenhuma outra norma no mundo, ofereceu aos produtores rurais a segurança jurídica mesmo ao preço de sacrifícios e renúncias sem comparação com nenhum outro produtor do planeta. Ao manifesto da discórdia publicado na revista holandesa o Brasil oferece o Código da Concórdia.
(artigo publicado no site bonifacio.net.br)
*Aldo Rebelo é jornalista, presidiu a Câmara dos Deputados, foi relator do Código Florestal, da Lei de Biossegurança, e ministro nas pastas: Coordenação Política e Relações Institucionais; do Esporte; Ciência, Tecnologia e Inovação e da Defesa
Ótimo artigo. Uma vergonha termos brasileiros sabotando a pátria em troca de migalhas.
Os adeptos do cancelamento criam uma narrativa falsa e convocam seus parceiros a manifestar apoio. Desprovidos que qualquer lógica ou embasamento acadêmico, buscaram criar uma onda para cancelar o histórico e a vida cientifica e profissional vitoriosa de um grande pesquisador da Embrapa. Além dos pontos elencados nesse excelente artigo, sobreveio a verdade conhecida, experimentada, vivida e ratificada por milhares de produtores rurais brasileiros. Dr. Evaristo Miranda, o seu trabalho e trajetória dignificam e enaltecem o nosso tempo e são um baluarte na luta contra tempos estranhos.
Artigo lúcido e esclarecedor. Honestidade intelectual é necessária para um debate profícuo na Academia. Na ausência daquela a “produção” ecoa apenas como um panfleto.
Ey cabrón! Tudo bem?
Ramiro aqui 🙂
Perdi seus contatos, dá um alô por email depois! Abs!
Aqui estão os 12 autores do tal artigo:
Raoni Rajão (Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG); Antonio Donato Nobre (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais-INPE); Evandro Cunha (UFMG); Tiago Ribeiro Duarte (Universidade de Brasília-UnB); Camilla Marcolino (UFMG); Britaldo Soares-Filho (UFMG); Gerd Sparovek (UFMG e Universidade de São Paulo-USP); Ricardo Rodrigues (USP); Carlos Valera (Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC); Mercedes Bustamante (UnB); Carlos Nobre (INPE); e Letícia Santos de Lima (UFMG e Universidade Autônoma de Barcelona).
Nossaa…Minas Gerais é um paraiso né?! Tem florestas pacas… kkkkk
INPE é aquela coisa medonha e “freak” que vive divulgando “mapas fake/antigos de incendios florestais no brasil?!?!
É só puxar a capivara desse meliante mentirosos e vocês emxergaram dedos de PTralhas na indicação desses aos cargos.
Texto excelente. O autor, além de conhecer o assunto “Código Florestal Brasileiro”em profundidade, é objetivo e pontual nos questionamentos sobre a publicação holandesa cheia de vícios e ma fé, cujo resultado final foi prejudicar a Embrapa e a agropecuária brasileira. Que fique aos leitores da Revista Oeste, especialmente ao público urbano, a informação real dos investimentos dos produtores brasileiros na proteção de suas áreas. Independentemente de esquerda ou direita, reconhecer o trabalho e a dedicação do mundo “rural” deveria ser orgulho para este país.
Aldo Rebelo um deputado esquerdista se apresenta como um defensor responsável pelo atual código florestal. É muito interessante a posição dele uma vez que o código foi aprovado com uma esmagadora maioria de votos (410 favorável vs 63 desfavorável). Mas há um senão que coloco, pois, esse código foi aprovado quando estava no governo petista quando havia muita compra de votos através dos mecanismos desde as verbas parlamentares como propinas. Reforço que há esse porém que precisa ser melhor avaliado.
Por outro lado ele está afirmando que os autores da publicação na Holanda não apresentam uma prova do controverso. E isso é um destaque importante sobre o que se publicou.
Sugiro que Revista Oeste investiguie melhor esses pontos.