A Rodovia Carlos Tonani (SP-333), cercada por vastos canaviais, atravessa um importante refúgio de fauna silvestre entre Sertãozinho e Barrinha, no interior de São Paulo. A Reserva Biológica Augusto Ruschi, com 840 hectares, teve mais de 90% de sua área consumida por queimadas que duraram três dias, no começo deste mês.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o fogo não só destruiu a vegetação, mas também eliminou até 80% da fauna local. O Núcleo de Proteção e Bem-Estar Animal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agricultura de Sertãozinho divulgou os dados.
+ Leia mais notícias de Brasil em Oeste
A área queimada corresponde à metade dos 1,6 mil hectares de unidades de conservação estaduais afetadas pela atual crise, segundo levantamento parcial da Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
Embora significativas, as unidades de conservação atingidas são pequenas, em comparação aos 6,2 mil hectares de vegetação nativa queimados em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e reservas legais em propriedades rurais, conforme dados da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.
Ao todo, o fogo atingiu 66,8 mil hectares de florestas paulistas, equivalentes a 44% da área do município de São Paulo. Equipes da prefeitura e voluntários em Sertãozinho trabalham para resgatar e alimentar os animais que sobreviveram.
Animais aparecem depois de queimadas
Segundo a Folha, que visitou a área no último domingo, 22, os únicos pontos coloridos eram mamões maduros sobre um tronco. Equipes avistaram animais no local, como capivaras, macacos-prego, teiús, passeriformes e um furão, duas semanas depois de controlar o incêndio, em 8 de setembro, segundo o veterinário da prefeitura Luís Belezini.
“Ainda são encontrados animais que tenham tido consequências diretas ou indiretas das queimadas, com parte do corpo queimado ou desnutridos”, relatou Belezini.
Leia também: “O Brasil está pegando fogo”, reportagem de Anderson Scardoelli publicada na Edição 224 da Revista Oeste
Até o momento, a prefeitura resgatou seis animais: um cachorro-do-mato, um filhote de lobo-guará, um sagui-de-tufo-preto, um tamanduá-bandeira, um tatu-galinha e um filhote de urubu. Os agentes levaram os bichos para o centro de tratamento anexo ao Zoológico de Ribeirão Preto. O plano de recuperação da área inclui reflorestamento com espécies nativas, um processo que pode levar décadas.
“Estudam utilizar sementes envolvidas em hidrogel, para garantir a umidade necessária para a planta sobreviver naquele solo tão seco”, explicou a engenheira ambiental Gabriela Galon, ex-secretária do Meio Ambiente de Sertãozinho.
Animais devem voltar para o local
Especialistas também consideram a eventual reintrodução de animais saudáveis na área, mas essa etapa será futura. A introdução de mais animais pode aumentar a competição por água e alimento, o que representa riscos para os sobreviventes e os novos espécimes.
O núcleo de atendimento à vida silvestre de Sertãozinho conta com quatro servidores. O órgão precisa de apoio para lidar com o aumento de ocorrências envolvendo animais afetados. Em nota, a Secretaria de Agricultura da gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) informou que um plano de recuperação do local está em desenvolvimento.
Leia mais: “Incêndios: de quem é a culpa?”, reportagem de Artur Piva publicada na Edição 232 da Revista Oeste
A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do governo estadual afirmou que adotou medidas emergenciais e preventivas. Entre as ações estão o fechamento de 81 unidades de conservação em 1º de setembro, medida considerada eficiente. Existem cerca de 1 milhão de hectares sob proteção da secretaria, e a área queimada representa pouco mais de 0,1%, segundo dados do governo.