Segundo investigação do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, chefe do PCC (Primeiro Comando da Capital), encomendou a morte de outros três integrantes da alta cúpula da organização criminosa durante uma mensagem repassada ao membros da organização na quinta-feira 15.
A informação teria sido repassada por um “salve” (uma orientação geral aos membros da facção) investigado pelo MP-SP. Os membros do PCC marcados para morrer por Marcola seriam três antigos aliados: Roberto Soriano, o “Tiriça”; Wanderson Nilton de Paula Lima, o “Andinho”; e Abel Pacheco de Andrade, o “Vida Loka”. Todos os criminosos cumprem sentença na Penitenciária Federal de Brasília.
De acordo com o Estadão, o PCC passa por uma racha que seria motivada pela insatisfação em relação ao poder acumulado por Marcola. O líder da facção teria tomado decisões consideradas contraditórias pela alta cúpula do grupo. Outro fator da divisão interna foram as declarações de Marcola que levaram Tiriça à condenação em um caso de assassinato.
O membro do PCC Tiriça foi condenado a 31 anos e 6 meses de prisão em 2023 pela morte da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, de 37 anos de idade. O assassinato aconteceu em maio de 2017, em Cascavel, Paraná, quando Melissa atuava na Penitenciária Federal de Catanduvas.
No tribunal do júri do Roberto Soriano foi usado um trecho de gravação em que o Marcola dizia que ele não era como o Tiriça, que não era ‘sanguinário’ ou ‘louco’ como ele, que tomou aquela medida de mandar matar a psicóloga.
Promotor de Justiça Lincoln Gakiya ao Estadão
O Promotor explica que “isso foi fundamental na condenação de Tiriça. E o Soriano não perdoa e não perdoou o Marcola por isso. A situação está causando uma discussão interna”.
Porém, no “salve” interceptado pela polícia, o PCC afirma que Marcola não teve a intenção de prejudicar Tiriça, e que a insatisfação de membros da facção criminosa a esse episódio seria injustificada.
Todos aqueles que se levantarem no intuito de criar racha e discórdia dentro da nossa organização serão excluídos e jurados de morte.
Trecho do “Salve”
O “Salve” do PCC foi replicado não só dentro das prisões, como também entre membros do grupo nas ruas, inclusive via grupos de WhatsApp.
‘Salve’ contra Marcola evidencia racha no PCC
Segundo a polícia, os três integrantes do PCC jurados de morte também tentaram emitir um “salve” contra Marcola. Ofensiva que, de acordo com os investigadores, evidencia o racha na organização criminosa.
A crise no grupo é agravada pelas tentativas recorrentes em libertar Marcola e também pelas circunstâncias do assassinato de Rogério Jeremias de Simone, o “Gegê do Mangue”, suposta liderança em ascensão no PCC. Ele foi arremessado de um helicóptero depois de ser executado a tiros e facadas.
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Gakiya explica ainda que “esse racha se dá justamente por isso: eles questionam várias ações do PCC, inclusive a de se priorizar o Marcola e deixar os outros sem qualquer tipo de importância”. O Promotor de Justiça investiga a atuação do PCC há duas décadas, ele ressalta que hoje o “acerto de contas” está mais difícil, porque membros da facção cumprem sentenças no sistema federal.
O Marcola está preso em presídio de segurança máxima há décadas. Mas manda. Chefia. Então cabe a pergunta: se está preso, como pode mandar, como pode chefiar? Será que essa pergunta não “intriga” ninguém? Tudo muito natural. Esse manda sem sair da cadeia, o outro saiu da cadeia para mandar.