Condenado a 30 anos, dois meses e 20 dias de prisão pela morte da própria filha, Isabella Nardoni, jogada da janela do sexto andar de um edifício em 2008, Alexandre Nardoni deve enfrentar dificuldades para migrar para o regime aberto. Isso ocorre pela recusa do preso em fazer o teste de Rorschach.
Conhecido como “teste do borrão de tinta”, o exame traz dez pranchas brancas, oito delas com manchas abstratas pretas e duas com desenhos coloridos. O psicólogo apresenta uma a uma ao detento, que precisa dizer o que vê em cada uma delas durante duas horas.
É comum que criminosos, principalmente os não-confessos, evitem passar pelo teste por receio de que ele revele elementos como uma personalidade violenta e desejos assassinos. Ao fim da aplicação, o profissional responsável elabora laudos remetidos ao juiz responsável, que leva o resultado em consideração ao decidir se autoriza ou não a liberdade.
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Nardoni nunca admitiu ter participado do assassinato de Isabella. No Tribunal do Júri, em 2010, e em todos os exames criminológicos que fez no presídio de Tremembé, no interior de São Paulo, alegou ser inocente. Segundo a sua versão, um ladrão entrou no apartamento quando a menina estava sozinha. O assaltante teria pego uma tesoura na gaveta da cozinha, cortado a tela de proteção da janela do quarto das crianças e arremessado a vítima.
Segundo o promotor Luiz Marcelo Negrini, que acompanha a execução da pena dos presos de Tremembé, outro grande obstáculo para Nardoni será justamente o assassinato cometido por ele.
“Quando o crime é hediondo e muito violento, a Justiça dificulta mais a liberdade”, afirmou à coluna True Crime, do jornal O Globo. “A Justiça costuma ser mais benevolente quando concede as saidinhas, porque é uma liberdade ‘muito curta’, mas, para mandar o preso para a liberdade, as exigências são mais rigorosas.”
Em agosto de 2010, Nardoni entrou em regime semi-aberto. Daqui a pouco mais de um mês, no dia 4 de abril de 2024, ele terá cumprido dois quintos da sentença e estará apto a pedir progressão para o regime aberto.
Para garantir sua liberdade, no entanto, deverá fazer exame criminológico e o teste de Rorschach para mostrar como lida com o crime que cometeu. O teste também deve constatar se o preso se arrepende de ter matado a própria filha. A pena de Nardoni só deve terminar em 2035.
Além de Nardoni, Justiça já determinou teste de Rorschach para outros criminosos
Em outros casos, a Justiça também estabeleceu o exame psicológico como um pré-requisito para progressão ao regime aberto.
Suzane von Richthofen, condenada a 40 anos de prisão por arquitetar o assassinato dos pais, também estava em Tremembé. Ela foi submetida quatro vezes ao teste de Rorschach por determinação judicial. Em todas as vezes não foi detectado, pelo psicólogo aplicador, arrependimento pelo crime.
Nos laudos, foram constatados narcisismo, agressividade camuflada e personalidade infantil. O resultado contribuiu para que a saída da cadeia demorasse mais. Embora já estivesse apta, pelo tempo cumprido de pena, a obter o regime aberto em 2018, Suzane só deixou a penitenciária no ano passado.
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Outro preso que enfrenta dificuldades para obter a progressão é Gil Rugai. Condenado a 33 anos de reclusão por ter matado o pai e a madrasta, ele é apto a cumprir a pena em liberdade há cerca de três anos.
Entre outras razões, Rugai não obteve o benefício porque, assim como Nardoni, se recusa a fazer o teste de Rorschach. Ao dar parecer desfavorável à mudança de regime, o promotor Paulo José de Palma relatou que, de acordo com a análise dos psicólogos, o criminoso apresenta comportamento egocêntrico com traços de impulsividade, imaturidade e fantasias ligadas às suas necessidades pessoais.
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