Nos últimos anos, vários brasileiros têm optado pela Rússia para estudar medicina para fugir dos custos das faculdades particulares no Brasil. Eles viajam mais de 11 mil quilômetros para estudar em um país com hospitais antigos e clima extremo.
Este ano, 164 médicos formados na Rússia se inscreveram no Revalida, um aumento de 382% em dez anos, segundo o Inep.
Depois da formatura, muitos brasileiros encontram dificuldades para permanecer na Rússia e retornam ao Brasil. No programa Mais Médicos, 117 profissionais formados na Rússia atuam no SUS.
De acordo com os entrevistados pelo jornal Folha de S. Paulo, o sistema público brasileiro se destaca em atenção primária e higiene em comparação com o sistema russo. A Rússia, no entanto, possui mais leitos de internação e hospitais especializados.
À Folha, a médica Bárbara Parente, que estudou em Kursk, relatou os desafios de viver na Rússia durante o conflito com a Ucrânia e as dificuldades econômicas causadas pelas sanções internacionais.
Em 23 de fevereiro de 2022, Bárbara viu uma fileira de tanques marchando em direção à fronteira com a Ucrânia durante uma viagem. No dia seguinte, a invasão russa ao país vizinho começou.
“Disseram que era uma operação militar normal, então fui para casa e dormi”, disse, em entrevista. “De madrugada, minha mãe ligou falando que tinha começado a guerra. Fiquei em choque”.
Na faculdade, as aulas eram em inglês, com aprendizado de russo para facilitar a vida no país. Bárbara descreve a estrutura hospitalar como antiga, mas eficiente.
Custo de vida
A Universidade Médica Estadual de Kursk tinha mensalidade menor do que a de uma particular brasileira: ela pagava US$ 3.100 por semestre, ou R$ 11,7 mil na cotação de 2015, quando se mudou.
Com as sanções, o custo de vida aumentou e parte do comércio, incluindo lojas estrangeiras, fechou. Seis meses depois do início da guerra, quando se formou, Bárbara voltou ao Brasil. Hoje, ela trabalha em Manaus (AM) pelo programa Mais Médicos.
Vitória Haefle, que também se formou em Kursk, compartilha da opinião de Bárbara sobre a “superioridade” do SUS em aspectos preventivos e de higiene.
Ela também elogiou a robusta estrutura de aquecimento na Rússia e afirmou que o custo de vida no país é similar a de uma cidade no interior do Brasil. Depois de se formar, Vitória participou da tradição do “banho russo”, mergulhando em águas a -15°C.
Diferenças entre os sistemas de saúde da Rússia e do Brasil
Lucas Corbo, outro médico formado na Rússia, destacou as diferenças nos métodos de higiene entre os sistemas de saúde dos dois países.
Enquanto o SUS usa materiais descartáveis, na Rússia, itens como luvas e toucas são esterilizados para reutilização. Lucas também mencionou a xenofobia enfrentada por estudantes estrangeiros em hospitais russos.
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