As notícias “climáticas” desde a virada de 2023 até o final do mês de janeiro de 2024 foram bastante tumultuadas, trazendo os costumeiros alardes sobre o calor e o “aquecimento global” cada vez mais severos, altas temperaturas e a culpa dos humanos em tudo isso. As afirmações, contudo, além do terrorismo costumeiro, são baseadas em eventos isolados, dentro da estação climática sazonal propícia, como o verão, e nada têm de novidade.
Comecemos pela estação sazonal. Notem que, excluindo as raras exceções, os alardes termométricos ocorrem na estação de verão. Essas notícias de pânico infundado surgem durante o verão do Hemisfério Norte, mas depois migram para o Hemisfério Sul quando chega a nossa estação, seis meses depois. Embora sejam as condições normais para a estação sazonal, existem quadros meteorológicos que propiciam condições mais exacerbadas, só que estas não são o padrão.
Já descrevemos aqui muitas vezes as situações em que temos as ocorrências de alta insolação e ausência de nuvens. Esse é o quadro mais específico para que ocorram temperaturas elevadas, nada tendo a ver com “mudança climática”. A situação de um bloqueio atmosférico ou a da presença de uma alta pressão atmosférica em superfície, oriunda de um grande anticiclone semiestacionário são bastante naturais e geralmente assinam esses quadros meteorológicos de altas temperaturas.
Se são quadros meteorológicos, porém, são passageiros. Já alertamos sobre isso aqui algumas vezes, em especial, o “quente” verão europeu, em que as pessoas mais se sentem bem do que se queixam, tendo em vista a sua brevidade de apresentar essas condições em duas ou três semanas apenas. Basta uma alta polar móvel (APM) mais severa se deslocar para as latitudes mais baixas e acabou a festa do verão europeu. Curiosamente, esse mesmo quadro ocorreu aqui no Brasil, no final do mês de janeiro, atingindo os Estados das Regiões Sul, Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Uma APM quebrou o ciclo de dias com temperaturas elevadas, e seus efeitos se fizeram presentes nestas regiões por quase a semana final inteira de janeiro.
Uma vez que a APM chegou, sumiram as notícias alarmantes na mesma proporção. É como se o frio fosse um inseticida, expulsando as baratas midiáticas. Assim, para as pessoas que estão mais atentas, ressaltamos mesmo a existência desse fenômeno migratório midiático das notícias de altas temperaturas. Ora ao Norte, no seu verão, ora ao Sul, também no seu verão. No entanto, deixamos as perguntas sobre a paridade nas manchetes. Será que eles noticiam com a mesma veemência as temperaturas baixas e, em especial, as recordes ou próximas disso? Especificamente, se você estiver no Hemisfério Sul, no escaldante “aquecimento global”, será que verá muitas notícias do frio do inverno no Hemisfério Norte e todas as mazelas que o acompanham com a mesma intensidade ou apenas breves citações?
Pois bem, enquanto em janeiro de 2024 a mídia no Brasil fazia seus alardes ridículos das temperaturas elevadas no Rio de Janeiro, por exemplo, e também em outros locais, no mesmo momento, na Europa, o rigor dos quadros meteorológicos de inverno mostravam as suas facetas, com tempestades de neve, recordes de temperaturas do ar mínimas em várias cidades, além de todos os percalços causados na população, cada vez com energia mais cara para aquecimento, cerceadas em seu direito de se aquecer no inverno por causa do “aquecimento global”. Nas latitudes mais altas do Hemisfério Norte, animais morreram de forma instantânea por severas ondas de frio, não só os selvagens, mas até mesmo os abrigados em estábulos. A cidade de Pequim, a capital chinesa, experimentou o dezembro mais frio desde que os registros meteorológicos sistemáticos se iniciaram, em 1951.
O que será que aconteceu? Será que o “aquecimento global” foi “dar um tempinho” ou se escondeu atrás do armário? É claro que, para resolver esse impasse, os falsos profetas e seus escribas já têm a receita de bolo pronta. Quando se trata de altas temperaturas é o efeito do “aquecimento global”, mas quando ocorrem coisas inesperadas, como um frio intenso, são as “mudanças climáticas”. Pois bem, daremos mais uma vez xeque-mate no rei com um peão, usando seus próprios artifícios paradoxais com que eles mesmos nos brindam.
A seita aquecimentista gosta de elencar a sua “teoria da gaussiana” para supor cada vez mais ocorrências de altas temperaturas. De fato, de teoria não tem nada, pois não tem comprovação científica, tratando-se apenas de uma hipótese já bastante refutada e rasa, cujos eventos recentes demonstram mais uma vez como a ideia é inapropriada.
A curva da gaussiana apresenta um formato semelhante a uma lombada, com as extremidades atingindo os valores baixos, ou zero, e que limitam a parte interior, cujo centro apresenta um pico arredondado, devidamente no centro de flexão da curva. Entre o ponto central de flexão e os extremos baixíssimos, ela apresenta uma rápida ascensão de um lado e rápido declínio do outro. Pois bem, para o caso de clima, os adeptos do aquecimentismo utilizam essa ideia para computar e distribuir todas as ocorrências de temperaturas do ar que supostamente formariam a curva. Os eventos extremos de altas e baixas temperaturas são ocorrências raras, portanto, seu cômputo é baixíssimo, ocupando então, os extremos da curva, até a sua completa inexistência (ocorrência “zero”). Das demais temperaturas do ar médias, quanto mais corriqueiras, mais ocorrências, e, portanto, mais casos computados na parte alta da curva.
Claramente, eles elegem o valor central do pico como a fadada e fantasiosa temperatura do ar média global. Daí, invertem a situação de causa e consequência, fazendo uma inferência de que se a temperatura do ar média global subir, significará que toda a curva da gaussiana será transladada na igual forma para a direita (sinal positivo), permitindo temperaturas mais altas, onde não existia (as ocorrências “zero”) do lado direito da curva. Também supor-se-ia que seriam normais outras ocorrências de temperaturas não tão altas, mas primordialmente, as temperaturas mínimas seriam elevadas na mesma proporção no lado oposto. Em outras palavras, temperaturas mais baixas que antes eram registradas, deixariam de existir, o que de fato não ocorreu, porque continuamos a registrar valores de temperaturas muito baixos.
Além de estragar a hipótese da gaussiana com os eventos da realidade, também sabemos que ela é falha em predizer que as distribuições de ocorrências seriam tão precisas. Contudo, o que nos chama mais atenção não é esse artifício, mas como mascaram as ocorrências de baixas temperaturas, tão marcantes desde o ano de 2007, especialmente com a inversão das fases da oscilação decadal do Oceano Pacífico e o frio antártico.
De fato, desde 2007 tivemos diversos eventos muito interessantes, como nevascas na África do Sul, tempestades de neve no Oriente Médio, sem contar marcas de temperaturas baixíssimas na Antártida de 2012 a 2014 e seu superinverno de 2021, além da atividade intensa de ciclones extratropicais no Hemisfério Sul, de 2021 a 2023. Só por esses fatos, deveríamos repensar como estipulam tal média de temperatura, pois o cômputo de valores ditos positivos, nem tão além do normalmente observado, parecem ser neutralizados pelos repetidos valores negativos.
De fato, se pensarmos que os principais registros de temperaturas do ar médias globais são tirados por sensores a bordo de plataformas espaciais, isto nos traz outro problema, especificamente quando os valores são positivos. Em quadros meteorológicos em que há alta insolação e ausência de nuvens, a superfície altamente energizada aquece muito o ar do primeiro substrato da troposfera (a primeira camada da atmosfera de baixo para cima) mais próximo ao chão interferindo drasticamente nos valores. Não foi à toa que verificamos, no ano de 2023, que os principais contribuintes para registros mais elevados de valores de temperaturas fossem os desertos.
De qualquer forma, em vez de acusarem as atividades humanas e o CO2 como os grandes responsáveis pelo suposto aquecimento ou da alteração do clima, deveriam primeiramente investigar com mais profundidade algo intrínseco à dinâmica climática global que é a redistribuição de energia entre a região tropical e as polares. Há fortes indícios de que as zonas de transição não estão sendo eficientes nas transferências entre as áreas equatoriais de superávit de energia e as deficitárias polares. Como resultado, temos a parte tropical um pouco mais energizada, apresentando leve variação das temperaturas elevadas, contra o frio proeminente dos polos, especialmente a Antártida, tendo em vista que as dinâmicas dos hemisférios são completamente diferentes. Como ressaltamos, há diversos indicadores que sinalizam esse efeito.
Vale ressaltar que as atividades de sensoriamento remoto planetário e do grande desenvolvimento dos processos de medições sistemáticas ocorreram muito recentemente, justamente no final do nosso atual período interglacial, onde as temperaturas são mais baixas que no seu início, cujos valores eram pelo menos 3,0 a 4,0oC mais quentes. Além disso, a era dos satélites nasceu na chamada segunda oscilação quente do século 20, que ocorreu no seu final, desde 1980. Sendo assim, não deveriam causar nenhuma estranheza duas coisas: nem as ocorrências de baixas temperaturas entrando na série, muito menos os registros de algumas altas temperaturas, porque, como dissemos antes, isso já aconteceu neste atual período interglacial, só não foi registrado pela nossa tecnologia. Em linguagem mais simples, parem de impor limites à natureza climática, transformando os registros em monstros. Como recorda o geólogo, professor Ian Rutheford Plimer, passamos por um período terrestre em que nada de tão interessante está a ocorrer que, quando algo aparece, vira um alarde, com o agravante de culpabilidade humana. Além disso, vale lembrar que toda vez que a Terra entrou em um novo período glacial, ocorreram pequenas elevações de temperatura antes do mergulho abismal. Embora nosso interglacial esteja no seu final, estima-se que ainda teremos pelo menos uns 200 anos para que algo assim sinalize, ou seja, ainda estamos abençoados com o calor.
Leia também: “A paranoia ambientalista”, artigo publicado na Edição 203 da Revista Oeste
Excelente Professor Felício. Uma mente que tem coragem de se desprender do grupo de maritacas que só sabem repetir o mesmo enredo.
Tchê Ricardo: é boa tua reflexão, embora tudo depende de muitos elementos. Não sou da área. No entanto, nestes últimos dias tenho revisado alguns textos meus publicados com o tema Tropeirismo. E justamente alguns momentos em que viveram os tropeiros desde o século XVIII até início do século XX, houve relatos (baeados em boaas fontes) de dificuldades na travessia de rios cheios devido as “tormentas”. Tive em mãos um diário de um tropeiro dos campos gerais do Parná que vinha até aqui no RS, em várias jornadas. E ali ele aponta rios que não davam passagem em certas épocas do ano. Depois outros tropeiros também relatavam a descida da serra dos campos de Lages até o litoral catarinense, onde as saias da sera ofereicam perio devido as chuvaradas. Um, em especial que mostrei para os meus amigos, foi a desccida de Bom Jardim da Serra (rio do rastro), até Orleans. Cito vídeo que fiz ainda em 1998 com um velho tropeiro da Vila de Silveirra, interior de São José dos Ausentes, aonde ele também relata que no verão ou no início da primavera eles não viajavam porque o perito era grande nas encostas da serra. Apesar de muita pesquisa por décadas, não encotrei a Greta dizendo que aquelas chuvaradas desde o Iguaçú até o Pelotas eram fenômenos atrelados às mudanças climáticas…
registros da realidade. Gostei. Obrigado.