Um vazamento de água da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) tem prejudicado a vida dos moradores da Rua Travessa Poço das Trincheiras, no bairro Vila Verde, região de Itaquera.
Os cidadãos relataram a Oeste que a viela, ligada a uma rua sem saída, está com vazamento de água há quase cinco meses.
Maria José da Silva, uma das moradoras do local, afirmou que a empresa corta o abastecimento todas as noites desde antes da pandemia.
Ela disse que a medida foi implantada como uma maneira de economizar o recurso hídrico da região. O problema é que, com o vazamento, as pessoas acabam ficando sem água no período noturno.
“À noite não tem água para tomarmos banho”, explicou Maria. “A gente não tem água à noite, mas fica vazando durante o dia.”
A mulher tem 51 anos e trabalha como cozinheira. Ela afirmou que, quando precisa pegar transporte por aplicativo para poder ir trabalhar, tem de se deslocar até a parte de baixo da rua. Isso porque os motoristas não querem passar por cima do vazamento que atinge a viela. “O Uber não quer subir mais aqui, porque acha que vai abrir o buraco.”
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Não é apenas a possibilidade de rompimento do asfalto que preocupa os moradores. De acordo com Silvana Moura, uma analista de compras que mora na travessa, escorregões são comuns por causa do vazamento de água. “Minha mãe tem Alzheimer e ela já escorregou aqui”, afirmou a mulher, de 48 anos.
Apesar de a rua ser sem saída, existe um fluxo considerável de carros e moradores. Além dos veículos que derrapam ao subir a ladeira, a situação é um risco para as crianças que descem e sobem a rua correndo. A circulação de idosos também é um fator preocupante.
“A experiência aqui está sendo péssima”, afirmou uma outra moradora de Vila Verde. “Eu, que sou motorista da viela, toda vez que vou subir, o carro derrapa. Os moradores que sobem com as crianças da escola acabam escorregando, porque a nossa calçada não é bem estruturada. A gente precisa passar pelo meio da rua, e, quando passa, acontecem os acidentes.”
Quanto de água se perde em São Paulo?
Um gráfico divulgado pela Sabesp mostra que a perda de água por ligação (casa) chegou a 252 litros em 2021.
Atualmente, a empresa atende 26,9 milhões de habitantes e opera 6,8 milhões de ligações, em 366 cidades por dia. Com base nesses dados, estima-se a perda diária de 1,7 bilhão de litros do recurso — uma média de 53 bilhões no mês e 636 bilhões no ano.
Design de Gabriel SouzaSegundo explicações da própria Sabesp, a perda de água é contabilizada de duas maneiras: perdas físicas ou reais e perdas não físicas ou aparentes.
Perdas físicas ou reais acontecem quando o recurso é desviado antes mesmo de chegar à casa do consumidor (vazamento). Esse desperdício ocorre por causa do desgaste de tubulações e elevadas pressões. Os vazamentos, inclusive, podem ser visíveis (quando saem pela superfície) e não visíveis (quando não saem).
Perdas não físicas ou aparentes dizem respeito ao recurso consumido, mas que não é contabilizado. Casos assim ocorrem por causa de fraudes e ligações clandestinas, conhecidos como “gatos”.
A Sabesp se manifesta
Os moradores da Rua Travessa Poço das Trincheiras entraram em contato com os canais oficiais da Sabesp pela primeira vez no dia 14 de março. De lá para cá, foram três tentativas com as mesmas respostas e os mesmos resultados: nenhum.
Confira, em ordem cronológica, as mensagens trocadas entre uma moradora e a companhia. Vale ressaltar a promessa da empresa, nas três ocasiões, de atender ao pedido num prazo de 24 horas.
Sem sucesso na primeira tentativa de resolução com a companhia de saneamento básico, a mesma moradora entrou em contato com a Sabesp mais uma vez, no dia 4 de abril. Veja:
Por fim, no dia 25 de abril, a mesma moradora tentou encontrar uma solução para o vazamento de água mais uma vez. A expectativa de solução, no entanto, bateu de frente com as respostas programadas da Sabesp.
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“A última informação que temos da unidade é que ela está na prorrogação do pedido até o dia 15 de julho”, explicou a atendente à moradora. “Eles informam que a empresa contratada já está em atividade para o comparecimento. Eles precisam desse prazo maior para toda a tratativa.”
Oeste entrou em contato com a Sabesp para apurar todas as informações. A empresa transferiu a ligação para diversos setores: a ouvidoria mandava para o central de atendimento e vice-versa. Não houve resolução.
População aciona Câmara de São Paulo para cobrar a Sabesp
Revoltados com a ineficiência do serviço, os moradores da Rua Travessa Poço das Trincheiras entraram com um ofício na Câmara Municipal de São Paulo e pediram uma vistoria ao presidente da companhia, André Gustavo Salcedo. O documento foi assinado pelo vereador Ricardo Teixeira (União).
“Solicitamos ao senhor verificar a possibilidade de realizar vistoria em vazamento de água na Travessa Poço das Trincheiras”, diz o documento. “O pedido objetiva atender à solicitação dos moradores da região, que, segundo informações, o vazamento segue intenso há três meses.”
“Agora, a nossa função é acompanhar a tramitação, até a execução ou resposta do órgão responsável”, afirmou a assessoria do vereador.