2001 – Uma Odisseia no Espaço foi um fracasso no seu lançamento em 1968. Na pré-estreia em Nova York, boa parte da plateia abandonou o cinema. Foram os jovens da época que descobriram que aquele filme de Stanley Kubrick era um dos melhores filmes de ficção científica de todos os tempos. Quem o assiste ou o revê agora, percebe que ele está cada vez mais atual.
2001 funciona como uma sinfonia em quatro movimentos. Começa com uma cena na pré-História, segue para a Lua em 2001 quando um misterioso monolito negro é descoberto na lua. O terceiro “movimento” mostra uma dramática viagem para Júpiter, e o quarto é o mais obscuro e aberto a interpretações.
A ideia foi desenvolvida por Kubrick e pelo autor de ficção científica Arthur C Clarke. Quanto mais Clarke queria explicar as coisas, mais Kubrick criava elementos misteriosos no filme, deixando as possíveis interpretações a cargo de quem interessa – ao espectador.
O tema de 2001 são os extraterrestres – embora nenhum alienígena apareça. Fala também dos riscos da inteligência artificial (através do célebre computador HAL-9000). Kubrick previu aqui a privatização da exploração do espaço. A nave que leva os personagens à Lua tem a marca da empresa aérea (já extinta) Pan-American. A estação orbital tem uma filial do hotel Hilton a bordo.
A estética de 2001 é única. As cenas são longas, quase sem cortes, o que dá uma ideia de realismo. E é bom aqui lembrar que em 1968 não existia a computação gráfica. Foi tudo realizado com miniaturas, cenários e talento. A trilha sonora também é muito marcante. Kubrick optou por música clássica: o Danúbio Azul (de Johann Strauss), Assim Falou Zaratustra (de Richard Strauss) e peças do autor húngaro de vanguarda György Ligeti. As obras de Ligeti são especialmente assombrosas e refletem a solidão no espaço.
A última sequência, que teoricamente mostraria uma aproximação e pouso em Júpiter foi transformada por Stanley Kubrick num espetáculo psicodélico de cores. Quanto ao final em si, nem tente procurar uma explicação. Ele foi planejado para desconcertar o espectador e nos jogar num território mental que foge do obvio, dando uma ideia do quanto somos limitados. E, geralmente, arrogantes. Numa inversão de expectativas, os astronautas são gelados e impessoais. O personagem mais “humano” é o computador HAL-9000.
Um verdadeiro clássico!