Quando o colombiano Gabriel García Márquez lançou sua obra prima Cem Anos de Solidão em 1967 não havia como negar um sentimento de orgulho em cada latino-americano. Márquez fez sucesso mundial com seu romance, que inaugurava um novo estilo, o “realismo mágico”. Era fascinante ver essa mistura de realismo cru com cenas fantasiasiosas, uma escola que gerou muitos seguidores. Entre eles o brasileiro Dias Gomes, com sua ousada novela Saramandaia (1976). Ainda recentemente a Disney lançou o longa de animação Encanto (2021), ambientada na Colômbia e obviamente inspirada pela obra de Márquez.
Acontece que Gabriel García Márquez, além de grande escritor, era um comunista fanático, amigo do peito do ditador cubano Fidel Castro, de quem chegou a ser empregado. Com medo de que sua obra fosse transformada num filmaço em Hollywood, ele proibiu que qualquer adaptação fosse feita fora da Colombia e em qualquer língua que não fosse o espanhol.
Como o autor não falou nada contra receber o dinheiro dos imperialistas ianques, a Netflix financiou a versão em dezesseis capítulos de Cem Anos de Solidão lançada esta semana. O primeiro episódio parece um daqueles filmes do “cinema novo” brasileiro recheados de miséria e sexo gratuito. A direção de Laura Mora e Alex García López é marcada pela falta de imaginação, com a câmera na mão perseguindo a ação sem muita noção da linguagem cinematográfica. O elenco passa uma clara noção de amadorismo. Tudo parece meio falso como o bigodão que surge na imagem original.
A série vai melhorar nos capítulos seguintes? Tomara. Mas produções ambiciosas desse tipo costumam apresentar o que tem melhor no primeiro episódio para capturar a atenção do espectador logo de cara. Se esse piloto é o melhor que a série tem para oferecer…