Pode parecer pura nostalgia. Mas basta ter ouvidos para entender o quanto o conceito de música pop mudou para pior. Os discos pop de hoje – com a geração Taylor Swift – se acomodam numa única fórmula, e se repetem ao infinito, pois ninguém exige mais nada desses artistas. Eles produzem música por quilo acompanhados por clipes apelativos.
A dupla de compositores conhecida Steely Dan (Donald Fagen e Walter Becker), que reinou nos anos 1970 e 1980, fazia o contrário disso. Eles trabalhavam duro para que cada faixa de cada um de seus discos fosse diferente da anterior. Cada detalhe da instrumentação, de cada melodia, de cada letra, era trabalhado exaustivamente, numa época em que programas de computadores não corrigiam as vozes de cantores ruins.
Aja, o disco, foi lançado em julho de 1977 com algumas das músicas mais sofisticadas já criadas por Fagen e Becker. Eles criavam canções pop com a complexidade harmônica de composições de jazz. Um exército com alguns dos maiores músicos de estúdio da época foi convocado para gravar Aja: Paul Griffin, Larry Carlton, Lee Ritenour, Chuck Rainey, Steve Gadd, Bernard Purdie, Tom Scott, Wayne Shorter, Michael McDonald e muitos outros.
Um dos milagres do Steely Dan era fazer com que músicas de construção tão complexa soassem como canções pop dessas de assobiar num dia de sol. Algumas letras são enigmáticas, outras falam de cenas cotidianas, como o diálogo de um casal numa lanchonete, à beira do rompimento.
Músicas como “Peg”, quando ouvidas muitas vezes, revelam seus detalhes da instrumentação. Como a rica linha do baixo de Chuck Rainey e o solo definitivo de Jay Graydon na guitarra. Assim era música pop, sem truques, feita de pura qualidade.