Os amantes de seriados de TV e que estão acompanhando a temporada 2025 de premiações certamente não ficaram surpresos com a frequente menção ao título Shogun: A Gloriosa Saga do Japão. Uma superprodução assinada pela FX e disponível no streaming da Disney+, a série conquistou uma legião de fãs com seus 10 episódios da primeira temporada. O resultado foi uma enxurrada de indicações: foram 92 no total e 81 vitórias. Shogun foi premiada nas quatro categorias em que concorria no Globo de Ouro; e no Emmy, considerado o Oscar da televisão, a série levou 18 prêmios para casa. Todos comemoraram, menos uma pessoa: Jerry London, o diretor da série televisiva original Shogun, lançada em 1980, que veio à público para fazer duras críticas ao projeto. “O remake da FX só ganhou o Emmy porque não teve muita concorrência”, disse. “Conversei com muitas pessoas que assistiram e elas disseram: ‘Tive que desligar porque não entendi'”.
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Pausa! Como é que é essa história? Série original de 1980? Sim, talvez o público mais jovem não saiba, mas Shogun — antes de qualquer coisa — é um drama histórico épico baseado no romance homônimo de 1975, de James Clavell. Em 1980, o britânico Jerry London, que fez sua carreira em Hollywood dirigindo algumas séries populares como The Brady Bunch, The Bob Newhart Show e The Mary Tyler Moore Show, encabeçou o audacioso trabalho de levar à televisão a minissérie Shogun, com um total de nove horas de duração. Grande sucesso de público e crítica, o Shogun de Jerry London foi ao ar na NBC em setembro de 1980, em cinco episódios. Quando chegou a temporada de premiações, a minissérie recebeu 14 indicações ao Emmy, incluindo Melhor Série Limitada (ou Especial), além do Globo de Ouro de Melhor Drama.
Em entrevista ao The Hollywood Repórter, Jerry London argumenta que a versão da FX “não foi feita para um público americano”. O diretor refere-se principalmente ao fato de que a série é praticamente toda falada em japonês, mas também porque a adaptação do livro é focada na história japonesa, especialmente no drama das relações políticas envolvendo o personagem Toranaga, que é o Shogun da trama. “A minha foi baseada na história de amor entre Blackthorne e Mariko”, disse ele.
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Nenhuma das versões está errada; Shogun trata de política e de amor
Em resumo, a história de Shogun descreve como surge a amizade e a lealdade entre dois homens de mundos completamente diferentes. De um lado há John Blackthorne, um navegador e explorador britânico cujo navio acaba naufragando no Japão. Ele e sua tripulação são feitos prisioneiros. Alguns homens são sumariamente mortos. Blackthorne deverá ter o mesmo fim, mas ele consegue chamar a atenção dos seus algozes revelando informações sobre a geografia do mundo até ali desconhecidas dos japoneses. Temporariamente poupado, é assim que Blackthorne é colocado frente a frente com Toranaga, um astuto e poderoso daimiô (nobre japonês ligado ao imperador) que vive em desacordo com seus perigosos rivais políticos. A dificuldade da língua torna a comunicação entre eles bastante complicada, mas então surge Lady Mariko, uma jovem inteligente que eventualmente irá se apaixonar por Blackthorne.
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O romance de James Clavell é bastante complexo e parte de eventos históricos reais ocorridos num Japão feudal extremamente violento, entre os anos de 1554 e 1600. Foi um período em que o Japão parecia submisso aos comerciantes portugueses, sobretudo à ordem jesuíta da Igreja Católica, que sob as ordens da Coroa Portuguesa fazia de tudo para esconder do imperador e seus samurais o que existia no mundo além das fronteiras nipônicas. Uma condição que só tomaria um rumo diferente por conta justamente da presença de Blackthorne, personagem que é vagamente baseado no histórico navegador inglês William Adams, que no Japão se tornou um samurai sob o comando do daimiô e primeiro shogun do Xogunato Tokugawa do Japão, Tokugawa Ieyasu, que inspirou o personagem Toranaga.
Jerry London, 88 anos de idade e uma pitada de inveja
A versão de Shogun 2025 fez história nas premiações do ano, estabelecendo alguns recordes. Foi a série com mais vitórias no Emmy em uma única temporada, além de se tornar a primeira em língua japonesa a ganhar o prêmio de Melhor Série Dramática. Anna Sawai, que interpreta Lady Mariko, é a primeira asiática ganhadora do prêmio de Melhor Atriz Principal em Série Dramática. Jerry London afirmou ter ficado “perplexo” com tudo isso, uma vez que a série é muito técnica e muito difícil para um público americano entender. “Eles fizeram basicamente para o Japão”, disse. “Até achei bom, porque não queria que meu programa fosse copiado.”
O fato é que Jerry London, atualmente com 88 anos de idade, demonstra que além da insatisfação está na verdade irritado porque a imprensa especializada não fez nenhuma referência à adaptação original que ele dirigiu. “Acho que fiz um trabalho tão bom, e ele ganhou tantos elogios”, disse London. Num tom que está no limite entre a decepção e uma ponta de inveja, London lamentou que sua série não tenha sido revisitada em meio ao novo Shogun. “Não foi dito muito sobre o meu trabalho”, disse. “Além disso, a nova série tem basicamente apenas um ator britânico (Cosmo Jarvis) e, francamente, ele não tem o carisma que Richard Chamberlain tinha.”