A USC Annenberg Inclusion Initiative (AII), grupo de estudo e reflexão do departamento de jornalismo da University of Southern California (USC), divulgou nesta semana um relatório que indica que o “protagonismo feminino finalmente atingiu paridade com homens nos filmes de maior arrecadação de 2024”. De acordo com o estudo, que avalia gênero, raça/etnia e idade dos atores principais e coprotagonistas entre os 1,8 mil filmes de maior arrecadação de 2007 a 2024, as protagonistas femininas finalmente atingiram paridade com homens, pelo menos no que diz respeito à representação. “Esta é a primeira vez que podemos dizer que a igualdade de gênero foi alcançada em filmes de maior arrecadação”, afirmou a dra. Stacy L. Smith, líder do grupo na conclusão do relatório.
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Ainda de acordo com o estudo produzido pelo grupo da USC AII, cujo principal financiador é a Ford Foundation, dos cem filmes de maior arrecadação de 2024, 54 apresentaram uma menina ou mulher em um papel principal ou coprotagonista. Isso marca um salto significativo em relação a 2023, quando apenas 30 filmes apresentavam uma protagonista “identificada” como mulher. “Em 2024, três dos cinco melhores filmes tiveram uma garota ou mulher em um papel principal, assim como cinco dos dez melhores filmes — incluindo o filme nº 1 do ano, Divertida Mente 2, da Disney”, disse Stacy L. Smith, sem mencionar que o filme em questão é uma animação.
![USC Annenberg Inclusion Initiative](https://medias.revistaoeste.com/wp-content/uploads/2025/02/print-usc-AII.png)
A pergunta que não quer calar: faz alguma diferença?
O que chama atenção no estudo feito pela USC Annenberg Inclusion Initiative é que em nenhum momento se mencionam resultados de forma generalizada, mas, sim, levando-se em conta apenas os filmes de maior arrecadação. Ou seja, a preocupação não é somente com identidade gênero e representatividade no mercado de trabalho como um todo, mas, sim, ter a mulher representada naqueles filmes que são os mais vistos pelo público. Aliás, não existe até o momento nenhum estudo que apresente uma tendência de mais ou menos homens e mulheres em todos os filmes produzidos, de forma generalizada. Trata-se, portanto, de um critério vago e com possibilidades enormes de resultados frustrantes. Por mais que os estúdios apostem no sucesso de bilheteria de uma produção, levando-se em conta altos investimentos e a escalação de homens e mulheres que carregam o titulo de estrelas do cinema, ainda existe a possibilidade de o filme ser um fiasco diante do público.
Causa relativa estranheza, também, que um estudo como o da USC AII seja realizado num mercado como o de Hollywood, historicamente inclusivo no protagonismo do elenco de uma produção cinematográfica quando o quesito é identidade de gênero. A história do cinema norte-americano mostra que, nas mais diferentes épocas, as mulheres não só tiveram protagonismo como eram peças fundamentais na narrativa de um filme. Como a lista é infinita, seguem exemplos de alguns clássicos feitos entre 1950 e 1970 em que os protagonistas formam uma dupla composta de um homem e uma mulher: A Um Passo da Eternidade (1953) contava com Deborah Kerr ao lado de Burt Lancaster; Sabrina (1954) tinha Audrey Hepburn e Humphrey Bogart; Intriga Internacional (1959) apresentou Eva Marie Saint e Cary Grant; Bonequinha de Luxo (1961) não seria o mesmo sem Audrey Hepburn como par romântico de George Peppard; Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas (1967) não existiria sem Faye Dunaway e Warren Beatty; Butch Cassidy (1969) perderia seu charme sem Katharine Ross e Paul Newman. Todos esses filmes marcaram época e, não por acaso, são lembrados tanto por suas histórias quanto pela química entre os protagonistas.
![](https://medias.revistaoeste.com/wp-content/uploads/2025/02/Deborah-Kerr-Burt-Lancaster.jpg)
O que interessa é o público; e as mulheres já dominam
De acordo com uma pesquisa realizada pela Gallup Poll em dezembro de 2019, apenas nos Estados Unidos as mulheres frequentam o cinema em média 5,6 vezes ao ano, enquanto os homens o fazem 5,1 vezes. Outro estudo realizado em 2024, agora em relação ao streaming, revela que 52% dos usuários da Netflix são mulheres e 48% são homens. Além disso, uma pesquisa feita em 18 países revelou que 57% das mulheres usam ao menos um serviço de streaming, em comparação com 55% dos homens. É fato que os dados sugerem que, nos Estados Unidos e em boa parte do mundo, as mulheres tendem a frequentar o cinema um pouco mais do que os homens, além de representarem uma parcela ligeiramente maior dos usuários de serviços de streaming. Isso ocorre inclusive no Brasil, onde as mulheres dominam as assinaturas dos serviços de streaming, com 65,98%. Ocorre que em nenhuma dessa pesquisas há os seguintes questionamentos: uma mulher assiste a um filme para ver outra mulher? Um homem escolhe um filme apenas porque o protagonista seja homem?
Os questionamentos talvez não sejam feitos porque nada disso interessa. O público quer simplesmente assistir a boas histórias. Por outro lado, o The Celluloid Ceiling, relatório elaborado pelo Centro de Estudos de Mulheres na Televisão e no Cinema da Universidade Estadual de San Diego, em 2022, informava que 19% dos roteiristas nos 250 filmes de maior bilheteria daquele ano eram mulheres — ou seja, os homens correspondem a 81% dos roteiristas. E esse dado faz algum sentido quando se sabe que, na maior parte dos casos, roteiristas homens tendem a escrever histórias com protagonistas também homens. Nem é preciso ir muito longe: Emilia Pérez, produção que domina a corrida do Oscar 2025 ao concorrer em 13 categorias, tem roteiro escrito por Jacques Audiard e Thomas Bidegain, com a colaboração de Léa Mysius (uma mulher).
![Karla Sofia Gascón](https://medias.revistaoeste.com/wp-content/uploads/2025/02/Karla-Sofia-Gascon-1.jpg)
A história é sobre um homem, um violento assassino e chefão do tráfico de drogas no México, que precisa desaparecer do radar da polícia. A solução mágica do criminoso é mudar de identidade e se tornar uma mulher, a Emilia Pérez do título. Para fazer o papel, a produção escolheu a atriz trans espanhola Karla Sofia Gascón. Público e crítica, em muitos países do mundo, estão destruindo o filme não só por conta das polêmicas declarações de Sofia Gascón, mas principalmente porque a história não agradou. Karla Sofia Gascón, é bom lembrar, está indicada ao Oscar de melhor atriz. Seria interessante saber o que grupo da USC Annenberg Inclusion Initiative terá a dizer caso um homem ganhe um prêmio destinado a uma mulher.
iGUALDADE DE GENERO só é requerida quando trabalha com burocracia, pois quando é uma atividade que tenha risco como subir em torres pra trocar fiação, entrar em esgoto, lipar janelas de predios em andaime, mulher alguma quer lutar pela igualdade. Até policiais femininas não vão pro combate, ficam cuidando de burocraciao mês todo e somente saem em eventos pra ajudar a fazer revista em mulheres. Se tiver alguma combatente do dia a dia, parabens vc é um orgulho e o sonho de muitos homens e duvido que ja passou pela sua cabeça essa militancia de igualdade fake. Pois vc não quer igualdade, quer ser exatamente diferente das outras mulheres e diferente dos homens!