Neil Gaiman finalmente quebrou o silêncio e veio a público se manifestar contra as acusações de abuso sexual que vem sofrendo. O britânico Gaiman, um dos autores mais badalados do universo da literatura pop, até agora não havia se pronunciado em relação às acusações que vinha recebendo desde o final de 2024 e que ganharam holofotes nos últimos dias, após reportagem feita pela revista norte-americana Vulture.
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Gaiman escreveu um longo texto em seu próprio Blog, intitulado Quebrando o Silêncio, no qual reflete sobre o momento e, principalmente, nega que tenha cometido qualquer ato sem consentimento com outra pessoa, afirmando ainda que sempre tentou fazer o seu melhor. “Nunca me envolvi em atividade sexual não consensual com ninguém. Nunca.”, escreveu Gaiman.
Apenas relatos, sem provas
A novaiorquina Vulture publicou a reportagem sobre Gaiman em dezembro de 2024. Segundo as informações levantadas pela revista, os casos de abuso teriam ocorrido há pelo menos duas décadas. O texto traz o depoimento de Scarlett Pavlovich, uma das supostas vítimas, contando que tinha 23 anos quando Gaiman a agrediu sexualmente poucas horas depois de seu primeiro encontro, em fevereiro de 2002. A reportagem afirma que Scarlett teria se reunido com outras mulheres que também acusaram o autor.
Uma delas é Kendra Stout, que tinha 18 anos quando conheceu Gaiman em uma sessão de autógrafos em Sarasota, nos EUA, em 2003. Segundo ela, seu relacionamento romântico com Gaiman começou quando ela completou 20 anos e Gaiman tinha cerca de 40 anos. Kendra contou que ela se submeteu a sexo violento e doloroso, mas que “não queria nem gostava.”
A reportagem da Vulture informa que o primeiro caso relatado foi divulgado no podcast Master: As alegações contra Neil Gaiman, da Tortoise Media. Numa série de quatro episódios, o podcast discutiu sobre os relatos das mulheres sobre sexo violento e degradante com o autor, que, segundo elas, nem sempre foi consensual.
Gaiman: romance, quadrinhos e cinema
Neil Gaiman é um dos mais importantes escritores britânicos contemporâneos, autor de contos, romances, histórias em quadrinhos e roteiros para cinema. Entre suas principais obras se destacam os romances Deuses Americanos e Belas Maldições. Sandman, personagem que dá título ao seu trabalho icônico nos quadrinhos, ganhou uma série de televisão. Em 2007, na companhia de Roger Avary, Gaiman escreveu o roteiro do longa Beowulf, dirigido Robert Zemeckis.
No texto publicado em seu blog, Gaiman explica que permaneceu em silêncio até agora por respeito às pessoas que estavam compartilhando suas histórias, mas principalmente por um desejo de não chamar ainda mais atenção para muita desinformação. “Estou longe de ser uma pessoa perfeita, mas nunca me envolvi em atividade sexual não consensual com ninguém”, escreveu o autor.
Leia a seguir o texto de Neil Gaiman traduzido na íntegra. Confira o original aqui.
Nos últimos meses, tenho assistido às histórias que circulam na internet sobre mim com horror e consternação. Fiquei quieto até agora, tanto por respeito às pessoas que estavam compartilhando suas histórias quanto por um desejo de não chamar ainda mais atenção para muita desinformação. Sempre tentei ser uma pessoa reservada e sentia cada vez mais que as mídias sociais eram o lugar errado para falar sobre assuntos pessoais importantes. Agora cheguei ao ponto em que sinto que devo dizer algo.
Ao ler esta última coleção de relatos, há momentos que reconheço pela metade e momentos que não, descrições de coisas que aconteceram ao lado de coisas que enfaticamente não aconteceram. Estou longe de ser uma pessoa perfeita, mas nunca me envolvi em atividade sexual não consensual com ninguém. Nunca.
Voltei a ler as mensagens que troquei com as mulheres envolvidas e depois das ocasiões que foram posteriormente relatadas como sendo abusivas. Essas mensagens são lidas agora como eram quando as recebi – de duas pessoas desfrutando de relacionamentos sexuais totalmente consensuais e querendo se ver novamente. Na época em que eu estava nesses relacionamentos, eles pareciam positivos e felizes de ambos os lados.
E também percebo, olhando para eles, anos depois, que eu poderia e deveria ter feito muito melhor. Eu estava emocionalmente indisponível enquanto estava sexualmente disponível, focado em mim mesmo e não tão atencioso quanto eu poderia ou deveria ter sido. Eu era obviamente descuidado com os corações e sentimentos das pessoas, e isso é algo que eu realmente, profundamente me arrependo. Foi egoísmo da minha parte. Eu estava preso na minha própria história e ignorei a de outras pessoas.
Passei alguns meses refletindo profundamente sobre quem eu era e como fiz as pessoas se sentirem.
Como a maioria de nós, estou aprendendo e tentando fazer o trabalho necessário, e sei que esse não é um processo da noite para o dia. Espero que, com a ajuda de pessoas boas, eu continue a crescer. Entendo que nem todos vão acreditar em mim ou mesmo se importar com o que eu digo, mas farei o trabalho de qualquer maneira, para mim, minha família e as pessoas que amo. Farei o meu melhor para merecer a confiança deles, assim como a confiança dos meus leitores.
Ao mesmo tempo, ao refletir sobre meu passado – e ao rever tudo o que realmente aconteceu em oposição ao que está sendo alegado – não aceito que tenha havido qualquer abuso. Para repetir, nunca me envolvi em atividade sexual não consensual com ninguém.
Algumas das histórias horríveis que estão sendo contadas agora simplesmente nunca aconteceram, enquanto outras foram tão distorcidas do que realmente aconteceu que não têm relação com a realidade. Estou preparado para assumir a responsabilidade por quaisquer erros que cometi. Não estou disposto a virar as costas para a verdade, e não posso aceitar ser descrito como alguém que não sou, e não posso e não vou admitir ter feito coisas que não fiz.