Desde o impeachment da Dilma, pelo menos, os usuários das redes sociais no Brasil têm se mostrado bastante interessados em temas políticos. Interesse que, com a liberdade da internet, trouxe para a discussão termos como “corrupção”, “teoria da conspiração”, “esquerda”, “direita”, “socialismo”, “globalização”, “comunismo”, “globalismo” e outros que dão ao internauta a sensação de entendimento da conjuntura geopolítica.
Porém, os debates são frequentemente infrutíferos, dada a superficialidade com a qual os envolvidos tratam os temas. Mas são discussões acaloradas, porque as pessoas percebem a importância do intercâmbio de ideias. No rol das palavras-chave dos bate-bocas, o termo globalismo aparece com frequência — e por isso é também alvo de confusão.
No livro Os fundamentos do Globalismo, As origens da ideia que domina o mundo (prefaciado pelo ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo), André Assi Barreto lança luz sobre o tema, entregando ao leitor os conceitos fundamentais para o entendimento da dinâmica desse “processo político”. André é professor de filosofia nas redes pública e privada de São Paulo, e atua como editor, tradutor, palestrante e revisor. E também é autor de Entre a ordem e o caos: compreendendo Jordan Peterson (2021), e coautor de Saul Alinsky e a anatomia do mal (no prelo).
Globalismo não é ‘teoria da conspiração’
André esclarece que o assunto em questão frequentemente aparece de maneira desacreditada na mídia, sendo tratado como “teoria da conspiração”, digno da credibilidade dos relatos dos terraplanistas. O autor critica a forma como a grande mídia apresenta o tema.
Um dos principais motivos do meu interesse por assuntos de geopolítica é o fato de a cobertura midiática dessas questões ser, primeiro, extremamente ruim e, em um segundo momento, ideologicamente enviesada
O primeiro erro é confundir globalismo com globalização. No livro, André, explica que “o globalismo é a ideologia que preconiza a construção de um aparato burocrático de alcance global, centralizador e pouco transparente — capaz de controlar, gerir e guiar os fluxos espontâneos da globalização de acordo com certos projetos de poder”.
Já a globalização é um “processo particularmente econômico, ela diz respeito à capacidade de existir uma empresa americana que produz na China, cujos produtos chegam de maneira acessível no Brasil, por exemplo. Isso é globalização e é, no geral, em uma primeira camada, algo bom, positivo. Assim, globalização é um processo econômico, globalismo é um processo político”.
André explica ainda que a relação entre ambos os termos está no fato de que o globalismo “é a tentativa de instrumentalização político-ideológica da globalização. Isso com a finalidade de promover uma transferência de eixo de poder das nações”. Ou seja, a ideia é fazer com que as nações submetam-se a um governo central, a um corpo burocrático que faz vistas grossas às particularidades de cada povo. É o erro das “soluções globais para problemas locais”. O autor critica essa elite burocrática.
É uma elite burocrática que se reporta a si mesma, sem se importar com o que a nação pensa ou considera mais importante
O principal problema é a incompatibilidade das propostas globalistas com a estrutura jurídica, legal das nações independentes. Porque “isso subverte o princípio básico da democracia representativa, em que os indivíduos eleitos diretamente pelo povo tomam as melhores decisões em benefício desse mesmo povo”.
Quem é o ‘pai’ do globalismo?
O subtítulo do livro é As origens da ideia que domina o mundo, isso porque André apresenta um panorama histórico no qual surge o primeiro intelectual moderno interessado no “paraíso terreno” sem fronteiras: Immanuel Kant.
O autor explica que o filósofo alemão foi um expoente do Iluminismo, movimento que introduziu a ideia de que a razão humana está acima de tudo; a dimensão espiritual (metafísica) do homem, portanto, é desprezada. A burocracia é “racional”, e ela precisa que os “cidadãos do mundo” usem a razão de maneira autônoma e “sintonizada” de modo correto com vistas à “Paz Perpétua”.
Barreto explica que “o texto A Paz Perpétua, de Kant, pode ser considerado o texto fundador do globalismo, pois é onde as ideias de uma república universal composta de membros racionais é exaltada como pináculo da História”. O livro de André Assi Barreto traz ainda muitas outras explicações lúcidas sobre os instrumentos políticos que, em última análise, querem suprimir as individualidades em prol de uma administração global.
No mundo idealizado pelos globalistas não há espaço para a religião, para a arte ou para as manifestações autênticas das alegrias e tristezas da condição humana: os burocratas tomaram o lugar de Deus.
A filosofia, os jornalistas, artistas, advogados, professores, cientistas sociais, …, antes necessitariam preparar o solo, adquirir insumos, sementes, plantar, cuidar, colher e comercializar, sustentando a si e aos seus com os recursos daí advindos.
Após os pés no chão, se capazes ainda, aí sim: poderiam sugerir suas ideações à todos nós, porém, dando o exemplo, começando por eles, por suas bolhas, naturalmente.
Globalismo e Agenda Verde, o futuro que devemos combater.