O documentário Órfãos do Imperador, produzido pelo jornalista Thiago Lopes Alonso como seu trabalho de conclusão de curso na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), explora o movimento monarquista no Brasil mais de um século depois da proclamação da República, ocorrida em 1889.
Em sua pesquisa, Alonso buscou compreender as motivações dos monarquistas contemporâneos, suas estratégias de atuação e a recepção dessa ideologia na sociedade brasileira.
“O objetivo do documentário é dar voz a esses grupos e entender suas reivindicações, ao mesmo tempo em que contrapomos suas ideias com análises históricas e acadêmicas”, explica o autor.
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O documentário foi selecionado para a etapa inicial do Lift-Off Film Festival, mostra internacional dedicada a cineastas independentes. “É uma conquista enorme, algo que eu jamais imaginaria”, disse Alonso.
O jornalista conta que o projeto foi idealizado como uma oportunidade de produzir algo que pudesse abrir portas em sua carreira. “Queria uma coisa que fosse além da faculdade”, contou a Oeste. “Queria fazer uma coisa que me alce pra novos ares.”
Com orientação da docente Eliani Covem, Alonso começou a pesquisa e produção do documentário em fevereiro de 2024. O trabalho contou com entrevistas presenciais, pesquisas sobre movimentos monarquistas e contatos com membros da família imperial brasileira.
O caminho até os monarquistas não foi direto. A princípio, Alonso queria explorar temas políticos, dada a proximidade de Goiânia com Brasília. No entanto, percebeu que pautas como impeachment, Lula e Bolsonaro já estavam saturadas. “Tudo muito repetitivo”, explicou.
Foi então que, em uma pesquisa mais aprofundada, encontrou os monarquistas e ficou surpreso com sua organização. “Eles não são um grupo, eles são círculos monárquicos“, explica. “Por exemplo, Goiânia tem um círculo monárquico, Alexânia tem um círculo monárquico. Isso me surpreendeu muito.”
A produção do documentário esbarrou na falta de estudos acadêmicos sobre monarquistas contemporâneos e no receio dos próprios integrantes em se expor. “Consegui várias pessoas aqui em Goiânia, mas todas diziam que tinham vergonha de falar”, disse.
Quem faz parte do movimento monarquista
Diferente do que muitos imaginam, os monarquistas não formam um grupo homogêneo e suas razões para apoiar a restauração do regime variam. O documentário destaca que há desde saudosistas da família imperial até defensores da monarquia parlamentarista como um modelo de governo mais estável e menos suscetível à corrupção.
O estudo defende que uma parcela significativa dos monarquistas se baseia em um ideal de ordem e progresso associado ao Segundo Reinado de Dom Pedro II, período que antecedeu a República no Brasil.
De acordo com Alonso, “eles falam que o presidencialismo sempre traz polarização, e que uma figura central, que passa por gerações, criaria estabilidade”. Além disso, há uma forte idealização da monarquia. “Uma pessoa me disse que gostava da monarquia porque achava sofisticado.”
![Dom Bertrand de Orléans e Bragança, chefe da Casa Imperial | Foto: Thiago Alonso/Divulgação](https://medias.revistaoeste.com/wp-content/uploads/2025/02/Still-2.jpg)
Além do aspecto histórico, o documentário também analisa como as redes sociais desempenham um papel fundamental na disseminação da ideologia monárquica no Brasil atual. Influenciadores e páginas especializadas têm promovido discussões sobre o tema.
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Ainda que integrem um grupo pequeno, os monarquistas se destacam pelo alto nível de engajamento nas redes sociais. “Onde tem alguma chaminha pra eles comentarem, eles vão e comentam muito”, destaca Alonso.
Em 21 de abril de 1993, foi realizado um plebiscito que demandava escolher monarquia ou república e parlamentarismo ou presidencialismo. Essa consulta consolidou a forma e o sistema de governo atuais. Ainda que derrotados, os monarquistas conseguiram um expressivo porcentual de votos.
Os desafios da restauração monárquica
Embora os monarquistas defendam que a volta da monarquia traria benefícios para o Brasil, o documentário expõe as dificuldades concretas dessa ideia. Entre os desafios expostos, está o fato de que a Constituição de 1988 não prevê a possibilidade de restaurar a monarquia sem uma ampla reforma constitucional.
Outro fator abordado na produção é a fragmentação do próprio movimento monarquista. Existem divergências internas sobre qual modelo deveria ser adotado caso a monarquia fosse restaurada.
Enquanto alguns defendem uma monarquia parlamentarista nos moldes britânicos, outros acreditam que a família imperial brasileira deveria exercer um papel mais ativo no governo, o que gera debates dentro do próprio movimento.
![Thiago Alonso estudou o movimento monarquista | Foto: PUC-GO/Divulgação](https://medias.revistaoeste.com/wp-content/uploads/2025/02/WhatsApp-Image-2025-01-22-at-12.31.06-1.jpeg)
Alonso pondera que entender os defensores da monarquia é fundamental. “Eles são grupos minoritários, mas onde eles estão, são muito engajados”, reconhece. “É importante a gente discutir e tentar entender por que está acontecendo isso, porque essas pessoas estão em 2025 falando sobre.”
Ainda em circuito de festivais, Órfãos do Imperador já provoca reações opostas. “Os monarquistas adoraram, mas eles só viram o trailer“, disse Alonso. “Quando virem o documentário, vão parar de amar.”
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