A rotina do advogado Iddo (Yehuda Levi) e da editora Ellie (Rotem Sela) poderia ser uma eterna lua de mel, não fosse uma questão: ela não consegue engravidar. A série Um Corpo que Gera, da Netflix, tem início com a última tentativa do casal em realizar seu sonho, antes de praticamente desistir.
Entra na trama, então, a dedicada Chen (Gal Malka), que se desdobra entre o trabalho de telemarketing e os cuidados com o filho. O pai dele, Yaniv (Itay Turgeman), apesar da pose, pouco faz pelo menino.
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O destino coloca o casal em contato com Chen. Ela, em meio a problemas financeiros, aceita a ideia de receber o material genético dos dois e realizar uma gestação solidária, termo que, no enredo, prevalece sobre barriga de aluguel.
Muitos conflitos emergem a partir do medo de Ellie, cujo rosto lembra o de Carolina Dieckmann, de encarar o desafio. A própria identidade dela se torna mesquinha e egoísta em determinadas situações.
Ela busca na relação com o famoso e arrogante cineasta Tomer (Lior Raz, o mesmo de Fauda) uma maneira de extravasar as frustrações. Ambos trabalham na publicação de um livro de Tomer, um diretor de sucesso, mas um escritor medíocre.
A vida moderna em Israel é apresentada, para além da guerra, mas na busca de um sentido, nos dilemas dos personagens. Nas praças arborizadas, nas ruas cheias de vida, na qualidade do atendimento dos médicos. O diretor da série, Shay Capon, teve a sensibilidade de mostrar várias facetas de cada um deles, em cada etapa da história.
Música de Rotem Cohen
A produção cultural israelense tem transitado com profundidade por estes temas. Tem apresentado muitas das questões humanas, em um ritmo dinâmico e sedutor. Esta característica também está presente na música, por meio de intérpretes como Rotem Cohen.
Em uma de suas composições, a letra traz muitas das questões vividas na série, apesar de não fazer parte da trilha. “Não diga que tentamos de tudo e você já teve o suficiente. Em horas de dor. Não diga que o sol não aquece mais quando você está com frio. Jogos do coração. Lute por mim, o amor não nasceu para acalmar. Todos sentem um pouco de dor. Ninguém jamais morreu sem suar um pouco. Me dê um pouco de você.”
O título da música, Me dê um pouco de você, se encaixa à relação dos protagonistas e de tantos outros casais. Em mais uma demonstração do alto nível da dramaturgia israelense, que, como a de outros países, passou a ser mais conhecida por meio do streaming. Vale a pena assistir à série. E, claro, ouvir a música.