O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidirá nesta quarta-feira, 17, se mantém ou eleva a taxa básica de juros, a Selic. A recente valorização do dólar e o impacto da seca nos preços de energia e alimentos geraram incerteza sobre um possível aumento da Selic, algo que não ocorre há mais de dois anos.
No comunicado da última reunião, em julho, o Copom destacou a necessidade de cautela diante do cenário econômico nacional e internacional. De acordo com o boletim Focus, que coleta previsões de analistas de mercado, a expectativa é de um aumento de 0,25 ponto porcentual na Selic, encerrando 2024 em 11,25% ao ano.
Além do Brasil, os Estados Unidos também têm uma decisão de juros marcada para esta quarta-feira. Enquanto no Brasil se espera um aumento da Selic, a expectativa é que o Federal Reserve (Fed) norte-americano inicie uma redução dos juros.
A política fiscal brasileira continua em xeque, com crescente preocupação do mercado sobre o rumo das contas públicas, refletida na forte valorização do dólar. A moeda norte-americana subiu de R$ 4,85 em janeiro para R$ 5,74 em agosto, recuando para R$ 5,50 nesta semana.
Além disso, o Banco Central passa por uma transição, com a indicação de Gabriel Galípolo para a presidência depois de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao atual presidente, Roberto Campos Neto.
Embora Galípolo não tenha mostrado leniência com a inflação enquanto diretor, o mercado tem dúvidas sobre sua postura ao assumir a presidência.
Previsões de economistas para a reunião do Banco Central
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Investimentos, previu que o Fed cortará os juros em 0,25 ponto, enquanto o BC brasileiro aumentará a Selic em 0,25 ponto, de 10,5% para 10,75% ao ano.
Ele observou que, nos EUA, os dados de emprego medidos pelo payroll ficaram abaixo das expectativas, enquanto no Brasil o PIB surpreende para cima, a taxa de desemprego está no nível mais baixo em dez anos e a inflação ronda o teto da meta, mesmo com a pequena deflação de agosto.
Segundo a Suno, o Fed deve realizar mais dois cortes de 0,25 ponto nas reuniões de novembro e dezembro, levando os juros para o intervalo entre 4,50% e 4,75% ao ano. Já no Brasil, esperam-se aumentos de 0,25 ponto nas próximas reuniões, encerrando 2024 com a Selic em 11,25% ao ano.
Para 2025, a previsão é que a Selic continue subindo até o final do primeiro trimestre, alcançando 11,75% ao ano. O IBGE relatou uma leve deflação de 0,02% em agosto, mas a inflação acumulada em 12 meses é de 4,24%, acima da meta de 3%.
Com a seca afetando várias regiões do país e a bandeira vermelha de energia acionada em setembro, há o risco de novos aumentos nos preços de energia e alimentos, o que poderia colocar até o teto da meta de 4,5% sob risco.
Andreia Ângelo, economista da Warren Investimentos, ressalta que a inflação pode ultrapassar o teto, obrigando o BC a justificar ao Ministério da Fazenda.
Governo Lula deve criticar aumento da Selic
De acordo com o boletim Focus, o mercado espera que o IPCA fique em 4,34% neste ano, 3,95% em 2025 e 3,61% em 2026. Andreia Ângelo explica que uma economia aquecida e inflação alta aumentam o risco de a inflação se espalhar.
Um provável aumento de juros deve renovar as críticas do governo federal e do Partido dos Trabalhadores em relação ao Banco Central. A dúvida é se os ataques passarão a ter como alvo Galípolo, indicado por Lula para o posto. Ele ainda precisará ser sabatinado pelo Senado, o que deve ocorrer no início de outubro.
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