O LTS Investments, controlado pelo trio de acionistas majoritários da Americanas, divulgou nota para rebater declarações do ex-presidente Miguel Gutierrez e mencionou uma “fraude ardilosa” da antiga diretoria, da qual Gutierrez fazia parte.
Em carta endereçada à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a varejista e concluiu os trabalhos na segunda-feira 4 sem nenhum indiciamento, Gutierrez — acusado pela Americanas de fazer parte da fraude de R$ 40 bilhões — afirmou que o trio participava ativamente do cotidiano da companhia, especialmente na área financeira.
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Entretanto, para Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, as declarações “não trazem qualquer prova de suas alegações nem refutam evidências de sua participação na fraude”. Os sócios destacam que as acusações foram feitas “quase oito meses depois da divulgação do fato relevante que informava as inconsistências contábeis”, em 11 de janeiro.
Em 13 de junho, a Americanas divulgou fato relevante em que reconhecia a fraude e atribuía a responsabilidade à diretoria anterior. Agora, na nota, Lemann, Telles e Sicupira afirmam que “todos os acionistas da Americanas foram enganados por uma fraude ardilosa cujos malfeitores serão responsabilizados pelas autoridades competentes”.
Americanas reitera acusação contra ex-presidente
A Americanas também rebateu Gutierrez. Ao “refutar veementemente” as alegações do ex-presidente, a varejista disse que ele “não contestou em nenhum momento os documentos e fatos apresentados à comissão no dia 13 de junho, que demonstram a sua participação na fraude”.
A companhia também reiterou que “as demonstrações financeiras vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas, capitaneada pelo senhor Miguel Gutierrez”. Ao finalizar a nota, a varejista afirma que “é a maior interessada no esclarecimento dos fatos e irá responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”.
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Na CPI da Americanas, o atual presidente da companhia, Leonardo Coelho Pereira, reafirmou as conclusões do relatório que incriminavam a antiga diretoria.
O que o ex-presidente da Americanas afirmou à CPI
Em carta encaminhada à CPI, Gutierrez afirmou que a participação dos acionistas se dava por meio da presença dos controladores ou de pessoas ligadas a eles no Conselho de Administração ou no comitê financeiro e por meio do fundo LTS Investments.
Segundo ele, membros do conselho de administração, do comitê financeiro e do comitê de auditoria, além de funcionários da LTS, ainda que não tivessem cargos oficiais na companhia, conversavam de forma direta e frequente com o diretor financeiro da companhia.
“Posso dizer com segurança que absolutamente tudo o que eu sabia o Conselho de Administração também sabia — sendo certo que, em função da intensa penetração de alguns membros do conselho nos negócios e atividades da companhia, o inverso seguramente não é verdadeiro”, escreveu Gutierrez, que afirmou sempre ter se reportado diretamente a Sicupira.
Ex-presidente nega participação em fraude
Acerca do relatório interno da Americanas, que acusou toda a diretoria anterior de fraude, Gutierrez afirma que a empresa lhe negou acesso ao documento e que “os subscritores do relatório não têm a independência necessária para realizar nenhuma análise sobre responsabilidades pelo que ocorreu na Americanas”, porque foi feito pelo escritório de advocacia que representa há décadas os controladores da companhia.
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“A acusação contra mim formulada pela Americanas, além de falsa, é claramente enviesada, produzida com o objetivo de induzir o mercado e as autoridades investigativas a erro”, escreveu.
Ao finalizar a carta, ele classificou como “manobra” o relatório da Americanas. “Confio, assim, que esta CPI não se deixará enganar por esta clara manobra da Americanas para proteger seus acionistas controladores”.