A entrada de recursos estrangeiros que ajudaram a impulsionar os ativos do Brasil cessou no início do ano. Isso porque os residentes têm feito saques líquidos na Bolsa de Valores (B3) e, com isso, elevado a posição comprada em dólar. A tendência atual do mercado é adotar expectativas mais conservadoras para a política monetária dos Estados Unidos.
De acordo com a revista Valor Econômico, o cenário interno, com incertezas fiscais e a apresentação de uma política industrial recebida com hesitação pelos agentes econômicos, exige cautela.
Retirada bilionária da Bolsa de Valores
De acordo com dados recentes publicados pela B3, no acumulado do ano até a última segunda-feira 22, os não residentes do país retiraram da Bolsa R$ 4,95 bilhões. Apenas na sexta-feira 19, o saque líquido foi de R$ 3,45 bilhões — o maior valor para um único dia desde fevereiro de 2021.
Gustavo Medeiros, chefe de pesquisa da gestora do Reino Unido Ashmore, diz que o aumento de apostas na valorização do dólar é parte de um movimento técnico. Segundo ele, já havia uma quantidade expressiva de agentes comprados em real, e com a alta recente da moeda norte-americana, grande parte desse fluxo tem pouca predisposição a esperar a moeda depreciar — para depois apreciar novamente.
Movimento sentido nos países emergentes
Ainda de acordo com o executivo, esse movimento negativo dos últimos dias também foi sentido em países emergentes. Medeiros diz que “o rendimento dos Treasuries subiu porque membros do Fed (Federal Reserve, o “banco central” dos Estados Unidos) fizeram discursos mais “hawkish” (movimento favorável ao aperto monetário) e dados econômicos vieram mais fortes do que se esperava”.
No fim de 2023, ainda de acordo com a revista supracitada, agentes financeiros apostavam majoritariamente que o início do ciclo de cortes do Fed seria já em março, e que seriam registradas entre seis e sete reduções de 0,25 ponto nos juros na Bolsa de Valores ao longo do ano.
Porém, na semana passada, o cenário de início de ciclo apenas em maio já passou a ser precificado como o mais provável e a expectativa principal passou a ser de cinco ou seis cortes este ano. Tal cenário fez com que os juros norte-americanos em níveis elevados por mais tempo afastassem os investidores advindos de mercados emergentes.