O microempresário Leonardo Gomes e seu sócio enfrentam, desde 2019, uma dívida crescente iniciada com um empréstimo de R$ 30 mil e agravada pela taxa básica de juros de 13,75% ao ano. A dívida inicial, que se arrastou por três anos, saltou para R$ 90 mil com a inadimplência.
Com a inadimplência, a loja Caixote Móveis fechou as portas em julho, mas segue operando para quitar as dívidas, que incluem ex-funcionários, fornecedores, aluguel, impostos e serviços básicos, totalizando R$ 70 mil adicionais.
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Em junho, cerca de 6,5 milhões de micro e pequenas empresas estavam com dívidas negativadas, um aumento de 300 mil negócios em comparação ao mesmo mês de 2023. O valor total das dívidas chegou a R$ 125,7 bilhões, o mais alto desde o início da série histórica em 2016. Esses dados são do Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian, obtidos pelo jornal Folha de S.Paulo.
O setor de serviços é o mais afetado, representando 55,8% das empresas inadimplentes, seguido pelo comércio (35,7%), indústria (7,4%), setor primário (0,8%) e outros (0,4%). Os principais credores são bancos, empresas de cartão de crédito e fornecedores de serviços básicos como água, luz e gás.
Segundo o economista da Serasa Experian, Luís Rabi, três fatores principais explicam a situação das micro e pequenas empresas:
- Inadimplência dos consumidores
- Fraco crescimento econômico
- Alta taxa de juros.
Ele destaca a dificuldade dos pequenos empresários para refinanciar ou renegociar dívidas, o que agrava a inadimplência. “É importante tentar manter essas empresas vivas, para gerarem empregos”, afirmou Rabi. “Evitar o estado de insolvência. A solução é negociar, seja com credores, seja na Justiça.”
Indicador de inadimplência deve melhorar
A Serasa projeta uma melhora no indicador de inadimplência durante o segundo semestre, mesmo sem novas reduções na taxa de juros, devido à queda da inadimplência do consumidor.
Especialistas em falência e recuperação judicial afirmam que não há um parâmetro fixo para determinar quando uma dívida pode levar ao fechamento de uma empresa, pois depende de variáveis como ramo de atividade, capital e bens da empresa. A recomendação é negociar as dívidas rapidamente, antes de entrar em insolvência.
De acordo com o advogado Elias Mubarak Junior, pequenos empresários frequentemente têm menos informações sobre como evitar falências, mas a legislação oferece ferramentas para negociação.
Em maio, o governo federal lançou o programa Desenrola Pequenos Negócios, que até 23 de julho já havia negociado R$ 2,4 bilhões em dívidas, beneficiando mais de 52 mil empresas com 76 mil contratos. O programa está aberto para adesão até 31 de dezembro de 2024.
Leonardo Gomes ainda tem alguns meses para terminar de pagar a renegociação do empréstimo inicial, mas as demais dívidas podem levar de três a quatro anos para serem quitadas.
“Estou refém da dívida”, afirmou. “Meu desafio agora é tentar reduzir o máximo possível o prazo de pagamento e rastejar financeiramente por menos tempo. Assim que conseguir pagar, pretendo fechar.” Gomes, que tinha cinco funcionários, ainda não decidiu se abrirá outra empresa no futuro.