A piora fiscal do Brasil e a política monetária contracionista nos EUA estão fazendo as taxas de juros reais de longo prazo atingirem um patamar médio de 6,30%, o mais alto desde março do ano passado.
O ambiente de incertezas que rodeia as contas públicas do país aumentou de forma exponencial desde o início de junho, quando o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou a medida provisória (MP) do Pis/Cofins a fim de compensar a desoneração da folha de pagamento.
O setor produtivo criticou a medida. Além disso, cobrou propostas de corte de gastos do governo federal. Chefe de renda fixa da BNP Paribas Asset Management, Michael Kusunoki alega que o aumento das taxas se aplica em virtude do momento difícil fiscal e monetário.
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“A parte fiscal já é uma deterioração mais concreta com as mudanças de metas. Começamos a ver algo mais palpável com relação à percepção de risco com as contas públicas”, disse a CNN Brasil. “A política monetária diz respeito ao que pode vir a acontecer no futuro, desde a divisão entre os membros do Copom [na última reunião]. Algo que era mais para frente… a última decisão antecipou essa discussão”, disse. A conclusão é de que o contexto gera um maior prêmio de risco.”
Na última edição do Boletim Focus, o mercado elevou novamente as expectativas de inflação para este ano e o próximo. Conforme Kusonoki, esse é o principal fator que pesa contra a queda da Selic. Assim, a redução de juros deve ser interrompida no patamar de 10,50% por ano, ainda considerado alto.
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Chama a atenção dos economistas os juros reais que saem das Notas do Tesouro Nacional Série B e que podem operar a longo prazo acima dos 6%. “A taxa de juros de uma NTN-B é importante porque representa a taxa de juros real da economia”, avaliou Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners. “Ela, por fim, vai ser o custo de oportunidade de investimento no Brasil. Então quando você olha uma taxa de juros de uma NTN-B acima de 6%, estamos falando que o investimento no Brasil tem de dar um retorno acima de 6% para valer a pena.”
Além dessas questões, a MP fez com que a migração de capital para papéis isentos de tributação aumentasse a concorrência das NRN-Bs a longo prazo. A maior competição faz a demanda por papéis do Tesouro diminuir. Assim, os juros pagos pelos títulos devem subir para aumentar os investidores.
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A mudança no fluxo é um fator importante para compreender a manutenção dos juros reais de longo prazo nos níveis elevados. “Hoje não temos um fluxo de compradores das NTN-Bs”, avaliou Kusunoki. Desfavorece esse ativo.”
Como funciona como um “empréstimo” ao governo, a NTN-B é uma ferramenta importante para a arrecadação. Contudo, com menos fluxo e mais concorrência, são menos pessoas que financiariam a dívida pública.
“Esse próprio patamar que o Tesouro se financia tende a se tornar um problema do ponto de vista fiscal, porque fica mais caro para rolar dívida com essas taxas”, continuou Kusunoki. “Para rolar a dívida do governo, é um nível de taxa não sustentável.”
Em dezembro o atual presidente do Banco Central será substituído por alguém indicado por Lula.
É a tragédia com data marcada.