Está previsto para 8 de julho o primeiro leilão de geração de energia nova de 2021, em que serão vendidas e contratadas energia de usinas que ainda serão construídas. A data vai contemplar dois leilões: A-4 (usinas que entram em operação comercial em até quatro anos) e A-3 (em até três anos). Segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, o leilão de energia nova tem como finalidade atender ao aumento de carga das distribuidoras.
Um evento online que reuniu especialistas do setor de energia na terça-feira 15 teve como objetivo discutir as expectativas sobre os leilões. Segundo a vice-presidente sênior da GE Capital Brasil, Gabriela Dietrich, o leilão deve ser muito competitivo, como nos anos anteriores: “com pouco volume, eventualmente, por parte das distribuidoras, mas muita demanda, por parte dos geradores. Isso impulsionado por um crescimento do mercado livre, como também pelo fim do incentivo da Tusd [desconto na tarifa de transmissão de novas usinas de fontes incentivadas], o que está ocasionando uma corrida dos geradores para antecipar projetos, antecipar pipeline de implementação anterior a 2025″.
Podem participar dos certames empreendimentos eólicos, fotovoltaicos, hidrelétricos menores que 50 MW e termelétricos a biomassa. Segundo Ricardo Gomes, sócio responsável pela coordenação das áreas de Project Finance e M&A da Daemon Consultoria, o setor de fonte solar bateu recorde histórico de projetos cadastrados. Já os de fonte eólica ficaram abaixo do que ele esperava, “mas faz sentido visto que os desenvolvedores de projetos estão migrando para a fonte solar, que hoje virou o setor ‘queridinho’ dos desenvolvedores”, enquanto os projetos de fontes hídricas mantiveram um número constante, disse o especialista.
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Segundo Júlio Ribeiro, diretor do Grupo Ritmo Energia, a estiagem e um possível racionamento de energia não devem afetar o leilão: “O início do fornecimento deste leilão será somente em 2024, para o A-3, a gente entende que a crise hídrica não terá um impacto nesse preço. O que a gente vê como maior impacto nos preços está na alta do CAPEX [despesas de capitais ou investimentos em bens de capitais], em cima da pressão inflacionária exercida pelo preço das matérias-primas”.
Futuro da energia no Brasil
Os especialistas também discutiram o futuro. De acordo com Vitor Rhein Schirato, sócio do escritório Rhein Schirato Meireles, especializado em ambiente regulatório, e da Daemon Investimentos, “a tendência da geração de energia renovável no Brasil é irreversível”. Para Schirato, o Brasil deve focar e investir no setor nos próximos anos. “Eu não consigo mais enxergar movimento de grandes hidrelétricas, como houve no passado, e como houve numa tentativa recente. Eu acho que os impactos financeiros e ambientais são grandes demais para isso. O Brasil tem um déficit enorme de geração de energia, a gente está vivendo isso hoje, tem a perspectiva de um racionamento no curto prazo, então você tem de aumentar a oferta. E o jeito de aumentar a oferta vai ser, muito provavelmente, com energia renovável.” E ponderou: “Então, se a gente for olhar da perspectiva do gerador, apostar no crescimento da oferta de geração e apostar no crescimento do mercado livre, são visões que me parecem muito adequadas para o curto e médio prazos”.
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