Trabalhadores do setor reclamam de paralisação completa desde o começo da pandemia
Primeiro, foi o Réveillon. Depois, foi a vez da Fórmula 1, da Parada LGBTQ+ e da Marcha para Jesus. Por fim, até mesmo o carnaval já não é mais uma certeza para quem mora em São Paulo.
Isso porque, no mantra do #fiqueemcasa, mesmo com a cidade já na fase amarela do Plano São Paulo do governo do Estado, o prefeito Bruno Covas (PSDB) cancelou todos os eventos da cidade para este ano e para o ano que vem.
“Mas a situação está bem complicada. Hoje a ocupação dos hotéis em São Paulo está em 10%. Muitos fecharam e não vão mais reabrir”
“Entendemos que o principal é acabar com a pandemia”, lamenta o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Ricado Roman. “Mas a situação está bem complicada. Hoje a ocupação dos hotéis em São Paulo está em 10%. Muitos fecharam e não vão mais reabrir”.
A chegada do final do ano era vista pelo setor hoteleiro e, principalmente, pelo de eventos, como um alívio mínimo para as contas, num ano em que trabalhar foi praticamente impossível.
“O último evento que fiz como freelancer foi num camarote do carnaval”, conta o produtor de eventos Renan Vicardi. “Depois disso, a pandemia chegou e simplesmente não consegui mais nenhum trabalho. Tenho sobrevivido do auxílio [emergencial] do governo. Tenho até vergonha de falar isso”. Acostumado a ganhar até R$ 8 mil em um mês mais movimentado na cidade, o produtor agora precisou da ajuda dos pais para manter as contas em dia.
“A situação de impacto econômico no setor e em toda a cadeia de fornecedores é grave”
“Nós fomos o primeiro setor a parar e estamos com 100% das atividades paralisadas desde então”, destaca o presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos, Doremi Caramori Junior. “A situação de impacto econômico no setor e em toda a cadeia de fornecedores é grave”. Segundo ele, são 43 cadeias econômicas interligadas, que sofrem com os cancelamentos.
Os prejuízos do cancelamento de eventos em SP
De acordo com dados do Observatório de Turismo da própria Prefeitura de São Paulo relativos a 2019, a capital paulista perderá nada menos que R$ 3,4 bilhões caso todas as grandes festas deixem de acontecer. O carnaval, sozinho, movimenta R$ 2 bilhões. O Ano Novo, outros R$ 648 milhões. Isso sem contar o trabalho de informais.
A pergunta que fica é: que sentido faz reabrir a economia para alguns e deixar outros de fora?
“O jeito é torcer para que a vacina, seja ela qual for, saia logo”, conforma-se Roman. “Quem sabe assim o prefeito não muda de ideia e libera os eventos que cancelou?”
Infelizmente, pelo que se pôde entender da recalibragem do plano de reabertura econômica do Estado, o retorno dos grandes eventos só será permitido depois da imunização da população.
“Não queria ter pedido o auxílio emergencial, não acho justo ter de pedir para o meu pai pagar meu celular”, conclui Vicardi. “Só que é o que me resta se não quiser ir para o SPC [Serviço de Proteção ao Crédito] enquanto o coronavírus não me deixar trabalhar”. E o governo também.