No dia 11 de outubro de 1996, o Brasil se despediu de um de seus maiores ícones da música. Renato Russo, cantor, compositor e líder da Legião Urbana, partiu, deixando um vazio no cenário musical. Seu nome original é Renato Manfredini Júnior.
Ele morreu no Rio de Janeiro, vítima de complicações da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) aos 36 anos. A notícia causou um impacto no país. Uma legião urbana de fãs se depararam com um desafio: se acostumar com a ausência daquele que cantava as dores e delícias da juventude. E encontrar uma maneira de mantê-lo vivo, de geração em geração.
+ Leia mais notícias de História em Oeste
Renato nasceu em 27 de março de 1960, no Rio de Janeiro. Porém, sua infância foi marcada pela mudança. Aos sete anos, deixou a cidade natal e, depois de três anos de estadia em Nova York, em função do trabalho do pai, fixou-se em Brasília aos 10 anos.
A nova capital, em construção, seria o palco de sua trajetória. Na cidade de curvas criativas, a criatividade de Renato, ainda Manfredini, se encontrou com a de Fê Lemos, jovem que conhecera o punk rock em Londres, onde morou com a família. Lemos retornou ao Brasil e, em 1978, ele se uniu a Renato para criar a banda Aborto Elétrico.
A sonoridade, um misto de punk e rock, refletia a efervescência de uma juventude sedenta por transformações. Alguns desentendimentos juvenis com Lemos fizeram a banda se desfazer. Lemos então, participou da criação do Capital Inicial, outra banda de Brasília.
Enfim, o Legião
Então, Dado Villa-Lobos, que já era guitarrista, e Marcelo Bonfá, baterista, se aproximaram de Renato depois da dissolução da banda Aborto Elétrico. Todos eles frequentavam a mesma cena musical, muito mais fértil do que abortiva.
Juntos, eles começaram a ensaiar e compor novas músicas, o que levou à criação do grupo Legião Urbana.
O termo Legião Urbana homenageia a frase em latim Urbana Legio Omnia Vincit, que se traduz como “Legião Urbana a tudo vence”. A expressão é referente à do imperador romano Júlio César. Ele dizia Romana Legio Omnia Vincit, que significa “Legionários Romanos a tudo vencem”.
O tecladista Renato Ladeira se juntou à banda um pouco depois, completando a formação clássica.
Com o Legião Urbana, Renato encontrou seu lugar. Adotou o nome “Russo” para dar uma maior sonoridade e, segundo seu amigo Herbert Vianna, do Paralamas do Sucesso, em homenagem ao filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), cujas ideias Renato admirava.
Entre 1982 e 1996, Renato Russo gravou, no Legião, nove discos que se tornaram trilhas sonoras de gerações.
Suas letras ressoavam como gritos de uma juventude inquieta. Mas, em vez de dissonantes, evocavam a rebeldia com melodias harmoniosas, arranjos impactantes, perfeição estética.
Músicas como Tempo perdido, Será, Há tempos, Eduardo e Mônica e Faroeste Caboclo descreviam contextos e narravam histórias, trazendo à tona questões sociais e existenciais.
Para muitos, a Legião Urbana transcendeu a música. Era quase uma religião. O status de Religião Urbana que alguns fãs atribuíam à banda era, na verdade, uma demonstração da força de suas letras.
Renato, com sua humildade, sempre se esquivou desse culto, reafirmando seu papel como artista, não como salvador. Ele era um poeta de seu tempo. Tornou-se também nome de espaço cultural, em Brasília.
A arte de Renato Russo não se limitou à banda. Lançou trabalhos solo, como Equilíbrio Distante, de onde emergiram sua versatilidade e sensibilidade. Neste disco, com seu timbre grave, mas aberto a variações surpreendentes, ele interpretou clássicos italianos,
Deu uma versão masculina, e não menos sensível, a consagradas músicas cantadas por Laura Pausini, entre outras.
Mesmo depois de sua morte, suas canções permanecem na mente daqueles que viveram aquela época e dos que vieram depois. Um equilíbrio distante, capaz de aproximar duas eras.
Aquelas músicas dos tempos do Legião continuam atuais, ao denunciarem o egoísmo, a hipocrisia e valorizarem as relações verdadeiras. Na voz de Renato, prosseguem tocando corações e gerando reflexão. Principalmente para aqueles que buscam um sentido na vida. Ou que se enchem de saudade e emoção ao ouvirem Strani Amore enquanto escrevem esse relato. Quem não?